Na introdução (p. 11) temos António Ferro como cimentador do Portugal retardado e atávico do séc. XX. Logo à entrada do primeiro capítulo (p.15) temos que Portugal no fim do séc. XIX é um país muito atrasado. Intriga-me está lógica de que vindo «muito atrasado» do séc. anterior, o biografado cimente o Portugal retardado do séc. seguinte.
Em meras 4 páginas…
A propaganda tem coisas!…
Ainda na introdução (p. 13) «usando e abusando do poder que lhe foi concedido, Ferro sentou à mesa do orçamento intelectuais e artistas, arquitectando com eles a figura de um ditador messiânico num país pobre que dança o vira e o fandango.»
O trecho é um primor de inspiração literária e lapidar no estilo usado ad nauseam pelo morigerado jornalismo hodierno para qualificar a… democracia de Abril. Tire o A. dele «um ditador» e ponha-lhe «uma democracia», mude o vira e o fandango em festivais de cerveja e rockalhada e, a mesa do orçamento aparecer-lhe-á messianicamente muito mais justa! E o país pobre prestar-se-á como nunca ao epíteto de pobre país! — Se o conseguir entender…
Ao menos o vira e o fandango são nossos.
Mais um livro, enfim, sem fio (colagem de verbetes avulsos com capa de cartolina) com fito apenas de desfazer do Estado Novo. O regime tem tanto de odiado como de ganha-pão para todo o antifascistóide que vegeta democraticamente por aí. Não fosse a parasitice interesseira, não pareceria que quarenta e tantos anos depois o sempre ciciado «fassismo» ainda surgisse tão papão, tão papão que metesse medo. Papões, bem se os topa... — Não diziam cantigueiros, dos outros: «eles comem tudo»?!... Da «Joana come a papa» foram eles que ensinaram melhor. Daqui aos papões foi um trago.
O volume, que me ofereceram de muito boa fé, foi arrematado por 1€ na Feira da Ladra. Uma inconfidência de verdadeiro valor. Ou a prova da barateza da intrujice nos tempos que correm!… O A. de mais esta maledicência indispensável sobre o Estado Novo é apresentado ao leitor incauto com dois grandes qualificativos acima de toda a suspeita: «investigador» e «independente». Duas marcas ISO 9000 de qualidade e acreditação de qualquer pregador antifascista, mai-la sua rica propaganda.
Haverá mais suculento cartão de visita?
— Sim! — Diz que de profissão é jornalista.
Mais: entre pares desta estirpe, este A. é quem se mais tem dedicado «à pesquisa dos aspectos mais sombrios do Estado Novo.» Ora «sombrios» anuncia com alva pureza o que vem. Ninguém cairá na ingenuidade de tomar «sombrio» pelo que se quede singelamente na sombra, desconhecido, e portanto seja pertinente revelar; «sombrio» é claramente antes desdizer com baixeza do que se até já conhecia bem melhor contado, mas que se quere agitar por maldizente propaganda como tenebroso. Qualificar com este lugar-comum o Estado Novo é necessário, mormente quanto os mesteirais de Abril afloram mais e mais estridentes ano a ano, mais e mais impantes dia-a-dia no seu mester de rapina. É preciso ir berrando mais alto para o abafar. Daí o afã crescente em denegrir o Estado Novo. Somente que, denegrir o Estado Novo pela maledicência sobre António Ferro (ou outro que fosse) e ganhar a vida com ele, marca o rasteiro que se pode ser. E bate certo: ficamos informados do cariz do A. e do seu propósito. Dispensamos a leitura.
P.S.. O vir aquela virtuosa apresentação do A. jornalista, «investigador independente» chapada na badana de trás do livro é que se não compreende. Como cartão de visita, qualquer badana, sobretudo a traseira, não me cheira que abone. Que descuido!...
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