Li e gostei. Dei notícia dêle há tempo, penhorado. Tornei a dar quando ia por êle na parte da Christine Garnier. Em no acabando transcrevi para cá um passo ilustrativo em jeito de apresentação final.
Pois bem, li e gostei. Mas ao lê-lo parti-lhe a lombada, e disso não gostei. Vai daí mandei-o ao encadernador dourador.
Ainda as avenidas, agora, quiçá no ano dos centenários. Para cá e para lá, a vêr dum benévolo leitor que queira dizer o sítio.
Recolha de correio, Lisboa, [1940].
A. n/ id. in Fundação Portuguesa das Comunicações.
Linha de Guimarães, Senhora da Hora, 1974.
Jorge Woods, in Flickr.
Sucursal do «Diario de Noticias» no Rossio, Lisboa, c. 1938.
Horácio Novais, in bibliotheca d’ Arte da F.C.G.
Comigo, foi em 1975.
A imagem é do respectivo livro.
(Publicado originalmente às 9h14 da noite de 20 de Março de 2006.)
Por que é a Avenida da República da República e como não houve a Avenida Cinco de Outubro de sêr do Cinco de Outubro?
É das tais cousas…
Em quanto à Avenida da República, foi logo em 6 de Outubro de 1910 — o dia loguinho a seguir à proclamação da república — que, em sessão ordinária (isso mesmo!) da câmara, foi deliberado que as avenidas Ressano Garcia e António Maria de Avellar haveriam de sêr crismadas Avenida da Republica e Avenida Cinco d' Outubro (normando e orthographia conforme o edital). Facto indesmentível é que os republicanos do Cinco de Outubro, novos senhores da situação, foram lestos em apresentar obra: dum dia para o outro, de gargarejo (a deliberação da câmara); ao cabo dum mês, vertida em papel (o edital).
Ei-lo aí com friso de moldura e tudo.
Bom! De obras feitas dum dia para o outro êle é como vêdes: na república, a avenida da dita apareceu logo, logo dum dia para o outro (é outra das tais coisas; ainda com a ponte do 25 de Abril e com o aeroporto do grande demitidor o vistes…) Mas, bem que rápidos nêstes melhoramentos de gargarejo, os homens da I.ª República encalharam na engenharia das coisas; aquela se estriba na realidade. E a Av. da República, rasgada dum dia para o outro com o mesmo encalhanço que tinha na Monarchia — o atêrro da linha de cintura em Entre Campos que lhe cortava a faixa central em duas — não desencalhou disso senão bem adeantada a II.ª República. Podeis vêr a ironia: demitidos que foram (meramente da toponímia) os engenheiros Ressano Garcia e Ant.º M.ª de Avellar e, de melhoramentos do 5 de Outubro nessas avenidas novas, donde quere que olhemos, êles ficaram pelo edital da câmara.
Viaducto ferroviário cortando a Av. da República (vista Norte-Sul), Lisboa, 1944.
Eduardo Portugal, in archivo photographico da C.M.L.
Viaducto ferroviário cortando a Av. da República (vista Sul-Norte), Lisboa, 1944.
Eduardo Portugal, in archivo photographico da C.M.L.
E em quanto à avenida pròpriamente do Cinco de Outubro, com a república também ela, como vistes, apareceu dum dia para outro. Não façamos agora caso de que é avenida sem saída até hoje.
(O edital é da Toponímia.)
Viaducto ferroviário da Av. da República (Sul/Poente), Entre Campos, 1944.
Fototipia animada de um original de Eduardo Portugal, in archivo photographico da C.M.L.
Pois bem! Tinha-me eu referido às passagensinhas sôb a linha de cintura em Entre Campos. Em cima as da Avenida da República, com uma em arco à margem da rua lateral poente dessa avenida. Aventei ontem a hipótese de se dever a sua excentricicidade ao eixo das avenidas da República e do Cinco de Outubro a serem elas reminiscências de caminhos rurais anteriores à malha das avenidas novas de Ressano Garcia.
Assim é.
A planta a seguir, de 1902, mostra que eram dois caminhos vindos da Estrada do Rêgo (entre o Campo Pequeno e o Largo do Rêgo) e que atalhavam pelas terras de Francisco Izidoro Vianna até ao tôpo Sul da rua ocidental do Campo Grande; mais ou menos onde começa hoje a Av. das Fôrças Armadas. Não sei se um ou ambos êstes caminhos não seriam conhecidos como a Azinhaga do Ferro.
Frederico Ressano Garcia, Planta da zona de Picoas até ao Campo Grande, que inclui a avenida Ressano Garcia, actual avenida da República, a estrada de Picoas, o matadouro, o largo da Cruz do Taboado, a propriedade da condessa de Camaride, a estrada do Arco do Cego, a avenida Fontes Pereira de Melo, a praça de Touros, a propriedade do conde das Galveias, a estrada de Entrecampos [a estrada do Rêgo e a quinta de Francisco Isidoro Viana] e o mercado Geral de Gados, C.M.L., 1902 (PT/AMLSB/CMLSB/UROB-PU/09/01928), apud Francisco de Matos et al., Do Saldanha ao Campo Grande: os originais do Arquivo Municipal de Lisboa, Lisboa, C.M.L., 1999, pp. 26-27.
(Fototipia animada do original de Eduardo Portugal às 8 da noite.)
Viaducto da Av. do Cinco de Outubro, Lisboa, 1968.
Artur Inácio Bastos, in archivo photographico da C.M.L.
Sôbre o viaductozinho dito de Entre Campos na Av. do Cinco de Outubro, naquela Lisboa das avenidas em 44, disse um benévolo leitor lá que permanecia êle nos anos 70, e da paciência necessária na circulação rodoviária. Não me ocorrera que levasse tanto; tanto mais que a inauguração do viaducto de Entre Campos na Av. da República fôra em 17 de Fevereiro de 1950.
A bem dizer nem me veio à idéia que as terras entre aquelas duas avenidas e o tal viaductozinho meio desviado do eixo da do Cinco de Outubro não houvessem de ser resolvidas na obra de 1950, tal o vício mental de nunca lá ter eu visto em meu tempo senão um viaducto corrido dês do antigo apeadeiro de Entre Campos, a Nascente da Av. da República, até às traseiras do Hospital do Rêgo, a Poente da do Cinco de Outubro. Ainda menos depois de extenderem o apeadeiro em… (hesito aqui nas palavras) interface modal, tôdo séc. XXI, sôbre o mais novíssimo viaducto.
Outra coisa que me não veio à idéia e me ocorre só agora em que penso nêle, é o desvio daquela(as) passagem(ens) sôb a linha de cintura fora do eixo das avenidas — na da República também havia uma passagem desviada para o Poente. E o que conjecturo é que seriam elas do tempo do primitivo atêrro da linha de cintura, de ainda antes do plano das avenidas; logo, conjecturo agora, reminiscências de velhos caminhos que de Lisboa levariam ao Campo Grande integradas na malha das avenidas novas, é o que eram.
Vícios do olhar distraído no dia-a-dia das coisas que se só vencem parando a pensar.
Por pensar agora: no fechar estas linhas em que parei a pensar na longeva e tortuosa passagem sôb a linha de cintura na Av. do Cinco de Outubro ocorre-me ainda outra coisa: o não haver, nem eu conhecer que tenha havido nunca, autocarros na Av. do Cinco de Outubro — mesmo os de 1 piso. — Porque mesmo êles, com certeza nem lhe esvaziando os pneus.
Viaducto de Entre Campos (Av. Cinco de Outubro), Lisboa, 1944.
Eduardo Portugal, in archivo photographico da C.M.L.
A linha de cintura em Entre Campos, antes do moderno viaducto de 1950, cruzava as avenidas Cinco de Outubro e da República num atêrro em que se abriam pequenos viaductos, dois nas laterais da Av. da República e dois na Cinco de Outubro num desviozinho estreito fora do eixo desta avenida. Nesta última um era sôb a própria linha de cintura, o outro, mais a deante, era sôb o ramal que corria dela para o mercado geral dos gados, lá onde veio a ser ao depois a Feira Popular de Lisboa e há anos não é nada.
O viaductozinho desta imagem onde pela calçada vai à fonte uma Lianor das avenidas é êsse mesmo, o [da Cinco de Outubro; mais a deante vê-se a sombra do] do mercado geral dos gados, ao depois Feira Popular.
(Revisto em 14, às 20.)
O reclamo [Chevrolet] visto de dia, vendo-se parte da Pr. D. Pedro IV [i.é, do Rossio], Lisboa, 195…
Horácio Novais, in bibliotheca d'Arte da F.C.G.
Transcrevo na fotografia a legenda do arquivista. Circunscrevo porém a scena a Lisboa, e a data a de Outubro de 56 para cá. Ao depois de bem adeantadas as avenidas novíssímas, bem entendido…
Estendal de roupa, Portugal, [1910-1988].
Estúdio de Horácio Novais, in bibliotheca d' Arte da F.C.G.
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