Se os anjos cantam deve ser assim. E a partitura há-de ser de Bach.
Não me canso de ouvir esta ária. Tôda a cantata. Ainda agora, com este dia escuro e chuvoso…
Há um ano corria ainda a febre louca em que deu êste mundo… Pus-me de parte em Dezembro. O mês tôdo. Desterrei-me na província: Sol sempre radioso, tempo ameno, quis Deus, em Dezembro; pinhal em redor, paz, sossêgo. Na telefonia a emissora 2, companhia habitual a preencher os dias. Uma tardinha, já noite, antes de jantar ou por aí, um encanto: Bach, Mein Herze schwimmt im Blut, cantata BWV 199, Sabine Devieilhe.
Sabine Devieilhe? BWV 199? Que sabia eu dêle?…
De início não dei muita atenção, estava só com a rádio em fundo. Porém aquela voz celestial, a doçura do canto, o melodioso oboé, as pausas, a cadência, tudo… Encantei-me! Tomei nota no fim quando o locutor da rádio repetiu o título e… Passou-se.
Seis meses depois, Junho, mesmo lugar, mesmo sossêgo, mesma companhia da rádio; soa-me outra vez na emissora a mesma cantata de Bach naquela voz celestial com a mesma desatenção inicial. E logo, dando-me conta — qual era a cantata? Qual o nome da soprano?
Sabine Devieille; havia-lhe escrito mal o nome…
Fica a ária n.º 2 completa, a alguém que aprecie. A cantata e tôdo o disco, dádiva do Céu, ouvem-se de graça.
Sabine Devieilhe, Stumme Seufzer, stille Klagen
(João Sebastião Bach — Cantata BWV 199 «Mein Herze schwimmt im Blut»)
Sabine Devieilhe, Raphaël Pichon, Orquestra Pygmalion, Bach e Handel, Erato/Warner Classics, 2021.
Cristina Pluhar — a Harpista, Maria (Sopra La Carpinese), 2010
Espraia-se a miùdagem pelo jardim de ante o Lyceu de Camões. É natural. O liceu está esventrado das grandes obras que lhe fazem. Não fôra isso seria natural à mesma — espraiar-se a miùdagem do liceu pelo jardim. — O liceu é escola e o jardim sempre é melhor praia.
Hoje estão sossegados. Não estão a reivindicar nem a activistar causa nenhuma, daquelas grandes, que apreendem do ensino oficial, da' redes sociais e das séries on demand. Nada, por conseguinte, de salvar as baleias — ou o planeta, que é causa ainda maior que das baleias. Nada de berrar fobiosamente contra preconceitos ou preconceituadamente contra fobias de todos o géneros. Nada! Sequer um parzinho de jarr@s de mão dada feitos pombinhos ali avisto. Sòmente vejo, digno de realce, um pequeno lilás tranjando todo de roxo, da cabeça aos pés. Tem o cabelo também tinto em roxo-azulado, a não destoar. Bebe qualquer coisa à porta do quiosque, de pé, atrelado na ponta da trela dum cão; nada tão trivial como uma bica, estou em crer. Muito menos um copo de tinto, valha-lhe Deus, se bem que pela côr do pêlo e dos trajos pareça haver derramado vários pela cabeça abaixo.
A Sara é uma marca galega e talvez dêle seja a muita atenção que dá às regiões de Portugal e a outros pormenores. Tem uma linha de lojas Sara Man para homens amaricanos. E tem uma linha de lojas Sara Home para homes alentejanos…
Mandaram-me onte' lá comprar uma fronha e ainda bem que foi só, porque a almofada é à parte.
Fronha de almofada estampada de flores e folhas, in Sara Home, 2022.
Jorge Frederico Handel, Grandes Concertos, Opus VI, n.º 1 em sol maior (Allegro).
Marina Fragoulis & Dorian Baroque
Igreja da Epifania, Nova Iorque, 2015.
Combóio a vapor, Tua (prox.), 1973.
Martim Wilkins, in Base de dados de fotografia de Transportes.
Ninguém diga que os ingleses perderam seu sentido de humor. Qualquer um proposto pelos comuns para governar a Inglaterra há imperativamente de se antes dirigir ao palácio para lhe o rei dar posse. Todavia há cavalos que impõem ser o rei a dirigir-se-lhes nem que seja só por especial visita. Nem o cavalo cônsul de Calígula foi tão importante.
É uma daquelas coincidências. Tirei um livrinho das Lendas de Portugal da estante para lhe proteger a sôbrecapa com polipropileno transparente. Ando aqui e ali a fazê-lo. Os amaricanos com aprêço por livros empenham-se em preservar da luz e do uso as sôbrecapas com que os publicam. Práticos que são têm até a coisa industrializada a ponto de venderem o artigo em rôlo para se cortar pelo comprimento certo e com uma tira adesiva pronta a ajustar como uma manga à medida da altura da sôbrecapa. Cá não no achei à venda, mas descobri que se vendiam rôlos de polipropileno de 70 cm de largura por 10 m de comprimento numa loja de decoração por um módico equivalente a 558$00 em dinheiro. Com o engenho dos meus 10 anos nas aulas de Trabalhos Manuais corto-o à medida (o polipropileno), dobro-o, vinco-o com uma dobradeira e colo-o com fita-cola em forma de manga a envolver as sôbrecapas que quero proteger. O que me até nem sai mal, mas não se dirija contudo ninguém à loja a pedir polipropileno; o artigo em questão é comummente conhecido do vendedor por papel de embrulho transparente, a-pesar de ser plástico.
E bem, a coincidência fabulosa foi que ao depois de envolvida a sôbrecapa e reposta no livrinho das Lendas (é o vol. 2, o das lendas heróicas), dei em abri-lo a ler a primeira, a do «Belo suldório» que é sôbre o Viriato e, arejando as páginas, lá mais para o fim do volume havia um marcador com um calendário n' «O milagre de Ourique», sinal de que andara já eu pelo livro. — Quando? — O ano do calendário haveria de mo dizer. Só que o calendário, com publicidade a um Centro para Pequenas Empresas da multinacional Maricosoft (a do Kill Gates), não dizia o ano. Pus-me a olhar para a esperteza dalguém imprimir um calendário sem indicar o ano e vi que nêle o dia de hoje, 7 de Novembro, é uma segunda-feira. Descobri, pois, que a inteligência de quem fez tal calendário assim sem menção de ano, foi para ser êle achado nêste ano de 22. Porque se não fôsse assim, não calhava certo.
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