Da época daquela fotografia do 55, lembra-me dum condutor (na gíria da Carris condutor era o pica-bilhetes da gíria popular) que acamaradava sempre bem connosco, a miùdagem. Era o «Bigodes». Mais tarde vi-o em guarda-freio. Farta bigodaça tinha êle!
Havia por então um outro pica muita vez confundido com o «Bigodes» porque tinha também bigode, bigode também digno de nota, se bem que menor, mas cuja característica mais notória — e sonante — era andar sempre a estalar o alicate — tac tac, tac tac tac! — Cuido que era o Barata Salgueiro, êssoutro. Era menos camarada. Tinha dias!
O «Bigodes» não. Era sempre cordial e paciente connosco. Contava piadas, como aquela do pó de andar e o pó de seguir. Tinha saídas bem dispostas, como a das velhas, para quando um autocarro seguinte da mesma carreira alcançava o antecedente, sendo o antecedente aquêle em que êle, o «Bigodes», seguia. Duma vez que isso sucedeu e lhe disse eu — vamos muito atrasados; a chapa n.º tal (referência ao carro seguinte) já nos alcançou; olhe, vem aqui atrás!
Resposta sua.
— Espera que já o largamos. Há uma carrada de velhas nas próximas paragens que, com o vagar delas a subirem e descerem, êle logo fica para trás.
Bigodes à parte, porque nem foi o «Bigodes» que me contou uma outra história, foi um motorista com quem êle fez equipa certo dia no 55, os primeiros autocarros de dois andares em Lisboa foram o 201 e o 202 e tinham a cabina à direita.
Não tenho achada nenhuma do 202, salva a do par à chegada em 1947, mas do 201 já cá tenho deixadas umas quantas. Esta é mais outra. Vinte anos após, parece que ainda estava ao serviço.
Autocarro Leyland Titan PD1A, II-13-09, n.º de frota 201 da Carris, Cabo Ruivo, 1967.
L. Murphy, apud Chris Stanley, Flickr.
Adenda às 10 para a 1h da tarde:
A final sempre achei uma do 202.
Autocarro Leyland Titan PD1A, HL-13-11, n.º de frota 202 da Carris, Rossio, post 1947.
A. n/ id., in Francisca Real, «Há mais de 50 anos, os autocarros da Carris eram assim», in Time Out, 22/1/2019.
Adenda à 1h e ¼ com comentário antigo do sr. José Vitorino (10/V/14) sôbre os Leyland Titan PD1A:
O 201 e o seu gémeo 202 II-13-11(?) [i.é HL-13-11] não eram AEC Regal mas sim Leyland e de caixa manual não-sincronizada (portanto, sem a caixa pré-selectiva Wilson dos AEC). Um susto com o ranger dos carretos quando a «dupla» era mal feita. Estiveram nos seus últimos anos de activo a fazer a carreira 7 que partia da Praça do Chile.
Adamastor (O)
Apartado 53
Bic Cristal
Blog[o] de Cheiros
Carmo e a Trindade (O)
Chove
Cidade Surpreendente (A)
Corta-Fitas(pub)
Dragoscópio
Eléctricos
Espectador Portuguez (O)
Estado Sentido
Eternas Saudades do Futuro
Fadocravo
Firefox contra o Acordo Ortográfico
Fugas do meu tinteiro
H Gasolim Ultramarino
Ilustração Portuguesa
Kruzes Kanhoto
Lisboa
Lisboa Actual
Lisboa de Antigamente (pub)
Lisboa Desaparecida
Menina Marota
Meu Bazar de Ideias
Paixão por Lisboa
Pena e Espada(pub)
Perspectivas(pub)
Planeta dos Macacos (O)
Pombalinho
Porta da Loja
Porto e não só (Do)
Portugal em Postais Antigos(pub)
Retalhos de Bem-Fica
Restos de Colecção
Rio das Maçãs(pub)
Ruas de Lisboa com Alguma História
Ruinarte(pub)
Santa Nostalgia
Terra das Vacas (Na)
Tradicionalista (O)
Ultramar
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.