«Un bon souvenir» — Ponte syphão do canal do Alviella, Sacavém, c. 1902.
Postal datado de 24-7-02 por D.ª Maria Corrêa de Mello, Portimagem, in Flickr.
Rotunda, Lisboa, c. 1957-58.
Portimagem, in Flickr.
Rotunda da «Belle Époque» (quarteirão SE), Lisboa, 190…
Paulo Guedes, in archivo photographico da C.M.L.
Dizia eu há dias do Lido. Há anos que me refiro àquilo como Lido, não é de agora, e jàmais digo doutra forma por não haver nunca maneira de dizer em português um nome de sòmente quatro letrinhas em que três delas são consoantes. Isto para espanto de me quem ouve. Muitos corrigem-me inocentemente grunhindo (ou tentando) o bárbaro. Entoam-me então uma língua de trapos, como a ensinar-me. Sorrio e repito muito de acôrdo: — Pois é isso mesmo: Lido. — Olham-me. Alguns insistem e, ao depois percebem. Dão-me então por caso perdido (o caso perdido é o seu, não o meu, mas deixá-los… Deixai-me…) Abanam-me a cabeça, sorrindo-me de volta, entendidos, a final…
Êste caso andava-me assim rebuscado havia anos; dês que apareceu por aí o tal super, o Lido. Porém há dias tive de repensá-lo, necessàriamente. Na bicha da caixa dum super doutra marca, na Almirante Barroso, atrás de mim duas vizinhas de idade e de falar castiço, dizia uma à outra:
— Sabe vossemecê ali onde era a camionage?
— Na Casal Ribeiro?
— Sim, senhora. Diz que vai lá abrir um Líder.
Tão simples.
Largo da Estefânia com vista para a Casal Ribeiro, onde era a camionage, Lisboa, [s.d].
Portimagem, in Flickr.
Quando o bom povo vivia oprimido a toponímia dos lugares saía-lhe espontânea. Ao depois vieram por aí uns eleitos para libertar povos oprimidos e de caminho assenhorearam-se das ruas, largos, praças e lugares. Muito democràticamente desataram a eito em dar-lhe nomes mais correctos do que os que lhe o simples povo fôra capaz de dar. Por pouco caso, bêcos e azinhagas foram por então ainda deixados manter com seus nomes populares e espontâneos. Logo, logo acabariam também alçados à dignidade de ruas e até de avenidas pelo progresso trazido pelos tais eleitos — ou mesmo por uma questão de nada — e então lhe ajustariam êles, os novos senhores das ruas e doutores da toponímia, um nome verdadeiramente adequado e capaz. Tudo abrilhantado com uma competente e protocolar inauguração, claro, não havendo de descurar a necessária pompa.
Simplesmente sucedeu que, com o tempo, esta espécie de eleitos se multiplicou em tal cópia que em pouco lhe não chegaram as ruas, praças e avenidas, mesmo se novas, para tantos e honrados nomes que a libertação dos povos ia produzindo. E com isto vieram os desoprimidos povos a assistir — de certo sorrindo-se com popular desprêzo — a uma disputada e infinda dança de topónimos por tudo quanto fôsse serventia tida como capaz para honrar coisa ou alguém, normalmente figurão de nomeada com pergaminhos de bom coiro na tal liberdade. E agora, havendo escassez de boas serventias e de melhores lugares com que continuar a honrar figuras, figurinhas, figurões daquêles, vêem-se por aí os tais eleitos acotovelando-se em pontes peidonais, bufando uns com os outros e entre si sôbre qual o nome mais acertado que, com tal obrazinha, hão-de haver de a inaugurar. Em fim, mais do mesmo que já antes o bom povo viu como digo, sorrindo-se de desprêzo, desde que o Terreiro do Paço deu sem nunca bem dar em Praça do Comércio, o Rossio desdeu não dando jàmais em coisa com nome de imperador estrangeiro (dizem alguns que mexicano…) e o Campo Grande desandou de Campo 28 de Maio em jardim dum certo Soares continuando a sêr sempre e só o que fôi por séculos: Campo Grande. Viradeiras estas que só vistas, pois que a final nada viraram nem hão-de virar, salvas umas moscas.
De topónimos, pois, a crua realidade que havemos destes últimos dias é que tal ponte a pé mais será coisa para perfumar figurões de alto coturno com aromas do Trancão do que para homenagear alguém ou quem quere que seja de dignidade fora disso. Tôda a pessoa séria o entende e, claro, declinaria sempre educadamente tão magna homenagem na circunstância de suceder consigo.
Foi o caso.
A Faustissima e Monumental Reunião dos Illustrissimos e Excellentissimos Membros da Junta Provisoria do Governo Supremo do Reino e Regencia Interina de Lisboa no Palacio da Regencia na Praça do Rocio de Lisboa em o dia 1.º de Outubro de 1820. Gravura de Antoine Candido Cordeiro Pinheiro Furtado, in archivo photographico da C.M.L.
Praça de D. Pedro em Lisboa [i.é, o Terreiro do Rocio em 1848]. Desenho de Legrand, in archivo photographico da C.M.L.
Esta é a primeira cantiga de loor de Santa Maria, ementando os [sete] goios que houve de seu filho.
Afonso X, o Sábio, Cantigas de Santa Maria, n.º 1 [1.ª estância].
Paula Bar-Geise (soprano, tambor), Hans Meijer (viola, alaúde), Musicks Monument, 2021.
Des hoje mais quer’ eu trobar
pola senhor honrada
em que Deus quis carne filhar
bẽeita e sagrada,
por nos dar gram soldada
no seu reino e nos herdar
por seus, de sa masnada,
de vida perlongada,
sem havermos pois a passar
per mort’ outra vegada.
[…]
Transcrição segundo José-Martinho Montero Santalha, Cantigas de Santa Maria (Texto crítico completo), [ed. de A.], [Perlio], 2021, p. 5.
Astúrias. Donde a Reconquista começou…
Uma das salas do Alcácer de Sevilha na ala do imperador Carlos V. Aos 56" enquanto a câmara desce surgem as armas de Portugal sobrepujando a porta, coroando a scena. — Magnífico!
As armas de Portugal no palácio real de Sevilha, alguém que pregunte?
Sim. Portugal tem disto. Ou a Espanha, no caso, tem destas riquezas portuguesas. São as armas da Infanta D. Isabel de Portugal, depois Imperatriz D. Isabel, filha d' el-Rei D. Manuel I de Portugal e daí a esfera armilar que se lá vê. Era a divisa d' el-Rei Venturoso. Casou ela com o Imperador Carlos V (Carlos I de Espanha). As armas são suas. Era sua câmara…
Do enlace nasceu Felipe II de Espanha…
Isaac Albéniz — Astúrias (lenda), João Williams, O Concerto de Sevilha, 1993.
Pela lógica um talão será um talo, só que avantajado. Mas não. Nada disso. É antes uma tirinha de papel que sai da caixa registadora. Uma coisinha mínima e, a final, sem importância por aí além. Bem que lá terá o seu custo, como tudo, e o friamista onde às vezes a senhora vai ao queijo e ao friame bem lhe custa dá-lo às frèguêsas. Numas esquece-se, noutras faz-se assim esquècido, mas isso também não é caso… O caso é que o papelucho, o tal talão, bem entendido, dá-me jeito, já para conferir a despêsa, já para no verso fazer o rol das compras àmanhã, pelo que toma mais valor do que o que lhe o friamista dá, porque êle só lhe conta o custo. Meu pai também lhe dava jeito. Quando puseram os euros, fazia contas às compras no verso dos talões da caixa, em euros e em dinheiro (i.é, escudos); escrevia assim mesmo dois títulos — «euro» e «dinheiro» —, onde assentava por baixo o câmbio da despêsa e assim tomava noção do valor do que gastava. Eu, como digo, dou-lhe uso para arrolar as próximas compras porque isto a cabeça não dá para tudo e quando me cumpre fazê-las sem lista esquece-me a metade e compro a outra metade tôda ao contrário do que devia. Uma coisa prática, por tanto.
Pois tal é o caso do Lido. (Já 'gora faço um parêntesis: é isto mesmo assim, Lido, porque não há outra maneira de pronunciar em português um nome de sòmente quatro letrinhas em que três delas são consoantes; é uma possibilidade sonora só ao nível do grunhido; ora como não tenho o português por idioma de grunhos…) Porém êle há outros, não só o Lido. Normalmente multinacionais do género ou nacionais de nomeada — grandes superfícies, como dizem os jornalistas; catedrais do consumo, também dizem, e parece-me esta muito bem, porque no fundo são instituìções religiosas, como está bom de perceber… Sucede no fim de tudo que o pobre do friamista não é nada disto. Êle faz meramente as contas aos talões que gasta a imprimir na frente e que deixa de imprimir no verso sem mais devoção cristã ou pagã nem recados evangélicos aos frèguêses. Negócio para si é negócio, não há-de misturá-lo nem pôr-lhe água benta. Com êle, contas são contas, e as contas são simples, não fôssem elas de merceeiro. Eu, por mim, prefiro. É mais sincero e acaba-me por dar mais jeito. Mas tem é de se lhe pedir o talão. * * *
(Revisto às 5 e 10 da tarde.) |
No meu tempo de menino o Cornetto era o maior sorvete do cartaz. E coisa rara. Só ao domingo ou quando me a madrinha dava um dinheirito é que me lambuzava com um Cornetto.
São coisas que mudam. Melhoram como da longa noite para a plena liberdade. E o magnífico dêstes tempos de agora meço-o pela pluralidade de Magnuns no cartaz, tôdos mais chiques e mais caros que o Cornetto. Com o pouco mais de rajás que sobram no cartaz é mais ou menos como o Ford T, o primeiro automóvel produzido em série. Podia escolher-se em qualquer côr desde que fôsse preto. Por aí me parece que vai o cartaz da Olá.
Carris, Autocarros (inauguração da carreira 24, entre a Praça da Figueira e Chelas), «Diario de Lisbôa», 31/VII/953.
Recorte ajeitado duma fotocópia da Fundação do irmão do dr. Tertuliano.
* * *
Inauguração da carreira 24 de autocarros, Praça da Figueira-Chelas, L. do Convento de Chelas, 01/VIII/53.
A. n/ id., in Livro das Fuças da Carris.
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