Anúncio da estreia de Grande Prémio, de John Frankenheimer, no cinema Roma.
Diario de Lisbôa, 25/IX/967.
O filme é de 1966, quando o natural nas corridas, quaisquer corridas, era correr muito, velozmente, e nem por nada haver de parar.
Imaginai agora o glamour e a grandeza da F.I.A., em 2025, atalhando à velocidade das corridas para aumentar o espectáculo… com obrigação de duas paragens.
Que se seguirá? Uma ida obrigatória dos pilotos ao lavabo para compor o penteado e pôr bâton?
Bem certo, neste novo tempo excitado de emoções, que lá terá o seu glamour…
Eis no que deu Fórmula 1.
Do antigo reino do Daomé?!…
Colónias Francesas — Daomé. Curandeiros e curandeiras, [s.n.], c. 1900.
A. n/ id., col. particular, in Wikipædia.
Um caso que se só resolveu com queixa à senhoria, porque a donzela se fez fea ante (*) uma reclamação directa…
A nova inquilina aqui ao lado deu em deixar os sacos do lixo a pernoitar no patamar da escada. De maneira que pela manhã, ao abrir a porta, me vi saudado por si desta maneira: lixo. Não é boa vizinhança e recordou-me até de Afonso X, que compôs uma cantiga por causa duma donzela fea que lhe lá terá feito também má vizinhança, embora doutra maneira; maneira essa, cheira-me, atreita ainda a maior aversão. Também lhe não cheirou, ao rei Sábio, daí a cantiga de escárnio.
Artmusic Ensemble, Non Quer' Eu Donzela Fea (Afonso X)
(Daniela de Matos, soprano; João Baptista, Tânia Lima, violinos)
«Os Sons do Caminho Português da Costa», Capela das Almas de Viana da Foz do Lima, 2018.
* * *
Afonso X, «Non Quer' Eu Donzela Fea», in Cancioneiro da Biblioteca Nacional [manuscrito], 1525-26, fs. 105-105v, 476.
(*) Ante, uma preposição latina cada vez mais rara de a eu ouvir em português, preterida pelos compostos diante de e, cada vez mais, frente a. Ante isto, empobrece o idioma.
… a um desprezível que não compreende mero desprezo.
(Recorte da capa do Record, 19/II/25, in Sapo.)
Um ensaio na folha de couve que é o Diário de Notícias não é ensaio, é catequese.
Pois o ensaio, não li nem lerei. Não é preciso. Ninguém o precisa de ler porque já adivinha o missal que há lá (ou Alá?…) de vir rezado. Lendo só o título Desmistificar entende-se muito bem que o tema (não os temas; o fenómeno é de massas, mas o assunto é simples e só um) da imigração se ensaia ali tal qual tem vindo a ser levado à cena: completamente ao contrário da realidade. E a realidade todos a já percebemos: trazer gente de fora ao ritmo que se tem visto é para substituir ràpidamente e em força quem é de cá; prova-o quem chega, não lhe interessando, antes ostensivamente desprezando o que seja ou quem seja de cá. Desmistificar esta imigração é só dizer que tem de parar e já. É o que toda a gente diz ou, se não diz, pensa. Só o não diz essa corja de videirinhos da situação mais a carneirada de evangelistas que o desmistifica nas tubas da propaganda. E o que essa corja tanto se ensaia por desmistificar é no fundo uma mistificação fingindo o contrário, para calar a gente em dizer o que na verdade pensa.
Esta desmistificação acaba por ser, por fim, uma forma de censura.
(O recorte é da capa do Diário de Notícias de 17/II/25, no Sapo.)
O recorte vale por mil palavras: o espectáculo duma boneca de borracha de olhos azuis e pupilas dilatadas sob a luz forte dos holofotes da realidade.
A notícia vale o que vale: traficantes de droga apanhados e soltos…
(Miguel Curado, «Procuradora de reality show…», Correio Manhã, 16/II/25.)
Pela assembleia ex-nacional vai um belo curropio. (Não me enganei nem lhe ponho aspas porque está muito bem assim, pois a coisa vem dum curro onde há muito pio). Um curropio que bem parece o Bigue Bróder (corruptela televisiva de bordel) ou a Casa dos Segredos (dão ambas no mesmo), uma peixeirada dessas tidas agora por coisa fina, onde um escol, os melhores artistas, dão primeiro em directo na televisão e são famosos ao depois por isso, e por virem escarrapachados nas capas das revistas. Um êxito cultural!…
O caso é que lhe não vejo diferença: à peixeirada televisiva pròpriamente dita nem ao curropio de deputedos e deputedas, igualmente televisivo. Tudo coisas chãs (para não dizer rasteiras) para melhor chegar ao povo. A sacrossanta democracia, enfim!…
Pelo meio disto que digo, diz que o Chega insultou uma cega no tal curro do pio. Ora, Chega / cega: a diferença está no agá, letra que se não lê… Uma cegada pegada, por conseguinte.
(Correio da Manhã, 15/II/25.)
Porém, quem de feito chama cega à cega é o Correio da manha. Da manha em geral (o tal Correio), mas que neste caso vem autêntico e sem manha; porque cego é cego e a manha, no caso, é doutros: do Polígrafo do Sapo, p. ex., que chama à cega invisual, eufemismo manhoso e desde logo zarolho para designar cegos; e vesgo para a cegueira de qualquer cego por querer mascarar ou negar uma crua, mas verdadeira, realidade. Um floreado de linguagem que acaba ao cabo e ao resto por ferrar os próprios ceguetas que a usam, e impõem, duma cegueira maior que a dos cegos, além da sua rematada estupidez.
Escusado é, pois, dizer que cego é quem não vê; invisual é mero adjectivo para aquilo que é não visual, qualificativo óbvio do que se pode ver ou avistar e cujo prefixo de negação indica naturalmente o contrário: o que se não pode ver ou avistar. Ou pelo menos assim seria até à invenção cavalgante de eufemismos paternalistas pseudo-caridosos e, sobretudo, patetas, que agora são aos montes…
Ora, enfim, que um cego não vê, há muito todos sabiam. Mas sobejam agora os que não querem ver. E lá dizia o bom povo quando ditava a linguagem: pior cego é…
Dito isto, e indo ao Polígrafo do Sapo… Mas antes ainda um parêntesis.
(Polígrafo [*] é palavra composta do grego polygráphos (escrever muito). Um autor como o jornalista Alberto Pimentel, com vasta e variada obra publicada (e esquecida) é amiúde, ainda hoje, referido como um polígrafo (escritor de muita produção escrita). De Pinheiro Chagas, o mesmo (cf. a wikipædia de ambos). E outros. Ora a América, que é dada às mais sofisticadas invencionices — entre elas a verdade, como se tem visto — inventou, por jeitos, uma máquina de apanhar mentirosos a que chamou polígrafo, que paradoxal e etimològicamente é uma designação… mentirosa. E a ignorância, que por cá sempre brota engalanada com as peneiras do mais modernaço, que só pode vir lá de fora, do estrangeiro — nomeadamente da América, mas ùltimamente também do Bangladesh [de Bengala Oriental ou Bangladexe], do Nepal ou mesmo só de Marrocos —, a ignorância, dizia eu, ganhou por cá foros de excelência nos modernos polígrafos (leia-se jornalistas, esses grandes escrevinhadores a metro, verdade se diga) transliteradores exímios do amaricano, ou que até nem transliteram nada e o tomam tal qual, que dá ainda mais sainete. Com isto, polígrafo, que dantes era um composto puramente grego com semântica a condizer, tornou-se num ingrazéu para elaboradamente dizer do engenho de catar mentirosos e da arte de descobrir mentiras e, por exclusão de partes, decretar a verdade. A verdade que infalìvelmente acaba a chamar invisível a um cego…)
Fechado o parêntesis, o Polígrafo do Sapo, como bom engenho de catar mentiras, desvenda com a arte de também muito escrever (nalguma coisa haveria de fazer jus ao nome) a verdade que se impõe, de que os do Chega mentiram sobre a cega dita invisual por si (pelos do Polígrafo do Sapo). Parece que piaram os do Chega cheios de cegueira ou cegos de chegueira que a senhora deputada cega só falava de deficiência e, pela resenha de factos do Polígrafo do Sapo, a senhora cega nem nunca piou de tal assunto: diz que falou, sim, nove vezes nesta legislatura de, a saber:
Deste respigado do Polígrafo do Sapo (o normando é do original; os pontos da abreviação nas siglas são meus) 6 ou 7 dos 9 casos são, pelo teor e estilo de linguagem, se não de vistas curtas, pelo menos de mono… tonia. E 8 dos 9 são duma clara visão de esquerda. Deficiência, não, não se vê…
[*] José Pedro Machado, no Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa (4.ª ed., Livros Horizonte, 1987), dá o vocábulo polígrafo (que escreve muito ou sobre muitos assuntos) na língua portuguesa em 1873, no Grande Dicionário Português ou Tesouro da Língua Portuguesa, por Dr. Frei Domingos Vieira, Porto, 1871-1874. Poligrafia (acto de escrever muito ou sobre muitos assuntos), porém, aparece antes, no Dicionário Morais, 2.ª ed., Lisboa, 1813. Já no inglês a semântica é outra: máquina para produzir múltiplas cópias de textos ou desenhos (1794); instrumento para gravar em simultâneo múltiplas pulsações do corpo (1871), usado como máquina de detectar mentiras só em 1921. Cf. polygraph em https://www.etymonline.com/word/polygraph.
Alameda de Dom Afonso Henriques, Lisboa, 1964.
Augusto de Jesus Fernandes, in archivo photographico da C.M.L.
A ladeira sueste da Alameda, chãos da antiga Calçada da dita. Mais ou menos por aqui empanavam os velhos autocarros de porta a trás do 55. Mas isso foi ao depois; a carreira 55 só foi criada em 1967.
Aqui, em Maio de 64, ainda se na Alameda o trânsito fazia nos dois sentidos. Só me recorda de haver sentido único, ascendente, nesta rampa.
O poiso do fotógrafo foi do alto onde foi o Páteo das Águias, alfôbre de jornaleiros e alguns jogadores da bola; onde começava a Rua do Garrido, a primitiva…
Tenho umas fotografias tiradas daqui no tempo em que estavam a construir o Técnico… Talvez da casa a par do dito Páteo das Águias que era dalguém cujo o sobrinho-neto me uma vez preguntou…
O filme «O Pombo que Conquistou Roma» estreou-se no Império em 6 de Fevereiro de 1963. Esteve em cartaz até 15 de Fevereiro.
A peça «Ratos e Homens», pelo Teatro Moderno e com encenação de Costa Ferreira representou-se nêsse mês de Fevereiro às segundas, terças, quintas e sextas às 18h30, e aos domingos às 11h30 da manhã.
(Cine-teatro Império, Lisboa. A. n/ id. 1963.)
Legenda em português: 9 de Maio de 1910, São Luís do Missouri. «Ardina, o gorduchinho. Menos de 1 m de altura, 6 anos [i.é, 5]. Andava nesta vida havia um ano.»
Fotografia de Lewis Wickes Hine, in Shorpy.
Manhã alta, Porto, [s.d.]
© Bernardino Pires / In-Libris, in Bernardino Pires — O fotógrafo e a cidade.
Sobre sacas, Douro [?], no tempo dos palhinhas de 5 ℓ.
© Bernardino Pires / In-Libris, in Bernardino Pires — O fotógrafo e a cidade.
No tempo em que ia vendo as coisas de nada do mundo, organizava-as. Via-lhe a ordem e compunha-as cá comigo para melhor entender.
As molas da roupa eram assim: havia de madeira e de plástico; dum tipo e doutro; cada uma com sua própria forma. A minha mãe tinha das duas.
Agora parece-me tudo mais elaborado, sofisticado, evoluído; já desconcertado; já caótico…
Peúgas no estendal, Porto, [s.d.]
© Bernardino Pires / In-Libris, in Bernardino Pires — O fotógrafo e a cidade.
Adamastor (O)
Apartado 53
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