«Uma nova era, a era do… 747-B», Diário de Lisboa, 31/III/72, p. 19.
Anúncio aprimorado duma fotocópia manhosa da fundação do irmão do dr. Tertuliano.
Hora legal, Lisboa, c. 1994.
Homem Cardoso, in AA.VV., Encenar a Cidade; intervenções artísticas nos tapumes das obras do Metropolitano de Lisboa, 1994.
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Adenda ao quarto para as 5h da tarde:
Curiosa fotografia que só esta manhã ao depois de publicada me dei conta dum pormenor. O relógio marcava 9h com uma luz doirada do entardecer. Marcava as 9h da noite, portanto. 21h. Mas, tão tarde e ainda com esta luz?!… Pois, sem dúvida. O relógio da Hora Legal em Lisboa está voltado a NO e, estando certo, como creio que sim, que estava, o entardecer ainda ia com sol doirado e a dar-lhe em cheio como se vê, às 9h da noite — melhor, da tarde, sendo Verão como parece — naqueles anos do consulado do Cavaco que pôs Portugal a acertar a hora pelo fuso horário de Berlim e Varsóvia. Nesses anos o sol-pôr em Lisboa era quási às 11h da noite. Era o tempo do velho Portugal ser tão orgulhosamente bom aluno da Europa (do estrangeiro) que nem os meninos se queriam deitar com o Vitinho que era por esta hora, às 9h, justamente com esta luz do dia.
Quantos se lembram?
A propaganda está em todo o lado. Enchem os jornais com palavras que actuam à laia de mordaça. Por exemplo, este trampolineiro lírico vale-se do teatro vicentino para defender e saudar a «refundição» em curso e dizê-la inevitável. Num passe de mágica, até a usa para traçar o futuro das políticas culturais. Este descaramento, noutros tempo, mereceria um baraço.
(T.M.C., 28 de Março de 2025.)
Rui Lage, «Para um novo ciclo de políticas culturais no Porto (III)», J.N., 27/III/25.
Cavalgar Gil Vicente ou quem seja que nos molda a essência e nos dá a identidade, portugueses que somos, e deturpá-lo com o fim que está à vista de todos, é a sonsice mais reles que vejo para aí sem rédea nem freio. Há entre nós muitos frades missionários e irmãos deste santo ofício sonso que é passado como moralizador pela propaganda vigente.
O Lage é mais um.
Só que aturar autoridades destas a tomarem-nos por tolinhos e a quererem pastorear-nos encavalgando-se toscamente nos nossos maiores para caucionar uma agenda alheia que nos quere é extintos e apagados de toda a nossa memória, mete nojo.
E nestes desatinos, vir este frade Lage, dito escritor — logo erudito de alvará com assinatura reconhecida por Deus, presume-se — com uma converseta missionária de refundição dos portugueses e de Portugal numa caldeirada multicultural, enjoa mais.
Refundição, extrapola o inteligente de frágua, em Gil Vicente com sentido de forja. E transpõe a forja para a invasão que nos andam impor como se uma rica caldeirada fosse, com basto de sardinha e de bacalhau a querer dar gosto. Chama-lhe integração, melhoramento mútuo, intercompreensão, mas no fundo, bota-lhe de cá petinguilha e pichelim de conserva, se for, a fazer que disfarça o mau saibo da receita.
Vale-se o trambiqueiro, enfim, levianamente duma encenação de «Frágua de Amor», drama de autoridade, Gil Vicente, representado na festa de casamento de el-Rei D. João III com a Rainha D.ª Catarina, em Évora, em 1524. Disso e da peça diz rigorosamente nada. Só a revolve num dos termos do título que lhe serve à aldrabice.
Pois sempre vos conto.
No auto há um negro com o desejo de ficar branco. Entra na forja e na verdade sai branco…
Faze-me branco rogo-te homem
asinha logo logo logo
mandai logo acendere fogo
e minha nariz feito bem
e faze-me beiça delgada te rogo.
O Lage quere a forja agora a refundir ao contrário. Mas eis a autêntica refundição:
Já mão minha branco estai
e aqui perna branco é
mas a mi fala guiné.
Se a mi negro falai
a mi branco para qué?
Se fala meu é negregado
e nam fala portuguás
para qué mi martelado?
Continua o negro refundido a falar à preto… A forja é uma treta. O resultado dela é pior que o anúncio de um preto de cabeleira loura e um branco de carapinha não é natural que, como propaganda acabava mais honesto: o que é natural e fica bem é cada um usar o cabelo com que nasceu.
Seguido bem Gil Vicente, este Lage calha no entanto bem no papel do cupido ferreiro da forja:
No piensa lo que dice,
y su voz es como miel;
pero, cuando se irrita,
su espíritu es cruel
y está lleno de fraudes.No dice nada de verdad el niño astuto,
y juega cruelmente.
«Que não se caia, porém, no paternalismo» — remata no fim do textículo o figurão, com um paternalismo de que se nem dá conta e que era costume usar com pretinhos (e agora com pretos, brancos, mulatos e o restante da raça pegada).
Toma-nos por estúpidos?!… Há lá ele maior paternalismo que ter cavalheiros deste jaez a querer, moralona e tutelarmente, dizer-nos, a nós, Portugueses com 900 anos de história, o que culturalmente deveremos ser ou deixar de ser ou fazer?!
Refundição? — Até o negro da «Frágua de Amor» já via a «Floresta de Enganos»…
Dá cá minha negro tornai
se mi fala namorado
a moier que branco sai
ele dirá a mi: bai bai
tu sá home ó sá riabo?A negra se a mi falai
dirá a mi: sá chacorreiro.
Oiai seoro ferreiro
boso meu negro tornai
como mi saba primeiro.
(Excertos da «Frágua de Amor» de Gil Vicente colhidos por aqui e ali na rede. Conto ainda revê-los melhor ao depois com mais tempo.)
«Viver para Viver» (Vivre pour vivre, Francis Lai)
(Banda sonora original da película de Claude Lelouch.)
«Viver para viver», de Claude Lelouch, com Yves Montand, Annie Girardot, Candice Bergen. Longa-metragem de 1967, estreou-se em Portugal em…
Quando?
A base de dados de cinema da Internete não dizia. Ontem não dizia…
Para não andar a folhear página atrás página de todos os Diários de Lisboa de 14 de Setembro de 67 em diante, e até quando fosse, nas fotocópias da fundação do irmão do dr. Tertuliano, castigo fastidioso e possìvelmente até inglório, pois que as ditas fotocópias se não prestam à pesquisa de texto e o que procurava podia até nem se achar, resolvi-me por algo mais inventivo. Preguntar à mais moderna pitonisa do novo oráculo de Delfos: a inteligência artificial, como lhe chamam por aí os beatos da irreligião, que sequer admitem ser pagãos (que o são…)
Deu isto em ser bem mais inventivo do que eu supus…
Bem assim, pus a pregunta à dita inteligência: — «Viver para Viver» data estreia Portugal. — Tal qual, macarrònicamente, porque isto de dialogarmos nós humanos com maquinismos leitores de cassetes não carece de mais que mim Tarzan, tu Jane… Pois em resposta saiu-me um chorrilho algo prolixo sobre uma série qualquer com nome parecido. Vi-me na contingência de reformular, de ser mais conciso com o robot, e pus: — «Viver para Viver» «Vivre pour vivre» data estreia Portugal. — E acrescentei — sem palha — para não vir resposta cheia de palha, a ver no que dava…
Deu 18 Outubro de 1968. (Outubro com o pequeno, bem entendido…)
Plausível, pensei. Mas antes de lamber virtualmente o dedo para começar virar as fotocópias do Diário de Lisboa à cata do cartaz de espectáculos, procurei saber a fonte. Aqui é que foi o diabo.
Peço desculpa pela falta de fontes específicas na minha resposta anterior. Após uma pesquisa mais aprofundada, não consegui encontrar a data exa[c]ta da estreia do filme "Viver para Viver" ("Vivre pour vivre") em Portugal. No entanto, é provável que tenha ocorrido em 1968, possivelmente no primeiro semestre do ano, dado que o filme foi lançado na França em 1967.
Boa! Primeiro era em 18 de Outubro de 68; agora, ao depois, já era provável ser no primeiro semestre de 68.
Em que ficámos?…
Um: aquela merdice artificial que dizem ser inteligência, tem mais de artifício que de inteligência ou até de mera sabedoria enciclopédica. Já de sabujice!… Além da ortografia (e sintaxe) brasileiras, das aspas inglesas, funciona por palpite. Pesquisa mais aprofundada, nem figura de estilo é. Aquilo responde com tanto de lírico como um gingão de café, e com tanto de acêrto como o horóscopo da Maia.
Dois: folhear o Diário de Lisboa…
«Viver para viver», longa-metragem de Claude Lelouch, com Yves Montand, Annie Girardot, Candice Bergen, estreou-se em Portugal em 29 de Fevereiro de 1968 no cinema São Jorge.
«Viver para Viver» […] Hoje, sensacional estreia às 21.30 no cinema São Jorge, in Diário de Lisboa, 29/II/68.
Fotocópia ajeitada da fundação do irmão do dr. Tertuliano.
Já hoje, ao depois de abonar ontem a base de dados de cinema da Inernete com a data da estreia achada no jornal, a tal inteligência que aprende — e pode tornar-se até perigosa por isso — palpitou-lhe para a mesma pregunta de ontem a data de 11 de Janeiro de 1968. Um perigo, realmente…
Um jovem… Atrevo-me a adivinhar…
Um marroquino: nesta o escriba distraiu-se…
(Recorte do Correio da Manhã, 25/III/25.)
Rua de Santiago, a par do mirante de Santa Luzia, Lisboa, 1977.
A. n/ id., in Filho da C.P.
Três exemplos do maior cheiro de santidade e palpitantes de actualidade. Actualidade ecuménica, inclusiva e igualitária, todas a cavalo no primeiro rei de Portugal. Referência mística maior para todo o portuguesinho sem excepção, só se for a selecção de matraquilhos da Sagres ou do CR7, um deles.
«Tuberculose: migrantes…», Público, 24/III/25.
A velha tísica dos tempos de Camillo — a tuberculose, como deu em chamarem-lhe sem ser nos romances — diz hoje que anda aí outra vez. E logo da multi-resistente, uma espécie moderna que é o que mais assusta. Assim mesmo, como nos romances de Camillo, em que não havia remédio.
E ao depois agora, tadinhos, os migrantes imigrantes são os mais sofridos dela: a população migrante continua a ser a mais vulnerável — diz o institucional Diário de Notícias.
Quere dizer: não adoecem só os migrantes imigrantes mais do que nós, os naturais de cá; eles continuam a adoecer mais. Não quere dizer nem significa que nós, os naturais de cá, não adoeçamos também. Não. O caso é que com eles, a população migrante, a coisa já vem de trás e é pior do que connosco. Connosco é menos grave porque estamos na média. Mas nós, dá a entender, nós não lho estamos a resolver.
E bem assim, é ingrato. Os migrantes imigram para cá para viverem melhor, e nós, nós é o que temos para si: más condiçoes, insalubridade, tuberculose das antigas acima da média, sem remédio…
A qualquer um, os que já cá havíamos e estávamos até cá meios livres (a tal média) dela, da tuberculose, isto angustia, dá pena!
A mim, a pena dá-me sempre cuidado. E com notícias dadas assim, se não morro de pena sinto-me ao menos culpado.
«Casos de tuberculose aumentam…», Diário de Notícias, 24/III/25.
(Revisto.)
O publicista recordou-se de há 18 anos, de andar a O.N.U. a ler o futuro nas folhas do chá, e vem agora lembrar que, bom, era treta. É bem caçada, a pasquinada, mas não precisava recuar tanto. Era só voltar à pág. 20 do mesmo pasquim onde escreve. A treta que lá vem é exactamente a mesma.
(Recortes do Correio da Manhã, 23/III/25, pp. 36 e 20, respectivamente.)
O documento em baixo guarda-se no Museu da T.A.P. Dá conta da admissão das primeiras Assistentes de Bordo dos Transportes Aéreos Portugueses em 23 de Dezembro de 1946. Entre elas mencionam-se Miss Summers, que salvo erro fôra da B.E.A. e ministrou nesses tempos o primeiro curso de Assistentes nos T.A.P., e Lourdes dos Santos Martins que foi nem mais nem menos que a Assistente de Bordo do primeiro vôo da Linha Aérea Imperial, ou linha de África, como era vulgarmente referida pelos aviadores.
A linha de África inaugurou-se oito dias depois, em 31 de Dezembro, com a partida do primeiro avião de carreira para Africa Portuguesa, como escreveu o Diario de Lisbôa na sua primeira página dêsse dia.
O jornalista Norberto Lopes viajou como convidado. Nas crónicas desta viagem que ia telegrafando ao jornal e foram sendo publicadas nos dias seguintes, usou por vezes o termo comissária para se referir à Assistente de Bordo Lourdes Martins. A notícia da partida (que não será de Norberto Lopes) refere-a, porém, como hospedeira quando apresenta os tripulantes e a respectiva função. Não estava ainda ao tempo definida no uso geral a nomenclatura da profissão que se habitualmente ainda hoje refere como de hospedeira, ou hospedeira de bordo.
Todavia a Comunicação de Serviço 1696/T do Chefe da Secretaria dos T.A.P. para a Contabilidade é clara: as senhoras admitidas passam a prestar serviço nos T.A.P. com a categoria de assistentes de bordo.
Para o pessoal da T.A.P. até hoje é o que impera. — A T.A.P. não tem hospedeiras. A T.A.P. tem Assistentes de Bordo! — é como dizem sempre sorrindo antes que alguém ouse chamar-lhe hospdeiras.
Transportes Aéreos Portugueses, Provimento de pessoal — Assistentes de Bordo, 1946.
Comunicação de Serviço 1696/T da Secretaria dos T.A.P. p/ a Contabilidade, 23/12/1946, in Museu da T.A.P.
P.S.: a designação comissária não vingou no feminino mas impôs-se no masculino.
(Jornal de Notícias, 16/III/25)
Assim como há carros que abalroam multidões, é muito natural que haja bandos (ou gangues, em português refinado) a atacá-los, aos carros. É coerente e talvez um justo castigo (para os carros), como justo é que o jornalismo justiceiro o ponha nestes exactos termos. Nada de bandos a assaltar, roubar carros, porque isso já se não usa, nem ninguém fala assim.
Das coleiras de bovinos (com ou sem G.P.S., uma sigla portuguesa para dizer localização geográfica em amaricano) fico na dúvida se não serão as cangas que jungem modernamente os jornalistas que redigem assim.
(Correio da Manhã, 16/III/2025)
Quem baixou as calças?
Quem ficou com o rabo ao léu? A G.N.R.?…
Se eu não soubesse que Fátima é o santuário…
Estava a ler esta notícia sobre onomástica (perdão, genealogia dos nomes) e a dado passo, que treslado mais em baixo, lembrou-me que dantes havia Santiagos, inteiros. Mas os Tiagos agora estão muito mais na moda. Assim mesmo: truncados. Seriam o equivalente aos Tantónios se o Santo (António) tivesse decaído em São, como o Tiago…
(Parece bem que as modas trincaram o santo e o santo foi truncado e, pelo meio da trunca/trincadela ocorrem-me também agora as Sões, que são a final Conceições truncadas, ou trincadas. Mas adiante.)
Os ingreses vieram ao depois — diz lá na notícia; só não diz quando foi, é curioso… — Vieram ao depois enriquecer-nos onomástica e culturalmente os Tiagos com os seus James. E assim cá temos Jaime, à portuguesa.
Não diz ela (a notícia, nem quem na dá) que Jaime também é castelhano. E catalão (Jaume). E francês (James, Jacques). E italiano (Giacomo). E que todos, incluído o inglês, se formaram do baixo latim Jacomus, que já vinha do alatinado Jacobus tirado do Jacob hebraico.
Outro aspecto curioso é a relação entre nomes que parecem distintos, mas que têm a mesma origem. Por exemplo, Tiago, Santiago e Iago derivam todos de Jacob [Ya’acov, no hebraico], que, ao longo do tempo, foi sendo adaptado às diferentes línguas e contextos históricos. O mesmo nome chegou ao inglês como James, que depois, pela influência inglesa, adoptámos como Jaime. Mais tarde, com o domínio filipino, herdámos Diego, que deu origem ao nosso Diogo […]
Porém, chegado ao Diogo parei. (O sublinhado é meu). Que Diogo é variante portuguesa de Tiago já sabíamos, mas tive de parar porque ante o Diogo filipino preciso de ir já, já ali esquecer-me de dois Diogos do séc. XV, o de Teive e o de Azambuja: um que descobriu as ilhas ocidentais dos Açores no tempo do Infante; o outro que levantou o castelo da Mina no reinado de D. João II.
Nunca existiram.
Em Portugal, sei agora de ciência certa e incontestada, só houve Diogos ao depois de os Filipes de Espanha virem para cá com Diegos.
(E ainda, cá para mim, do tal James inglês que adoptámos como Jaime, apesar de a notícia dizer que foi por influência inglesa, o que eu acho mesmo é que foi por algum influencer amaricano.)
É inodoro, indolor…
Havia uma anedota dum alentejano no Aquário de Vasco da Gama (quando havia só aquários, os oceanários eram ainda modernidade não engendrada pelo chic do progresso, e o Vasco da Gama não tinha ponte nem torre para os lados de Beirolas).
No Aquário de Vasco da Gama um alentejano viu um japonês ante um aquário. Quando o japonês olhava para cima, os peixes nadavam para cima; quando o japonês olhava para baixo, os peixes nadavam para a baixo; o japonês olhava na diagonal, os peixes nadavam na diagonal…
Isto admirou o alentejano.
— Compadre! Vossmecê olha para cá e os pêxes chegam-se. Vossemecê olha para alẽm e os pêxes vão. Como faz vossemecê tal?
Respondeu o japonês:
— É o podêl duma mente supeliôl sôble uma mente infeliôl.
Daí a um pedaço estava o alentejano ao olhar para o aquário abrindo e fechando a boca como um peixe.
Neste além e aquém Tejo perdido de si à beira-mar do alheio, os títulos do que se há-de dizer e anunciar já nem saem das tolas em vigor sem ser em amaricano. Não podem. É um imperativo. Vê-se nas televisões, portanto é e não pode deixar de ser, lei natural. Não sendo em amaricano, bem entendido, nem nunca haveria de sair das tolas em vigor. Logo, não vigoraria, já por falta de certificação e reconhecimento, já por nulidade a qualquer entendimento, por conseguinte.
E as tolas em vigor são tão vigorosas de seu natural que, naturalmente, dão para abafar toda a tola menos vigorosa; assim como os peixes ao alentejano. Daí não ser ridículo que o imperativo da segunda pessoa do plural do verbo rir se sujeite à limitada linguagem de quem nunca fabricou palavra para distinguir a condução automóvel do mero andar de burro. Vulgar burricada.
«Entrada e dança dos Zéfiros», Atys; Tragédie en musique, Acto II, Cena IV (Jean-Baptiste Lully 1676)
Coro e orquestra, Les Arts Florissants. Maestro, William Christie.
Bailarinos, Compagnie Fêtes Galantes e Gil Isoart, da Opéra Nacional de Paris.
Diz que o governo caiu… — O governo?!… A comissão liquidatária. A XXIV.ª desde o grande acidente nacional [fora as seis provisórias que pouca diferença também fazem]. Isto se lhe não devêssemos chamar antes administração de falências em vez de comissão liquidatária. Pouco importa. O caso é que assim como assim, é democrático, embora não tão democrático como a ordem alfabética. Mas é democrático. Logo, é bonito. E bem assim, sagrado, Deus nos valha!….
Pois, diz que caiu. Não sei se com estrondo. Não ouvi nada. Soube pela senhora já ao depois da ceia; a madrinha disse-lho quando falaram ao telefone, ao serão.
Talvez tenha tombado antes, quando me caiu ao chão a ardósia electrónica (em português, ipad; o i lê-se ai, também em português, como em icebergue). Caiu, fez pum no tapete da sala e até a senhora me preguntou da cozinha, que era aquilo. O pum da ardósia electrónica a bater aqui no chão da sala deve ter abafado o peido mestre lá de S. Bento.
Ou então não houve por lá estardalhaço. Como acontece agora quando o Benfica marca um golo, em que já ninguém berra. Ficamos sem dar conta. Deve ser de sobrarem cada vez menos naturais autênticos por aqui: a bola — até o próprio Benfica dos 6 milhões e dos 400 000 sócios — e os trambiqueiros de S. Bento, passe alguma redundância, devieram curiosidade de escasso eco no vulgo que deambula agora na' ruas e até nos cafés de Lisboa. O arruído tornou-se outro. Qualquer dia, nem os sinos de finados… Provàvelmente só almuadens aos megafones das almenaras.
Conclusão?
O Benfica e a democracia são bem já realidadezinha de sofá. Quentinha e confortável, só existe pela televisão. Com a maldita televisão desligada sobra o mundo ali fora, que é coisa diferente.
Ilustr.: Maria Keil, Luís Filipe de Abreu, in Livro de Leitura da Segunda Classe / Judite Vieira et al. — 1.ª ed. — Coimbra, Atlântida, 1968.
Jean Baptiste Lully: Trop indiscret Amour («Lira» de Orfeu e canto de Eurídice, in Ballet des Muses, 1666).
Julie Roset (soprano), François Lazarevitch (maestro) e Les Musiciens de Saint-Julien, 2024.
A música na pauta não sei ler, mas o texto sim. É francês. Do séc. XVII (sçay, tousjours, loix). Já se não faz.
E gosto de ouvir.
Soavam audíveis no francês de Lully, Molière e Quinault as consoantes finais S, X, R e T (rigoureux, deux, dangereux, heureux, loix: aimer, amant; douleurs, pleurs, tousjours, malheurs).
O ditongo oi (pouvoir, loix) soava realmente oí, como se ainda ouve no Canadá.
Para ajudar recordo o a, e, i, o, u do Sr. Jordão, ou melhor: La leçon d' Orthographe de M. Jourdain, no justo francês da época.
M. Jourdain (Olivier Martin-Salvan) & le maistre de philosophie (Benjamim Lazar), La leçon de l' orthographe.
Martin Fraudreau (real.), Le bourgeois gentilhomme; commédie-ballet de Molière et Lully. 2005.
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