Estava a ler esta notícia sobre onomástica (perdão, genealogia dos nomes) e a dado passo, que treslado mais em baixo, lembrou-me que dantes havia Santiagos, inteiros. Mas os Tiagos agora estão muito mais na moda. Assim mesmo: truncados. Seriam o equivalente aos Tantónios se o Santo (António) tivesse decaído em São, como o Tiago…
(Parece bem que as modas trincaram o santo e o santo foi truncado e, pelo meio da trunca/trincadela ocorrem-me também agora as Sões, que são a final Conceições truncadas, ou trincadas. Mas adiante.)
Os ingreses vieram ao depois — diz lá na notícia; só não diz quando foi, é curioso… — Vieram ao depois enriquecer-nos onomástica e culturalmente os Tiagos com os seus James. E assim cá temos Jaime, à portuguesa.
Não diz ela (a notícia, nem quem na dá) que Jaime também é castelhano. E catalão (Jaume). E francês (James, Jacques). E italiano (Giacomo). E que todos, incluído o inglês, se formaram do baixo latim Jacomus, que já vinha do alatinado Jacobus tirado do Jacob hebraico.
Outro aspecto curioso é a relação entre nomes que parecem distintos, mas que têm a mesma origem. Por exemplo, Tiago, Santiago e Iago derivam todos de Jacob [Ya’acov, no hebraico], que, ao longo do tempo, foi sendo adaptado às diferentes línguas e contextos históricos. O mesmo nome chegou ao inglês como James, que depois, pela influência inglesa, adoptámos como Jaime. Mais tarde, com o domínio filipino, herdámos Diego, que deu origem ao nosso Diogo […]
Porém, chegado ao Diogo parei. (O sublinhado é meu). Que Diogo é variante portuguesa de Tiago já sabíamos, mas tive de parar porque ante o Diogo filipino preciso de ir já, já ali esquecer-me de dois Diogos do séc. XV, o de Teive e o de Azambuja: um que descobriu as ilhas ocidentais dos Açores no tempo do Infante; o outro que levantou o castelo da Mina no reinado de D. João II.
Nunca existiram.
Em Portugal, sei agora de ciência certa e incontestada, só houve Diogos ao depois de os Filipes de Espanha virem para cá com Diegos.
(E ainda, cá para mim, do tal James inglês que adoptámos como Jaime, apesar de a notícia dizer que foi por influência inglesa, o que eu acho mesmo é que foi por algum influencer amaricano.)
É inodoro, indolor…
Havia uma anedota dum alentejano no Aquário de Vasco da Gama (quando havia só aquários, os oceanários eram ainda modernidade não engendrada pelo chic do progresso, e o Vasco da Gama não tinha ponte nem torre para os lados de Beirolas).
No Aquário de Vasco da Gama um alentejano viu um japonês ante um aquário. Quando o japonês olhava para cima, os peixes nadavam para cima; quando o japonês olhava para baixo, os peixes nadavam para a baixo; o japonês olhava na diagonal, os peixes nadavam na diagonal…
Isto admirou o alentejano.
— Compadre! Vossmecê olha para cá e os pêxes chegam-se. Vossemecê olha para alẽm e os pêxes vão. Como faz vossemecê tal?
Respondeu o japonês:
— É o podêl duma mente supeliôl sôble uma mente infeliôl.
Daí a um pedaço estava o alentejano ao olhar para o aquário abrindo e fechando a boca como um peixe.
Neste além e aquém Tejo perdido de si à beira-mar do alheio, os títulos do que se há-de dizer e anunciar já nem saem das tolas em vigor sem ser em amaricano. Não podem. É um imperativo. Vê-se nas televisões, portanto é e não pode deixar de ser, lei natural. Não sendo em amaricano, bem entendido, nem nunca haveria de sair das tolas em vigor. Logo, não vigoraria, já por falta de certificação e reconhecimento, já por nulidade a qualquer entendimento, por conseguinte.
E as tolas em vigor são tão vigorosas de seu natural que, naturalmente, dão para abafar toda a tola menos vigorosa; assim como os peixes ao alentejano. Daí não ser ridículo que o imperativo da segunda pessoa do plural do verbo rir se sujeite à limitada linguagem de quem nunca fabricou palavra para distinguir a condução automóvel do mero andar de burro. Vulgar burricada.
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