Partio Pedralṽʒ cabral pera a India ẽ 9• de março por capitão mór de treze Vellas, Naos, Nauios, Carauellas, das quaes com hũ temporal Rijo que lhe deu na trauessa do brazil pera ho cabo de boa esperança se perderão quatro /• & de todas, estes erão os Capitães.__
Memória das Armadas que de Portugal passaram à Índia, 1566.
Manuscrito ilustrado da Academia das Sciencias de Lisboa, apud Luís de Albuquerque, Navegadores, Viajantes e Aventureiros Portugueses; sécs. XV e XVI, vol. I, [Lisboa], Círculo de Leitores, imp. 1987, p. 131.
* * *
Júlio de Castilho disse 8 de Março. Algures li ontem também 8 de Março não me lembra já onde, numa cronologia qualquer do dia, na rede. Não sei onde o mestre Júlio de Castilho se informou nem se a cronologia da rede foi catar o 8 de Março lá nele ou noutro lado que desconheço. Certo é que o Livro das Armadas, diz 9 de Março, e Jaime Cortesão nos Descobrimentos Portugueses (vol. III, Lisboa, I.N.C.M., 1990, p. 725), que consultei agora, repete o 9 de Março.
Sejam 8 ou 9 de Março de 1500 — que não foram há muito, foram só 525 anos —, vale aquela tirada do velho cronista que dizia em cousa tão antiga, certidão não pode haver. Mormente em tempos como os de hoje em que de ontem se já perdeu memória…
E bem, da partida de Pedralṽʒ cabral pera a India fica a página do Livro das Armadas, de que gosto muito e que gostei muito de decifrar quando a vi no livro de História do 8.º lyceu (ou talvez já neste donde a agora tirei, que a memória falha-me bastante, como vamos vendo…)
Tanto assim (o fascínio destas cousas), que certa vez, em Montreal, no Canadá, tropecei numa exposição de cartografia do descobrimento do Novo Mundo onde havia expostas reproduções de cartas e portulanos portugueses e entre elas esta agora do Livro das Armadas. Pois não me contive e pus-me a ler em voz alta que No Anno de 1500 tal e tal, e que estes erão os Capitães, e do mais que lhe sucedeu, para pasmo de quem por lá estava e embaraço de quem me acompanhava.
Fica o exercício (decifrador) ao interesse do benévolo leitor que o queira fazer.
Addendum: consultando agora João de Barros no Liv.º V.º da Década Primeira da Ásia, fico esclarecido;
Chegado o tempo que as náos eſtauã préstes pera poderem partir, foy elrey q̃ entam eſtáua em Lixbóa hũ domingo oito dias de março do anno de mil & quinhentos, com toda a corte ouuir miſſa a nóſſa ſenhora de Bethlem que é em raſtéllo: onde já as náos eſtáuam com ſeu alárdo de gente dármas feito. Na qual miſſa ouue sermão que fez dom Diogo Ortiz biſpo de Cepta, q̃ depoys foy de Viſeu, todo fundádo ſobre o argumento deſta jmpreſa: eſtando no altar em quanto ſe diſſe a miſſa aruoráda hũa bandeira da cruz da órdẽ de caualaria de Chriſto, q̃ no fim da miſſa o meſmo biſpo benzeo. E de íy elrey a entregou a Pedraluarez Cabrál, cõ a ſolẽnidáde de paláuras que os taes auctos requerem […]
[Finda a missa, foi a bandeira da Cruz de Cristo em procissão solene com relíquias e cruzes levada à praia, onde Pedro Álvares Cabral e os capitães beijaram a mão a el-rei e se despediram ante muito povo que, por ser dia de festa, acorreu de Lisboa à praia e aos campos de Belém, com muitos em batéis a rodear as naus.]
Ao ſeguinte dia que erã nóue do mes de março deſferindo [soltando] ſuas vélas que eſtauam a pique [i.é, recolhidas, amarradas nas vergas]: ſayo [saíu] Pedrálvarez cõ toda a fróta […]
(Ásia de João de Barros: dos feitos que os portugueses fizeram no descobrimento e conquista dos mares e terras do Oriente, Primeira Década, Fac-símile da 4.ª ed., conforme a ed. princeps, rev. e pref. de António Baião, Coimbra: Impr. da Universidade, 1932, reed. I.N.-C.M., 1988, pp. 171-172 [fls. 54, v.-55].)
O arquitecto e os associados bem podiam ter esticado o bracinho por ali acima para alinhar os andares tortos e fazer o prédio direito. Mas não. Ficou-lhe curta a mão. O normal da arquitectura mais… evoluída.
Hotel Evolução (Evolution Lisboa Hotel, em português), Lisboa — © MMXXV.
8 de Março de 1500. — Sai de Lisboa Pedro Alvares Cabral, que em 4 de Maio seguinte descobre o Brazil. (Júlio de Castilho, Fastos portuguezes; poema em seis livros, Lisboa, Livr. Ferreira, 1918, pp. 82-84.)
Há uma história que o… (falta-me agora um adjectivo; o benévolo leitor ponha o que entender) do Almeida Santos contou e eu ouvi já me não lembra onde nem quando, em que uns entreguistas (Almeida Santos incluído) foram negociar uma entrega com a Frelimo do Samora Machel. Isto já depois do grande acidente nacional. A entrega está mesmo a ver-se do que foi… Foram e negociaram (diz que sim…), mas ao depois do grande acidente nacional já ninguém ia daqui em posição de fôrça para negociar nada, como é fácil de entender. Tudo ruíra (ou colapsara, como se diz agora em português de mentecaptos). Portugal acabara de se derrotar. Logo, negociar com a Frelimo e quejandos era mera aceitação de termos — como o Zé da Ucrânia ontem com os rufiões da América, apesar do estrebuchar que encenou e acabou mal. — E o caso vê-se do que o (qualificativo ao critério do benévolo leitor) do Almeida Santos contou.
Contou ele que pelo meio da conversa corrigiu duas ou três vezes o seu camarada Samora num galicismo que em que este último reincidia a miúdo, dizendo-lhe — ó caro amigo/camarada (riscar o que não intressa ou não riscar nada), olhe que isso (o galicismo) é galicismo!
Resposta do Samora:
— Càmarada Almeida Santos, olha que o portugués àgora já não é só téu!
É o que dá tolos em posição de fraqueza porem-se a jeito e deitarem-se a negociar com rufiões de má catadura. Felizmente não deu pela televisão, mas o imbecil do Almeida Santos ainda assim deu em contá-lo (parece que orgulhoso, até…)
Almeida Santos e Soares sorridentes com o Samora, Moçambique, [s.d.].
Rui Ochôa, in Expresso, 19/I/16.
(Revisto e augmentado às cinco para as sete da tarde.)
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