A queda em desgraça de grandes beldades ou de vedetas do desporto com a marcha do tempo é duma tristeza deprimente.
Ser medianamente capaz ou talentoso tem o seu lado bom. Porque me haveriam de ralar as rugas, o reumático, o declínio da idade? Desde o princípio que estou na média.
Fazer doze no Totobola é coisa mais vulgar do que treze. Mas no que toca a falar-se dele é ao contrário. Do que se sempre fala sempre é do treze, quere se faça, quere se não faça. Há ele até umas rhythmas meias esquecidas que me lembram agora:
Com um brilhozinho nos olhos
Dissemos, sei lá,
Tudo o que nos passou pela tola
Do estilo: és o number one
Dou-te vinte valores
És um treze no Totobola
Claro que acabar o passo com És um doze no Totobola não passaria pela tola. Dizer, do estilo, és o number two, dou-te dez valores, és um doze no Totobola — não poria nenhum brilhozinho nos olhos a ninguém. Se pusesse, seria um brilhozinho nos olhos, de choro, tal a mediocridade da conversa. E às duas por três, beber um copo nem dava para fazer o quatro nem para pintar o sete. Por tais contas, calhando, só bebendo uns poucos de copos antes, não só um.
O Godinho não fez portanto por tanto nem por menos.
Por isso soube-lhe a pouco e a tanto.
Sérgio Godinho, Com Um Brilhozinho nos Olhos
(Versão sonora do álbum Canto da Boca, 1981, c/ imagens ao vivo no Coliseu de Lisboa, 1995)
![12 no Totobola [fictício]. Concurso n.º 1 do Totobola, bilhete 870332, 24/9/1961.](https://live.staticflickr.com/65535/54911750259_4bff3cef18_b.jpg)
12 no Totobola. Bilhete 870 332, Concurso n.º 1, S.C.M.L., 24/9/1961.

Diario de Lisbôa, Domingo, 24 de Setembro de 1961.
Nota: Qualquer realidade de factos, pessoas, ou lugares com a coincidência, é mera semelhança.

Portinho da Arrábida, Portugal, 195….
A. n/ id., Col. Fundação Portimagem, in Flickr.

Portinho da Arrábida, Portugal, post 1969.
A. n/ id., Col. Fundação Portimagem, in Flickr.
Qual o pior louco?
O marado dos cornos que resolveu que era uma gaja?
Os alucinados (ir)responsáveis que o tomaram por bom do tino, encarcerando-o numa prisão de mulheres?
O jornalista imbecilizado que baralha a gramática e cauciona na notícia uma loucura pegada?
É preciso chegar mesmo, mesmo ao fim da notícia para ler de maneira menos obscura que raio de merda é esta. Alguém que manda nas prisões decidiu sem pestanejar meter um condenado doido varrido em prisões de mulheres só porque o gajo acha que é mulher!
O Sindicato Nacional do Corpo da Guarda Prisional (S.N.C.G.P.) também já reagiu, considerando que esta situação «coloca em causa a segurança prisional» e defendendo que a reclusa [sic] «deveria ter sido colocada [sic] numa ala de segurança da cadeia de Monsanto [masculina], e não junto de mulheres e crianças na ‘Casa das Mães’».
Porém até o sindicato acerta mal, porque também refere no feminino o gajo condenado, que deveria ter sido colocada numa prisão de alta segurança.
Chegados aqui, onde haverá prisão ou manicómio para todos estes figurantes?
Alberto Pimentel, «Santos e defuntos», in Espelho de Portuguezes, v. II, Lisboa, Parceria A. M. Pereira, 1901. pp. 113-119.
A civilização parece rodar as modas, mas, tirando a estupidez, a inculca muita vez é outra. Barbados de três dias de repente ficaram a ser cheios de estilo, charmosos até. Dantes andar barbado era simplesmente desaprumo, quando não rudeza, baixa, reles.
De baixeza reles fez-se ele moda… Isto e muito mais…
Quando vieram para aí com a moda das barbas à António Variações — à hipster, chamaram-lhe (estas modas hão sempre de ter nome estrangeiro que é para serem fashion) — Esta merda agora traz coisa!… — desconfiei.
Modas disparatadas não são novidade, mas esta cheirou-me a esturro.
— Quem é que que eu sei de barbas hirsutas, por fé e tradição? — cogitei cá com os meus botões.
— Uma malta mais lá para Oriente: padres ortodoxos gregos e, mais além, da Turquia em diante e para baixo, toda aquela seita da mafoma. Todos de barbicha de bode, sem bigode, coisa de ortodoxia religiosa também (suna), claro. Mas não só imãs, mulás, aiatolas e andrajosos quejandos. Não. Aquela seita toda faz questão de usar tal adorno chibante por distinção orgulhosa, para elevar-se ante os (dizem eles) infiéis (kuffar). Isto é mesmo assim, e no entanto, racismo e xenofobia só se colam aos últimos, aos ditos infiéis, a nós, cristãos; colagem auto-infligida, para cúmulo, mas logo aproveitada… Enfim!…
Por cá só a ciganada de luto se via com barbas desgrenhadas e por aparar naquele desalinho repelente; herança ancestral por ventura, ou não fossem os ciganos entroncar linhagem ao Oriente. Neste e noutros modos seus os vestígios dos hábitos da mafoma não são poucos…
Pois bem, os barbudos impingidos pela moda hipster, que fazia por ser coisa bem amanhada e até com tesoiradas de artista, o mais que me pareceram foi serem uma espécie de idiotas úteis a uma inculca insidiosa. Desde os barbudos da Sierra Maestra, do M.F.A. e do P.R.E.C. (passe tanta redundância) o ver-se barbudos por aí em geral e a pontapé era raro. Lá um ou outro como o Santana Lopes nos anos 80 e 90, tudo isso coisa já passada, como a moda das pêras à Deus Pinheiro e à Marcelo Rebelo de Sousa no Expresso (o Marcelinho da Gente).
Mas a barbeirice repenicada e barba à hipster tornada moda pareceram-me de maneira a se não haverem de estranhar barbudos por aqui e, desde logo, a normalizá-los pela surra até se a coisa entranhar. Passo seguinte e a moda das barbas pròpriamente à hipster passava, mas os barbudos deram de pressa no trivial do homem que se visse na rua. Tão natural cá como nessas cidades de Fez ao Cairo, de Istambul a Islamabad. Só faltou o turbante dos aiatolas, mas até isso no fim se resolveu. É sempre engraçado ver passar o Sandokan!… (Ou centenas dele…)
E assim, nem meia dúzia de anos dessa inculca dos hipsters, demos em ver passar com maior das naturalidades nas nossas ruas essoutros barbudos da mafoma, coisa que muitos, não por acaso, estranharam menos, não estranham já de todo, ou até gostam.
Pois, não é ver tanta dessa malta nova, nativa, ainda de barba rala e a querer aparecer barbuda?
Como isto corre e se entranha, só visto, porque até gajas se vêem para aí agora com fartura que enfiam o barrete do véu islamita quais aberrações tão velhas como a da mulher barbuda do circo dos horrores. E são gajas de cá, não de importação. Talvez a barbicha de bode lhes não ficasse mal…
E por fim! Em reacção a esta inculca barbosa, consciente ou inconsciente, parece-me que gira agora aí a moda do bigodinho à Tonico Bastos, como no rapaz Afonso da Reconquista. Não sei se é com Afonsos assim que vamos lá…

Tonico Bastos (Fúlvio Stefanini), Gabriela, 1975.
A. n/ id., in IMDb.
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