Sábado, 15 de Dezembro de 2007

Rua de Arroios

 A Rua de Arroios, quem lá passe hoje, parece que encolheu. Este desafogo todo há perto de setenta anos mostra que não fazia concorrência à Av. Almirante Reis. Uma carroça pouco acima do prédio de esquina, no sítio onde foi a fábrica da Cerveja Leão - anteriormente tinha sido ali o palácio do Conde de São Miguel - e umas poucas pessoas fazem todo o movimento da rua. O ar de arrabalde industrial é notório: à esquerda, em segundo plano, a fábrica dos Lanifícios de Arroios, onde foi outro palácio: o dos Condes de Mesquitela. Acho-lhe mais graça assim. Sempre gostei dos arrabaldes industriais de Lisboa com reminiscências de velhos solares e palacetes fidalgos.

Rua de Arroios, Lisboa (E. Portugal, 1940; A.F.C.M.L., A10444)
Rua de Arroios, Lisboa, c. 1940.
Eduardo Portugal in Arquivo Fotográfico da C.M.L..

Palácio dos condes de São Miguel (Quinta de Arroios)

Ruínas do palácio dos Condes de São Miguel, Arroios, c. 1900 (A.F.C.M.L., A1690)
Ruínas do Palácio dos condes de São Miguel, Lisboa, 1940 c. 1900.
Espólio de Eduardo Portugal (?) in Arquivo Fotográfico da C.M.L..

 Em fins do séc. XVI o fidalgo Diogo Botelho, descendente dos alcaides de Almeida (séc. XV) que estivera com el-rei D. Sebastião em Alcácer Quibir, levantou nestes terrenos as casas e a quinta de Arroios. Foi este Diogo Botelho partidário de D. António, Prior do Crato, em 1580, tendo-lhe dado aposentadoria nestas suas casas antes de ele enfrentar o duque de Alba na batalha de Alcântara. O título de conde de S. Miguel, porém, só foi criado em 1633 por Filipe III a favor de D. Francisco Nuno Álvares Botelho, neto de Diogo Botelho, que veio a herdar estes terrenos e granjeios, os quais passaram ao depois para a Casa dos Condes dos Arcos. Posteriormente (não consegui apurar quando) a fábrica das Cervejas Leão, que perdurou até 1916, ocupou o lugar da antiga quinta; tinha um grande pátio que se estendia para os terrenos onde eram as casas - certamente já em ruínas - dos Condes de S. Miguel. Quando o Norbetrto de Araújo por aqui peregrinou em 1939 (vol. IV, pp. 79 e ss.) era uma serração de madeiras que havia ali no lugar do nº 48, logo acima da esquina com a nova Rua Francisco Foreiro.


Nota: revisão do verbete com introdução de texto em 16 de Dezembro às 11h da noite.

 

Escrito com Bic Laranja às 22:19
Verbete | comentar
25 comentários:
De Bic Laranja a 16 de Dezembro de 2007
Os automóveis 'encolheram' a rua, portanto. Cumpts.
De jose quintela soares a 16 de Dezembro de 2007
A rua não encolheu...os automóveis estacionados, alguns em segunda fila, é que a apertam.
De Bic Laranja a 16 de Dezembro de 2007
Obrigado! Não sei. Posso procurar, mas não sei. :) Cumpts.
De T a 16 de Dezembro de 2007
Belo postal:)
Por acaso precisava de lhe perguntar uma coisa.
Onde está no nosso precioso arquivo a casa onde morou o Alves dos Reis, o tal palacete do brasileiro, na Rua Luís Fernandes, ou Travessa de S. Marçal anteriormente. Isto está arabalhoado mas tenho um cozido à espera:)
Cumpts
De Rosario Wadie a 5 de Janeiro de 2012
Ola Bic Laranja
De ha muito que leio o seu blog sobre Lisboa, e que adoro tanto a informacao como o seu estilo, embora nunca lhe tenha escrito. Ha' 45 anos que vivo no estrangeiro e as saudades sao bastantes embore visite regularmente, mas tudo mudou e gosto de ler sobre "coisas antigas". Interessou-me particularmente este e o da Igreja de Arroios para mais que eu morava perto, na R. Antonio Pedro.
Devido aos seus conhecimentos, gostava de lhe perguntar se nao havera' fotografias da capela de St.a Rosa de Lima que pertencia ao palacio dos Senhores de Murca/Mesquitela. Segundo consta, era ai' que funcionava a paroquia de S. Jorge de Arroios enquanto construiam a igreja no Largo, durante a decada de 1820. 'E que um bisavo meu foi la' baptisado e ficava-lhe muito lhe agradecia se, por acaso, conseguisse uma foto da dita Capela.

Um Bom Ano de 2012 com muita saude, alegria e .... mais blogs!

De Bic Laranja a 5 de Janeiro de 2012
Obrigado pelas suas gentis palavras e pelo apreço. Votos de bom ano também para si e todos os seus.
Da capela de Santa Rosa de Lima desconheço imagens. Mas gostava de conhecer. Aqui, em 39, já o palácio Mesquitela dera em fábrica de lanifícios. Não sei agora ao certo quando foi que o palácio deu lugar à tecelagem. Tenho ideia duma fotografia de à roda de 1900 que já mostra a tecelagem onde há-de ter sido o palácio Mesquitela. Sei que Luiz Gonzaga Pereira Nos deixou desenhos e descrições de igrejas reportadas ao ano de 1833. Pode ser que tenha nos tenha deixado algo sobre esta capela.
Feliz ano novo.
De Rosario Wadie a 6 de Janeiro de 2012
Agradeco a sua resposta e a sugestao Luis Gonzaga Pereira, que irei investigar. Se encontrar alguma coisa nao deixarei de o avisar.
So como curiosidade, encontrei um artigo (se calhar ja conhece!) http://geo.cm-lisboa.pt/fileadmin/GEO/Imagens/GEO/Livro_do_mes/Vieira_da_Silva/Dispersos/MON_69-P_PART_03.pdf com a historia da freguesia de S. Jorge de Arroios (pag. 233)e onde diz que o palacio ficava mesmo em frente 'a Rua Marques da Silva, o que confirma a sua fotografia. Contudo, encontrei tambem esta foto
http://www.flickr.com/photos/azfred/2311626391/
onde, o que dizem ser o edificio da fabrica, 'e um pouco mais adiante!
De Bic Laranja a 8 de Janeiro de 2012
A fotografia que eu referia e justamente a que me indica.
É importante o que diz sobre o lugar exacto do palácio Mesquitela. O atlas de Filipe Folque de 1858 parece situá-lo nos terrenos imediatamente a S da embocadura do Caracol da Penha, no lado ocidental da Rua de Arroios. Guio-me por um jardim de buxo nas traseiras dessas casas no desenho do «Atlas». Nos terrenos que eram adjacentes pelo N não assinalam construções em 1858. O palácio ficaria pelos n.ºs 87-89 da Rua de Arroios. Arrisco a capela mais para o 87.
Tem um fragmento do mapa na Quinta da Imagem.
Cumpts.
De Rosario Wadie a 8 de Janeiro de 2012
Interessantissimo o artigo sobre a Quinta da Imagem! Quantos dos seus blogs ainda me falta ler.....
Realmente faz sentido que aquele elegante jardim fizesse parte do palacio e esta' no sitio correcto de acordo com o artigo que enviei.
Posso estar a dizer uma asneira mas eu interpreto a sua foto aqui acima desta forma: A 1a. casa 'a esquerda, so de 2 andares, com varandas e em frente da rua Caracol da Penha/Marques da Silva, seria o antigo palacio e mais adiante o edificio de 3 andares (o da tal outra foto) seria uma construccao mais nova nos tais campos ao lado do jardim.
Claro que posso estar errada mas 'e o que me parece.
Enfim, o ter conseguido localizar o sitio, mesmo que seja com uma distancia de metros, ja foi um grande exito!
Estou a fazer uns apontamentos sobre a "historia da familia" para deixar a minha filha e netos e gosto de por algumas informacoes sobre os locais por onde andaram. Os seus escritos tem sido valiosissimos para mim.
De Bic Laranja a 8 de Janeiro de 2012
Não conhecia o artigo. Falta-me justamente esse volume dos «Dispersos».
Obrigado!
De Bic Laranja a 8 de Janeiro de 2012
Primeira forma!
Guio-me agora pelo Mestre Castilho que nos legou uma planta com os palácios da Rua de Arroios («Lisboa Antiga. Bairros Orientais, v. IX, p. 119). Indica o palácio do Conde de Mesquitela no lugar exacto do assentamento do viaduto da Rua Pascoal de Melo, em gaveto com a velha Travessa da Cruz do Tabuado (hoje Rua Aquiles Monteverde). As casinhas velhas que ainda existem hoje a Sul do dito viaduto eram contíguas ao palácio e cuido que são as mesmas que vêm assinaladas no Atlas de Filipe Folque. Imagino que os terrenos e as casas que mencionei acima ficassem nos domínios do conde de Mesquitela, pois foi no seu lugar que se veio a instalar ao depois a tecelagem. As casinhas que permanecem seriam porventura do pessoal da quinta; algumas arrendadas, quiçá...
Cumpts.
De Rosario Wadie a 9 de Janeiro de 2012
Estavamos a escrever ao mesmo tempo!
Mais uma vez o meu muito obrigada pela informacao adicional e a sua atencao ao meu caso. Estou descobrindo coisas que nunca imaginei sobre a zona onde vivi os meus primeiros 21 anos!
Com os melhores cumprimentos.

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