O Mané-Mané era um velhote que morava numa barraquinha de platex, cartão e lata. Usava sempre uma boina à francês, preta, e andava ao papelão. Sempre que alguém lhe dava alguma coisa ele dizia obiado! e seguia agradecido até casa repetindo o agradecimento. A miudagem da rua, gostávamos de o ouvir dizer aquilo; dávamos- -lhe caixas de cartão que arranjávamos só para o ouvir repetir obiado! obiado! obiado!, rua abaixo até casa. Depois o Mané-Mané nunca mais se viu e esqueceu. Lembrou-me ainda dele uns tempos após, quando ao depois vi isto no programa Abre-te Sésamo.
Os Marretas, Manã-Manã (ou Mané-Mané, cá no meu conceito).
O "Mané-Mané" viveu os seus últimos tempos numa barraca situada em frente Escola Primária 28 (actual Escola Básica Engº Duarte Pacheco). Não muito longe morava também o "Bolé", outra figura típica. Sinal de que as coisas melhoram com o passar do tempo é que os antecessores dos putos bondosos que lhe davam caixas de cartão, preferiam antes perseguir o pobre do velho, gritando: "ólha o Mané-Mané que matou a mulher à fome", só para o verem correr, num desatino, tentando apanhar, infrutíferamente, algum dos provocadores. A coisa só acabava qundo o "Mané-Mané" desistia, esfalfado, ou aparecia algum adulto que impunha a sua autoridade. Noutras ocasiões, as senhoras que, à janela, davam a sopinha aos meninos intimidavam-nos, apontando-o como sendo o "Homem do Saco". O bom do "Mané-Mané" alinhava na comédia, fazendo cara feia e brandindo o seu inseperável saco de serapilheira. Às vezes os resultados não eram os esperados pois a criancinha, tomada de pânico, desatava em pranto histérico e acabava mesmo por não comer a sopa. Deviam ser os antepassados de algumas criancinhas de hoje, muito atreitas a traumas. Deve ter falecido por volta de 1974, levando com ele a origem da sua alcunha. Requiescat in pace. A.v.o.
Ó attenti, em 1974? Nahhh, morreu bem mais tarde. eu não quero mandar uma data, assim, para o ar, mas lá para 1980 ainda havia a barraca e o seu proprietário. não?
Por não ter a certeza da data, iniciei o parágrafo com " Deve ter...". Vi-o, claramente visto, vivinho da costa, aí por Maio de 1974. Mais tarde, constou-se que estava muito doente. Daí a hipótese de ter falecido nesse ano. Ao certo, sei que a barraca sobreviveu bastante mais que o locatário e parece-me que não voltou a ser habitada após a morte deste, o que era comum à época, naquele local.
Nunca! Mané-Mané há só um, o da Picheleira e mais nenhum! E não está só. Podem juntar-se-lhe, o Vidigal, o Lázaro, o Luís Maluco (este como sócio de mérito, pois tinha domicílio na Qtª do Dr. Lobo, ao Areeiro), a Queijoca, o 27, a Pona, etc. Ditosa pátria, que tais filhos acarinhaste. A.v.o.
Houve dois. Tenho a certeza. Na Picheleira, claro.O que o Pitxaime fala é do segundo. Obrigado pelas coordenadas do Luís Maluco. Tinha uma mota, não era...? Cumpts. :)
Esse mesmo. Tinha uma bela máquina, sim senhor. Uma vez vi-o eu em renhida competição com o triciclo motorizado de um vendedor de fruta, Rua Nova fora, em direcção à Barão de Sabrosa. Se no cagaçal que faziam, ambos os contendores se equiparavam, já em velocidade, o Luís deu um bigode ao triciclo. As últimas notícias que tive dele, através de uma vizinha, a D. Rosa, foram no Verão de 1998. Estava albergado numa instituição de caridade, para as bandas de Algés. Segundo a mesma fonte, encontrava-se de boa saúde mas, por óbvia falta de espaço, tinha abandonado o motociclismo. A.v.o.
As coisas que vossemecê se lembra e sabe! É extraordinário! O Luís Maluco tinha-se-me completamente apagado. Mesmo com todas as corridas que o vi dar na praça do Chile. Cumpts. :)
Obrigado. São as vantagens (se é que há vantagens) da idade: a memória de longo prazo começa a funcionar melhor que a de curto prazo. Ou se calhar é esta que funciona tão mal que a outra parece funcionar melhor. A.v.o.
Como curiosidade, ficou para a história, que após a sua morte, foram encontradas, no "chão" da sua barraca, montes e montes de moedas que serviram para uma valente festa pela ciganada (versão Valdemar / Toy cigano). Abraço.
Também ouví essa história, mas fiquei sem saber se era verdade, ou apenas uma das lendas que, frequentemente, se constroiem à volta das figuras míticas. As vizinhas mais próximas, a tí Maria Sem Cú ou a Aida do Marreco, já não nos podem elucidar por há muito terem seguido o mesmo caminho do Mané-Mané. Mas ainda um dia, resolvo-me a esclarecer estas lacunas da História e quando, em altura de eleições, voltar à velha Escola Primária para votar (nunca mudei o recenseamento para não perder o gozo de poder, finalmente, entrar impunemente na escola das miúdas. São recalcamentos de infancia) passo na tasca do Zé da Esquina a vêr o que é que descubro. E se não resultar, posso debruçar-me sobre a urna dos votos e bichanar um pedido de esclarecimento ao ouvido da filha da Ana dos Cabritos. Que diabo! Um acontecimento tão infaustoso como o passamento do Mané-Mané (para não falar na "herança") deve ter ficado gravado na memória dos contemporâneos.
Maravilhosas as histórias do Mané-Mané e os sons do Manã-Manã! O primeiro infelizmente não conheci, os segundos revisito-os aqui em casa de vez em quando, na sua versão original em DVD. Felizmente o som é igual!... :-)