Sexta-feira, 5 de Setembro de 2008
A minha mãe há-de ter conhecido esta paisagem. Agora lembro-me: ela não dizia que eram campos; dizia sim que eram terras. Campos dizia ela mais para o Areeiro. Destas terras, em 39, quando veio ela para Lisboa, perguntei-lhe algumas vezes quando de quando em vez me dava a curiosidade sobre como fora o local: – "Andavam os terrenos em obras para fazer a Alameda, é só. Não havia grande coisa. Havia árvores e terras." – Nunca consegui eu disto formar uma imagem. E no entanto agora parece óbvio...

Local onde foi construída a fonte monumental da Alameda, Lisboa, 1939.
Eduardo Portugal, in Arquivo Fotográfico da C.M.L..
O portão da quinta dava para a ladeira, ali à direita. Vinha lá de cima da Rua Barão de Sabrosa. Era uma típica azinhaga. O projecto de pavimentação em 1896 deu-lhe foros de calçada. Em 1904 foi alargada graças à cedência dalgum terreno pela srª Viscondessa do Vale de Sobreda. Mais larga porém, é a ladeira que por ali sobe hoje.
A azinhaga que acompanhava o muro da quinta do Alperche no sopé do monte era a Azinhaga do Areeiro. Partia do fundo da Calçada do Poço dos Mouros, à Rua Conselheiro Morais Soares, e entroncava com a Estrada de Sacavém em chegando ao lugar do Areeiro, mais ou menos onde começa agora a Av. Afonso Costa. A quinta do Alperche estendia-se aqui até um pouco mais adiante a caminho do Areeiro confinado com a Quinta do Bacalhau por alturas onde hoje pára a R. José Acúrsio das Neves. Era nesse pedaço que ficava a casa principal da quinta.
O casarão lá no alto não é [mesmo] da quinta e é curioso que ainda existe. Fica na rua Garrido nº 3, um beco sem saída, e também tem serventia pela Alameda, nº 44. Mas por aqui fica bastante recuado, quase se não dá por ele. Vai-se lá dar por um caminho de escadas.
Enfim! Com a Alameda de Dom Afonso Henriques por fazer mas ainda assim reconhecível, era como vedes este lugar das quintas do Fole, do Martins e do Alperche em 1938.

Terrenos da futura Alameda de Dom Afonso Henriques, Lisboa, 1938.
Eduardo Portugal, in Arquivo Fotográfico da C.M.L..
Texto revisto à meia-noite e meia.
Memórias vivas de uma Lisboa que está tão diferente...
Grata pela partilha.
Um abraço 
Foi um prazer.
De Paulo a 5 de Setembro de 2008
Também conhecida por Fonte Luminosa
Sabia que tinha luzes de várias cores? E que os baixos relevos eram também coloridos?
Cumpts. D. Paulo.
De
T a 5 de Setembro de 2008
Lindo este seu texto contado entre afecto e factos.
Livro!
:)
Afecto e factos. Isso!...
Obrigado!
:)
De [s.n.] a 6 de Setembro de 2008
... esclarecido sobre este troço da Estrada de Sacavèm. Muito obrigado... e sem querer abusar, aquela velha casa, ladeada por uma figueira, à esquerda da Rua Alberto Pimentel? pertencia à Quinta do Bacalhau?
Se sse refere ao asilo Sidónio Pais à Barão de Sabrosa pode ser que a casa que lá o antecedeu fosse a principal habitação da quinta.
Cumpts.
O meu pai, que acompanhou de perto a construção do Bairro da Alameda, da Fonte Luminosa e do Técnico, ainda comenta com uma certa revolta as “politiquices” que dominaram as decisões – e alterações – finais.
Diz ele que a Fonte estava projectada para o cimo – a zona mais alta - da Alameda, onde ficaria em destaque e causaria o impacto pretendido. Diz ainda que, por pressões “pouco transparentes” de alguns sectores, esse espaço acabou por ficar destinado ao Técnico e a Fonte foi colocada num “buraco”, onde ficou irremediavelmente condenada.
Verdade ou não… Olhem bem para aquele local e digam-me o que tem de aprazível. Não há dúvida que do lado oposto faria toda a diferença… e por certo não estaria como está!
Abraço
Desconhecia. Mas não desgosto do que foi feito. A fonte foi recuperada há algum tempo mas ultimamente não tenho por lá passeado. Degradou-se já?
Cumpts.
De
Luciana a 13 de Setembro de 2008
Passei lá há pouco tempo e fiquei arrepiada…
As últimas obras lavaram-lhe a cara, mas não resolveram o seu ar desolado – e isolado – e, mais uma vez, foi rapidamente “engolida” pela miséria envolvente.
Penso que qualquer arranjo é inútil numa zona de Lisboa que, tal como está, parece irremediavelmente condenada. A Alameda até é agradável, mas carrega nas suas costas - literalmente - alguns dos maiores problemas sociais de Lisboa. Enquanto isso não for resolvido…
A última vez que me lembro de ver a Fonte com um ar civilizado foi no início da década de 80… Embora já nessa altura muitas das feridas daquela zona estivessem a descoberto.
Abraço
De Atentti al Gatti a 7 de Setembro de 2008
Curiosa a história da colocação da Fonte Luminosa do lado do Técnico, até porque não coincidem na época: O Técnico foi começado em 1927, muitos anos antes da construção da Alameda. Contudo, podiam fazer parte do mesmo projecto. Dessem-lhe as voltas que dessem, as melhoras seríam poucas porque a Alameda/Fonte Luminosa foi colocada de modo errado, no local errado, com os resultados que se conhecem. Daí o nascerem diversas histórias que até a davam como tendo sido pensada para o Areeiro. O mais provavel foi ter-se feito o projecto antes de se achar um local para ele. Com algumas alterações, parece-me que ficaria bem melhor no alto do Parque Eduardo VII. E se os painéis laterais sempre foram coloridos, tal como estão hoje, após o restauro, luzes coloridas foi coisa que nunca conhecí na Fonte Luminosa. Mas enfim, como às vezes as memórias tendem para o prêto e branco...
A.v.o.
Também desconhecia. Quem mo disse conhceceu a fonte desde o início da construção. Ainda palmilhou a Calçada da Ladeira enquanto a desfaziam. Cuido que não fez confusão. Cumpts.
De
Luciana a 13 de Setembro de 2008
Segundo o meu pai, o projecto inicial - anterior à construção do Técnico e à Fonte - já contemplava de facto as duas coisas. Embora o mesmo seja anterior ao seu nascimento, ele recorda bem os pormenores porque foi um dos cavalos de batalha do meu avô e o meu pai viu depois crescer toda a circundante.
Não há vez que lá passe e não comente… Infelizmente não posso confirmar a exactidão e veracidade dos factos. No entanto, gostaria muito de saber "toda a verdade".
Abraço
Quem a poderá contar...?
Cumpts.
Comentar