À tardinha, pouco mais seria do quarto para as oito, o relógio dos bombeiros da Encarnação dava... Devia ser meio-dia e meia.

Quartel do Batalhão Sapadores Bombeiros do bairro da Encarnação, Lisboa, c. 1948.
Mário de Oliveira, in Arquivo Fotográfico da C.M.L..
Caro Bic:
Dada a orientação do quartel dos bombeiros da Encarnação e as sombras projectadas, creio estarmos em presença de uma inversão da imagem, quando o negativo foi transferido para papel fotográfico, coisa aliás muito comum antes do advento da fotografia digital.
O Caro Amigo experimente inverter horizontalmente a imagem, e logo o relógio lhe dará quatro e um quarto, hora mais condizente com a luminosidade da foto e com as sombras que, neste caso, ficam correctas.
Cumprimentos.
De Margarida Pereira a 9 de Outubro de 2008
UAU!!!!!!!!!!!!!!!!!
Isso é que é de Poirot!!!
Obrigado pelo elogio, Margarida :)
Sabe, gosto de exercitar de vez em quando as «célulazinhas cinzentas».
Beijinho.
De Bic Laranja a 9 de Outubro de 2008
Movido pela sua sugestão inverti a fotografia, mas lamento ter que discordar. A imagem está direita. O plano descendente acentuado da rua que se vê à direita corresponde em pleno à Av. de Berlim. É muito desajustado vê-lo na inversão como prolongamento da Av. Cidade do Porto em direcção à Encarnação. As sombras não me oferecem qualquer dúvida admitindo tratar-se dum entardecer do início de Verão - já viu a extensão das sombra da sebe à esquerda do sinaleiro, do sinaleiro e da própria torre do relógio? - Vamos é ter que esperar pelo próximo Verão para comprovar. Só espero que o viaduto da 2ª Circular ou algo entretanto construído não despejem nessa altura somra sobre o quartel. Cumpts.
O meu Caro Bic terá provavelmente razão. E a prova parece estar na colina à direita da Avª da Encarnação, que se vê por detrás do quartel; fui ver as cotas do bairro e correspondem.
Aqui, as minhas «célulazinhas cinzentas» falharam - se calhar influenciadas pelo relógio da torre ;)
E, a propósito do bairro, já reparou que a sua planta representa (sem muitas dúvidas) o aparelho reprodutor feminino - a «encarnação»? Até os ovários estão lá (ruas Circular Norte e Sul)...
Cumprimentos.
De Pedro a 10 de Outubro de 2008
Penso que a direcção da bandeira também pode ajudar a mostrar que a fotografia está bem impressa. O vento sopraria do quadrante Norte, o mais vulgar para um dia de sol, e muito vulgar para um dia de Verão (nortada).
Quanto à configuração do bairro, li algures que pretendia reproduzir uma borboleta, visto estar perto do aeroporto. Será verdade?
Caro Pedro:
De acordo quanto à bandeira. Quanto à borboleta, tanto o nome do bairro como a sua forma e o triângulo feminino logo abaixo (sudoeste) do quartel desmentem-no.
Se fosse para simbolizar o voo, creio que seria mais apropriado dar-lhe a forma de uma ave, uma águia, por exemplo, em vez de uma borboleta.
Aliás, a planta da Lisboa do Estado Novo está cheia de formas e alusões várias, deveras interessantes.
Cumprimentos.
De Margarida Pereira a 10 de Outubro de 2008
Quais? Quais?...
Isso é interessantíssimo e creio que o nosso anfitrião não se oporia - bien au contraire! - que tal informação aqui fosse divulgada.
Tem tudo a ver com os princípios deste local de encanto.
Não me oponho. Apenas ressalvo que o Estado Novo me parece menos esotérico do que possa aqui vir a aprecer. Mas não tenho provas disto que digo. Nem do contrário.
Agradeço o foro que aqui se abriu e que me enriquece o blogo.
Cumpts. :)
Muito obrigado, Caro Bic.
Cumprimentos.
Cara Margarida:
O Estado Novo, tal como o Caro Bic muito bem faz notar, não era muito dado a esoterismos, e a maior parte das formas serão apenas curiosas; contudo, algumas têm um acentuado significado simbólico e mesmo esotérico.
Assim, referenciado o Bairro da Encarnação, aqui vão mais uns cheirinhos:
- O pentagrama invertido da Praça do Areeiro, qual medalha da Ordem da Torre e Espada (a arrepiar a Igreja Católica);
- A forma de pá - ou fálica, se considerada de outro modo - do conjunto IST-Alameda D. Afonso Henriques-Fonte Luminosa;
- A Estrela de Seis Pontas do Marquês de Pombal (uma delas seria - segundo o Plano Director de 1967 - a continuação da Avª da Liberdade pela zona central do Parque Eduardo VII);
- A estranha «taça» no Bairro do Restelo, constituída pela Rua de Alcolena, avenida do Restelo, e com o pé formado pela Avª Torre de Belém e Rua Duarte Pacheco Pereira, com os «adornos laterais», idêntica a uma estranha gravura caldeica que conto enviar por e-mail ao Caro Bic logo que a volte a encontrar entre a minha papelada e a digitalize;
- Ainda no Restelo, a estranha «escadaria» de socalcos formada pelas ruas de Pedrouços,Dom Cristóvão da Gama, Tristão da Cunha, S. Francisco Xavier, Dom Francisco de Almeida, Avª do Restelo e Alcolena, esta de curiosa inspiração maçónico-templária (quiçá tentando complementar outros alinhamentos - esses quinhentistas - existentes na zona e a que me referirei mais tarde);
Há algumas mais formas curiosas, que apontarei quando tiver tempo; mas parece que esta vontade lisboeta de conferir formas geométrico-esotéricas à cidade aparece no início do Século XVI - numa curiosíssima «união de pontos», estes bem demarcados por cúpulas, torres, capelas - passando pela simbologia maçónica de Sebastião José de Carvalho e Melo, que transformou o Terreiro do Paço num Tapete de Loja, com colunas e tudo (embora invertendo o Sol e a Lua, representados pela Rua do Ouro e pela Rua da Prata). Mas aqui compreende-se: queria provavelmente proteger a Cidade de outro cataclismo, seguindo a ritualística que conhecia; só que estes «modernos rapazes» de hoje já mandaram as colunas às urtigas, na construção de um absurdo e problemático troço de metro.
Assim, embora desprovidos dos ideais esotéricos dos nossos Avós, os homens do Estado Novo, numa ânsia revivalista, tentaram desenhar a nova Cidade incluindo cânones semelhantes, num «piscar de olhos» a certas tradições que, provavelmente, não conheceriam muito bem.
Bom, Cara Amiga, o texto já vai longo e a noite alta. O ó-ó espera-me e terei de deixar a continuação - com a permissão do Caro Bic, é claro - para outro dia.
Beijinhos.
De Margarida Pereira a 13 de Outubro de 2008
Extraordinário!
O conteúdo. E a forma.
Uma aula. Adoro aulas. Encanta-me aprender. Mas assim, de ouvir/ler. 'Decorar' matéria sempre me deu um sono enorme.
Isto, assim, é... galvanizante!
Mais?...
Sim!
:)
De Carlos Portugal a 14 de Outubro de 2008
Cara Margarida:
Ora vamos lá então a mais um bocadinho de prosa...
No comentário anterior, referi-lhe uma «união de pontos» e de alinhamentos do Século XVI a formarem formas geométricas e não só.
Ora bem, um dos conjuntos mais curiosos situa-se no Restelo e em Belém, embora já faltem alguns elementos, provavelmente desaparecidos durante o terramoto de 1755.
Se a minha Cara Amiga for consultar o Google Earth, por exemplo, poderá conferir o que passo a descrever:
No início do Século XVI, foram construídas no Restelo três capelas, formando um triângulo equilátero, e situadas nos limites da antiga cerca dos Jerónimos. Restam duas: a de S. Jerónimo, no alto do Restelo, e a do Senhor Santo Cristo, mais modesta, no início da Rua de Alcolena, junto a um dos pavilhões do Estádio do Restelo. A terceira, de que há uma fotografia no arquivo da Câmara de Lisboa, erradamente legendada como sendo a de S. Jerónimo, ficaria no lugar onde hoje existe uma moradia, na esquina noroeste das ruas Dom Francisco de Almeida e Dom Lourenço de Almeida (telhado em telha vermelha e piscina).
Se unirmos esses três pontos por segmentos de recta, obtemos um triângulo equilátero perfeito. Nesse triângulo, se fizermos passar uma bissectriz pelo lado leste (aproximadamente), o seu prolongamento vai tocar precisamente a torre sineira do Mosteiro dos Jerónimos; se passarmos outra bissectriz pelo seu lado nor-noroeste, e a prolongarmos pelo vértice sul-sudeste, atingiremos a cúpula octogonal do Colégio do Bom Sucesso, antigo convento quinhentista. O prolongamento da outra bissectriz não vai dar aparentemente a nenhum ponto de interesse actualmente ainda existente.
Contudo, se pegarmos o vértice Ocidental do triângulo, e a partir dele traçarmos uma semi-recta para sul-sudeste fazendo um ângulo de 36º com o lado adjacente do triângulo, vemos que ela percorre a Avª da Torre de Belém e vai passar exactamente por cima da própria Torre. Ora o ângulo de 36º era um dos mais utilizados na Geometria Sagrada da Ordem de Cristo...
Fazendo um prolongamento da bissectriz que passa pela torre sineira dos Jerónimos, em sentido inverso - mais ou menos para Oeste, portanto - verificamos que ela vai dar aparentemente à Praia da Adraga, no extremo da Serra de Sintra, a qual também tem várias histórias curiosas.
Muito mais haveria para contar, Cara Amiga, mas o tempo é sempre escasso, perdoe-me. Ficará pois para uma próxima «conversa».
E, para dar um mote, a minha Cara Amiga sabe alguma coisa acerca dos «navios de pedra» (são principalmente dos Séculos XII-XIII, e não creio que os haja em Lisboa. Mais para Norte, sim...)?
Com isto despeço-me, até breve.
Cumprimentos.
De Carlos Portugal a 15 de Outubro de 2008
Cara Margarida:
Quanto à fotografia da terceira capela (a desaparecida) que mencionei no meu comentário anterior, a sua referência no arquivo da CML é:
Imagem: AF\img150\A74723.jpg
Código de referência: PT/AMLSB/AF/FEC/S00369
Beijinhos.
De Margarida Pereira a 21 de Outubro de 2008
Já está tudo copiadinho, para ler com calma.
E fazer os TPC!
Obrigada por tanta gentileza...
Xi-coração.
M.
De Luísa a 9 de Outubro de 2008
Ainda há dias li, Bic, que «o homem perderá mais de metade das suas angústias e cuidados no dia em que conseguir esquecer o relógio». O corpo de bombeiros da Encarnação parece estar, portanto, no bom caminho… ;-)
Cara Luísa:
Àparte a inversão fotográfica que apontei, tem toda a razão. E o relógio no pulso dá ares de pulseira electrónica, prisioneiros que estamos da ditadura temporal. Bem mais elegantes - se bem que menos práticos - eram os relógios de bolso. Fora de horas, de preferência!
Cumprimentos.
De Margarida Pereira a 9 de Outubro de 2008
Respeitosamente, discordo...
Adoro relógios (tanto, que os tenho em excesso, dizem...)e para mim são 'máquinas de precisão'. Além de adornos ou objectos de contemplação (de mesa, de parede....).
Causa-me 'brotoeja' quando estão fora da hora 'certa'.
O que mais gosto (bom..., um dos) é duplo.
Gosto de ter a hora de cá e a do país onde esteja, quando em viagem.
O tempo...
Pouco mais há mais encantador, misterioso e intrínseco ao homem do que isso.
O relógio marca essa ligação.
Queiramos, ou não.
(olha! 'bercejei'!)
:)
Cara Margarida:
De certo modo, dou-lhe razão. Gosto muito dos velhos relógios de pêndulo, do seu tic-tac lento e compassado, a fazer-nos sonhar com outras épocas, em que o Tempo se escoava devagar, compassada e lentamente, e não como o Cronos moderno que devora sofregamente os filhos.
E, também eu - helàs - sucumbo ao maniqueísmo da «hora certa»...
Cumprimentos.
De Margarida Pereira a 9 de Outubro de 2008
Então, cá vai :
http://www.clocklink.com/
:)
De acordo com o tiquetaque dos de pêndulo mais o bater das horas, extensivo aos da torre da igreja.
Cumpts.
De Bic Laranja a 9 de Outubro de 2008
É uma maneira positiva de pôr a questão, sim senhora.
Cumpts. :)
Eu já me libertei do relógio e passei a ser pontualíssimo Quanto´à exactidão horária das torres públicas, é coisa para a próxima Encarnação.
Beijinhos e abraços
Se houvesse um supremo arquitecto relojoeiro já a governança teria resolvido.
Cumpts.
E por certo não se atrasaria nem um minuto! :-)
Abraço
Andaria adiantada. Cumpts. :)
De Atentti al gatti a 10 de Outubro de 2008
Já que se fala nisso, também eu confesso o meu fraquinho por relógios. De pulso, como de parede. Cá em casa a única divisão que não ostenta um apêndice desses é a dispensa. Quanto aos de pulso, têm de me agradar estéticamente, serem precisos, à prova de água -porque só os tiro quando os substituo por outro- luminosos -porque gosto de ver as horas de noite- e com um mostrador simples que permita uma leitura clara num relance. Por isso deixei de comprar os Swatch quando eles alinharam na moda de meter muitos ponteirinhos num mostrador só, como se as pessoas passassem a vida a fazer cronometragens.
A divisão do tempo é prova evidente da nossa racionalidade. Ser-se escravo desse tempo decorre, muitas vezes, de outro tipo de escravatura.
A.v.o.
A divisão do tempo: ainda os fracturantes hão-de decretar a escala decimal ISO não-sei-das-quantas.
Cumpts.
De
vasco a 19 de Novembro de 2008
Dos intervenientes deste dialogop sobre o Relógio dos Bombeiros, alguém viu este relógio funcionar?
Eu sou do Bairro e nos tempos idos ele funcionava e às vezes muito bem
Um abraço a todos
Não vi. E já passaram alguns anos...
Cumpts.
De M.Martins a 22 de Agosto de 2014
Waow,nos vélhos tempos aquecia no canto,hein caro Bic!!Pois eu nos vélhos tempos corria nos campos,éra là que recidia o meu cunhado,em Prior Vélho éramos dois energumenos tive o azar(muita sorte) de casar com a sua irmâ,51 ano sem têr acabado aos tabéfes; e foi la tambem que cumpri uma parte do serviço militar na E.P.S.M.Raio de guarita ao bordo da auto estrada foi la que sem sabêr dei os primeiros passos para a conheçênsa do (Filho da Puta) em casa de um Tenente Coronel em Belem...não passe aos concluções apressadas, vou-lhe dar um indicio mas eu sò consegui
ao fim de muitas décadas e graças a um computador John Herring imortalisou o animal.Eu fiquei agradavelmente contente.Cumprimentos,e boas vacances.
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