Quarta-feira, 8 de Outubro de 2008

Meio-dia e meia ao quarto para as oito

 À tardinha, pouco mais seria do quarto para as oito, o relógio dos bombeiros da Encarnação dava... Devia ser meio-dia e meia.

Bombeiros da encarnação, Lisboa (M.Oliveira, c 1948)
Quartel do Batalhão Sapadores Bombeiros do bairro da Encarnação, Lisboa, c. 1948.
Mário de Oliveira, in Arquivo Fotográfico da C.M.L..

Escrito com Bic Laranja às 22:55
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31 comentários:
De Carlos Portugal a 10 de Outubro de 2008
Caro Pedro:

De acordo quanto à bandeira. Quanto à borboleta, tanto o nome do bairro como a sua forma e o triângulo feminino logo abaixo (sudoeste) do quartel desmentem-no.

Se fosse para simbolizar o voo, creio que seria mais apropriado dar-lhe a forma de uma ave, uma águia, por exemplo, em vez de uma borboleta.

Aliás, a planta da Lisboa do Estado Novo está cheia de formas e alusões várias, deveras interessantes.

Cumprimentos.
De Margarida Pereira a 10 de Outubro de 2008
Quais? Quais?...
Isso é interessantíssimo e creio que o nosso anfitrião não se oporia - bien au contraire! - que tal informação aqui fosse divulgada.
Tem tudo a ver com os princípios deste local de encanto.
De Bic Laranja a 10 de Outubro de 2008
Não me oponho. Apenas ressalvo que o Estado Novo me parece menos esotérico do que possa aqui vir a aprecer. Mas não tenho provas disto que digo. Nem do contrário.
Agradeço o foro que aqui se abriu e que me enriquece o blogo.
Cumpts. :)
De Carlos Portugal a 11 de Outubro de 2008
Muito obrigado, Caro Bic.

Cumprimentos.
De Carlos Portugal a 11 de Outubro de 2008
Cara Margarida:

O Estado Novo, tal como o Caro Bic muito bem faz notar, não era muito dado a esoterismos, e a maior parte das formas serão apenas curiosas; contudo, algumas têm um acentuado significado simbólico e mesmo esotérico.

Assim, referenciado o Bairro da Encarnação, aqui vão mais uns cheirinhos:

- O pentagrama invertido da Praça do Areeiro, qual medalha da Ordem da Torre e Espada (a arrepiar a Igreja Católica);

- A forma de pá - ou fálica, se considerada de outro modo - do conjunto IST-Alameda D. Afonso Henriques-Fonte Luminosa;

- A Estrela de Seis Pontas do Marquês de Pombal (uma delas seria - segundo o Plano Director de 1967 - a continuação da Avª da Liberdade pela zona central do Parque Eduardo VII);

- A estranha «taça» no Bairro do Restelo, constituída pela Rua de Alcolena, avenida do Restelo, e com o pé formado pela Avª Torre de Belém e Rua Duarte Pacheco Pereira, com os «adornos laterais», idêntica a uma estranha gravura caldeica que conto enviar por e-mail ao Caro Bic logo que a volte a encontrar entre a minha papelada e a digitalize;

- Ainda no Restelo, a estranha «escadaria» de socalcos formada pelas ruas de Pedrouços,Dom Cristóvão da Gama, Tristão da Cunha, S. Francisco Xavier, Dom Francisco de Almeida, Avª do Restelo e Alcolena, esta de curiosa inspiração maçónico-templária (quiçá tentando complementar outros alinhamentos - esses quinhentistas - existentes na zona e a que me referirei mais tarde);

Há algumas mais formas curiosas, que apontarei quando tiver tempo; mas parece que esta vontade lisboeta de conferir formas geométrico-esotéricas à cidade aparece no início do Século XVI - numa curiosíssima «união de pontos», estes bem demarcados por cúpulas, torres, capelas - passando pela simbologia maçónica de Sebastião José de Carvalho e Melo, que transformou o Terreiro do Paço num Tapete de Loja, com colunas e tudo (embora invertendo o Sol e a Lua, representados pela Rua do Ouro e pela Rua da Prata). Mas aqui compreende-se: queria provavelmente proteger a Cidade de outro cataclismo, seguindo a ritualística que conhecia; só que estes «modernos rapazes» de hoje já mandaram as colunas às urtigas, na construção de um absurdo e problemático troço de metro.

Assim, embora desprovidos dos ideais esotéricos dos nossos Avós, os homens do Estado Novo, numa ânsia revivalista, tentaram desenhar a nova Cidade incluindo cânones semelhantes, num «piscar de olhos» a certas tradições que, provavelmente, não conheceriam muito bem.

Bom, Cara Amiga, o texto já vai longo e a noite alta. O ó-ó espera-me e terei de deixar a continuação - com a permissão do Caro Bic, é claro - para outro dia.

Beijinhos.
De Margarida Pereira a 13 de Outubro de 2008
Extraordinário!
O conteúdo. E a forma.
Uma aula. Adoro aulas. Encanta-me aprender. Mas assim, de ouvir/ler. 'Decorar' matéria sempre me deu um sono enorme.
Isto, assim, é... galvanizante!
Mais?...
Sim!
:)
De Carlos Portugal a 14 de Outubro de 2008
Cara Margarida:

Ora vamos lá então a mais um bocadinho de prosa...

No comentário anterior, referi-lhe uma «união de pontos» e de alinhamentos do Século XVI a formarem formas geométricas e não só.

Ora bem, um dos conjuntos mais curiosos situa-se no Restelo e em Belém, embora já faltem alguns elementos, provavelmente desaparecidos durante o terramoto de 1755.

Se a minha Cara Amiga for consultar o Google Earth, por exemplo, poderá conferir o que passo a descrever:

No início do Século XVI, foram construídas no Restelo três capelas, formando um triângulo equilátero, e situadas nos limites da antiga cerca dos Jerónimos. Restam duas: a de S. Jerónimo, no alto do Restelo, e a do Senhor Santo Cristo, mais modesta, no início da Rua de Alcolena, junto a um dos pavilhões do Estádio do Restelo. A terceira, de que há uma fotografia no arquivo da Câmara de Lisboa, erradamente legendada como sendo a de S. Jerónimo, ficaria no lugar onde hoje existe uma moradia, na esquina noroeste das ruas Dom Francisco de Almeida e Dom Lourenço de Almeida (telhado em telha vermelha e piscina).

Se unirmos esses três pontos por segmentos de recta, obtemos um triângulo equilátero perfeito. Nesse triângulo, se fizermos passar uma bissectriz pelo lado leste (aproximadamente), o seu prolongamento vai tocar precisamente a torre sineira do Mosteiro dos Jerónimos; se passarmos outra bissectriz pelo seu lado nor-noroeste, e a prolongarmos pelo vértice sul-sudeste, atingiremos a cúpula octogonal do Colégio do Bom Sucesso, antigo convento quinhentista. O prolongamento da outra bissectriz não vai dar aparentemente a nenhum ponto de interesse actualmente ainda existente.

Contudo, se pegarmos o vértice Ocidental do triângulo, e a partir dele traçarmos uma semi-recta para sul-sudeste fazendo um ângulo de 36º com o lado adjacente do triângulo, vemos que ela percorre a Avª da Torre de Belém e vai passar exactamente por cima da própria Torre. Ora o ângulo de 36º era um dos mais utilizados na Geometria Sagrada da Ordem de Cristo...

Fazendo um prolongamento da bissectriz que passa pela torre sineira dos Jerónimos, em sentido inverso - mais ou menos para Oeste, portanto - verificamos que ela vai dar aparentemente à Praia da Adraga, no extremo da Serra de Sintra, a qual também tem várias histórias curiosas.

Muito mais haveria para contar, Cara Amiga, mas o tempo é sempre escasso, perdoe-me. Ficará pois para uma próxima «conversa».

E, para dar um mote, a minha Cara Amiga sabe alguma coisa acerca dos «navios de pedra» (são principalmente dos Séculos XII-XIII, e não creio que os haja em Lisboa. Mais para Norte, sim...)?

Com isto despeço-me, até breve.

Cumprimentos.
De Carlos Portugal a 15 de Outubro de 2008
Cara Margarida:

Quanto à fotografia da terceira capela (a desaparecida) que mencionei no meu comentário anterior, a sua referência no arquivo da CML é:

Imagem: AF\img150\A74723.jpg
Código de referência: PT/AMLSB/AF/FEC/S00369

Beijinhos.
De Margarida Pereira a 21 de Outubro de 2008
Já está tudo copiadinho, para ler com calma.
E fazer os TPC!
Obrigada por tanta gentileza...
Xi-coração.
M.

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