A história.
É meia desgarrada.
Em Dezembro de 87 fiz um périplo por terras do Sul. Umas conhecia, outras ouvira só falar, outras nem nada: - Odiáxere foi um nome estranho que aprendi. - Agora que puxei o fio à memória, 87 mostra-se-me como um ano completo, menos radioso e estival do que a sensação que me dá ao ouvir as velhas cantigas que povoaram o meu walkman. Devo ter sublimado as coisas a dado ponto...
O ano começara mal. Em Janeiro falecera-me o avô João e passada uma semana a minha mãe. Os estudos não marcharam; a tropa, inevitavelmente, interpôs-se. Em 88 entraria nas fileiras. Um desabono! Quando a Glória - acho que era Glória, a moça da Norma - me perguntou se queria fazer umas entrevistas no fim-de-semana - "É na província, ganha-se mais", disse - aceitei. - "Vais com o Orlando. Ele leva o carro e orienta o resto."
Quem era o Orlando? Como faria eu...?
Era um engenheiro reformado. Andava naquilo dos estudos de mercado para passar tempo, dizia a Glória. Apresentou-mo. - "Orlando Ferro. Muito prazer!" - e procurou acertar rapidamente as agulhas: - "Moro nos Olivais. Pode estar sábado de manhã a tal hora no Relógio?"
Ficou combinado. Ao pé da Shell.
À hora marcada havia outro freguês da Norma para se juntar a nós que vim ao depois por coincidência a reencontrar na tropa. Mas já lá vamos: às coincidências...
Abalámos à hora marcada e fomos bater Évora e a seguir Beja. De permeio demos num lugarejo qualquer nos arredores de Évora. Dali demos boleia a um magala até não sei onde - até uma estação de comboios, parece-me. Não me lembro por onde começámos o Algarve mas lembro-me bem onde pernoitámos. O Orlando levava-a fisgada: tinha alojamento na Aldeia das Açoteias; um apartamento de férias da família. Era Dezembro, podíamos pernoitar lá de graça e embolsar a diária por inteiro. Nada mau. Foi assim que fiquei a conhecer a Aldeia das Açoteias, afamada então pelo Cross das Amendoeiras em Flor e pelos estágios de pré-época do Sporting, mas já em início de decadência, via-se. Mais tarde vim a conhecer melhor o lugar, já em época estival, por causa dum namoro - mas não vem ao caso. Adiante.
O restante périplo resume-se ao fim e ao cabo pelo nome dalgumas terras algarvias - Odiáxere, incluida. A última cidade que parámos foi Ourique - curioso que também começa por 'o'. Ao depois deste périplo não soube mais do engº Orlando Ferro.
Em pequeno, dalguns passeios que dava, tinha juntado alguns postais. Sabendo disso, uma namorada do meu irmão - a que me deu o primeiro livro dos Cinco - viu-os e resolveu oferecer-me a colecção que tinha. Talvez se quisesse livrar dela. Eu gostei dos postais, eram muitos e de variadas terras; guardei-os numa caixa de sapatos. Ainda guardo. Há anos - já muito depois do périplo de 87 pelo Sul - vi que um dos postais da colecção fora circulado em 1978 para a Rua de Manhiça que é nos Olivais... Vede só a quem era dirigido!...
Não é isto, bem sei, conto nenhum de Natal, sequer há aqui uma moral da história. Há só que o mundo é pequeno.
Em todo o caso Feliz Natal!
Sete Cidades - As Lagoas, Açores, [s.d].
Postal circulado de Ponta Delgada para Lisboa no Natal de 1978.
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