Segunda-feira, 4 de Janeiro de 2010
Dalgum tempo para cá é vulgar apregoarem os noticiários a macabra contabilidade do cangalheiro. E quando essa desgraceira de jornalismo aprofunda o assunto, dá sempre voz ao brado dum qualquer do A.C.P.: - A culpa é do governo que acabou com a Brigada de Trânsito! - para logo depois (a bem do democrático contraditório) servir o microfone aos Automobilizados: - A culpa é do ministro, que acabou com a Brigada de Trânsito!...
Se for caso ainda vai de dar eco ao que ventila fulano do Observatório das Estradas e, talvez, a P.R.P. (se ainda existe para alguma coisa). Com todos os dados do problema assim colhidos, se neste ano a contabilidade continuar (e só pára sabe-se lá como...), o governo há-de diligentemente criar uma Entidade Reguladora do Código da Estrada, ou mesmo uma Fundação para Prevenção dos Pontos Negros nas Estradas, para somar ao resto.
Saber se o nº de carros em circulação aumentou ou não na proporção do nº de acidentes, se o tempo foi pior que no Natal passado, em que horas ocorreram mais acidentes, qual a faixa etária e experiência dos automobilistas acidentados, &c. &c., são coisas pouco precisas, de senso comum. Não ajudariam em nada à notícia dos desastres.
Fotografia: I Circuito do Campo Grande, Lisboa, 1931.
H. Novais, in Biblioteca de Arte-Fundação Calouste Gulbenkian.
De Carlos Portugal a 4 de Janeiro de 2010
Caro Bic:
Tem toda a razão no que escreve. Para além da apetência mórbida dos jornalistas provincianos pelo macabro e sensacionalista, tudo parece fazer parte de uma campanha de mentalização com o fito de preparar os cidadãos automobilizados para «medidas» repressivas e restritivas inaceitáveis, possivelmente antecipando a absurda e inqualificável «taxa de carbono» que nos querem impor.
Por outro lado, nada se faz para melhorar o traçado das estradas, tapar os infindáveis buracos e valas, acabar com as imbecis «bandas sonoras» e lombas destruidoras de suspensões, direcções e transmissões, prenunciando possíveis acidentes por falha mecânica, inspeccionar os camartelos que «pavimentam» as ruas e estradas com uma percentagem mínima do alcatrão necessário (embolsando o resto), acabar com a maior parte das rotundas «embelezadas» com horrendas «obras de arte» dos «amigos» que tapam a visibilidade e provocam acidentes, acabar com limites de velocidade de todo irreais, como o das auto-estradas, que provocam perigosos «pontos de acumulação» de ligeiros e camiões (na Alemanha e em Itália já se aperceberam do perigo, e elevaram os limites, de modo a que as diferenças de potência dos veículos operem as separações e afastamentos necessários)...
E, por fim, começar o Estado a tratar os cidadãos com a dignidade e o respeito que lhes é devido, e deixar de se comportar como mais um ladrão de estrada, usando autênticos corsários policiais para extorquir dinheiro, o que, pelo stress provocado, induz os acidentes, e que, pela imoralidade demonstrada, incita os menos civilizados à incivilidade e ao desrespeito pelos outros.
De qualquer modo, o facto da percentagem de acidentes mortais (em relação ao número de veículos em circulação) ter diminuído, deve-se - quase exclusivamente - ao aumento de segurança activa (ABS, controlo de estabilidade, etc.) e passiva (air-bags, estruturas de deformação controlada, etc.) dos veículos mais recentes.
Dito tudo isto (desculpe-me o Caro BIC a verbosidade), quase que poderia afirmar que a presença ou ausência da BT - ou de outra qualquer polícia do género (e com a mesma mentalidade) - pouco ou nada contribui para o aumento ou diminuição da sinistralidade.
De momento, dada a criminosa negligência do Estado nos outros factores enunciados, a única chave para a diminuição da sinistralidade reside no civismo e na atenção ao volante, e nunca com um «Código da Estrada» absurdo, com limites de velocidade inferiores aos de 1941, e polícias com mentalidade corsária (que lhes é imposta, sei-o bem).
Enfim, Caro Bic, perdoe-me a verborreia, e aceite os votos de um excelente 2010 deste seu comentador.
Não há que pedir desculpa. Obrigado pelo seu comentário e feliz 2010.
Cumpts.
De
MCV a 5 de Janeiro de 2010
Cem por cento de acordo.
Já me detive várias vezes nas estatísticas da antiga-DGV (a estulta voragem das remodelações) e nunca lá vi a comparação entre os elementos e o respectivo universo.
É caso para dizer que os Ferraris são carros muitíssimo seguros porque os acidentes com eles são em número desprezável.
Ou que os condutores com 120 anos são igualmente muitíssimo seguros porque nunca causam acidentes.
Quem diz nisto, diz quase em tudo.
Abraço
Pois! É como vê...
Cumpts.
De Luísa a 5 de Janeiro de 2010
Por vezes, quando aqui venho, fico meio para o frustrada. Mas no bom sentido: Penso: Caramba.. eu não diria melhor!!
Concordo inteiramente consigo. Cá acho que devia ser proibido mais de 2 minutos deste tipo de notícias nõs telejornais!!
O mesmo sinto no Nocturno. E daqui penso que se poderia dizer tão melhor.
Grato pelo apreço. :)
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