Hoje, num programa do prof. Hermano Saravia sobre o Serpa Pinto ocorreu-me que vivemos num tempo sem heróis...
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No Mário Crespo ouvi hoje o Coronel Moura Calheiros, autor duma obra - «A Última Missão» - sobre o resgate em 2008 de soldados nossos sepultados na Guiné (*) e das memórias daquele outro tempo que entretanto assaltaram o autor. Ouvi-lhe respeito pelo antigo inimigo e afecto nos povos da Guiné para com os portugueses. Mas fixei sobretudo no fim o desencanto com quem governa Portugal, que deixa portugueses para trás.
Os soldados nativos que se bateram por Portugal tinham direito à nacionalidade portuguesa e a uma pensão. Ninguém lhes disse nada - tinham dois anos para reclamar a nacionalidade; perderam a nacionalidade e com isso o direito à pensão. Mas não fica por aqui: um governo depois acabou por lhes reconhecer direito à pensão mesmo sem terem a nacionalidade. E fez então um escambo com a Guiné: como a Guiné devia muito dinheiro a Portugal, o governo de Portugal perdoou a dívida e o da Guiné tomou o pagamento das pensões. - Alguém acreditaria - disse o autor - que o P.A.I.G.C. fosse realmente pagar aos antigos soldados portugueses nativos, seus inimigos?!...
Os nossos soldados que lá ficaram: a Liga dos Combatentes tratou da exumação e transporte até Bissau; a Liga dos Pára-quedistas encarregou-se do repatriamento e dos funerais nas terras donde eram naturais. Não custou um tostão: a TAP deu o transporte, uma agência graciosamente arranjou os funerais.
Hoje, num programa do prof. Hermano Saravia sobre o Serpa Pinto ocorreu-me que vivemos num tempo sem heróis. Não é verdade. Há heróis e honra em não deixar ninguém para trás. O governo é que no-lo nega.
Partida de tropas para o Ultramar, Lisboa, 1961.
Eduardo Gageiro, Lisboa no Cais da Memória...
(*) Pára-quedistas José Lourenço (Cantanhede), António Vitoriano (Castro Verde) e Manuel Peixoto (Vila do Conde).
De Luís Serpa a 10 de Dezembro de 2010
A maneira como Portugal tratou os combatentes indígenas é abjecta. Em França aconteceu a mesma coisa com os Harkis, mas com as abjecções francesas os franceses que se amanhem.
Com a nossa, convivo mal. Um Soldado respeita o seu inimigo, e defende os seus. Aquilo que Portugal fez é indigno de Soldados.
Soube dela pelos jornais, mas a acção que decreve comoveu-me e ajudou-me a acreditar que ainda há Homens dignos, e Soldados, no nosso país.
Não é Portugal. São os governantes. Mas haja esperança que Portugal se erga acima dos governantes.
Cumpts.
De cb a 10 de Dezembro de 2010
Este é um assunto que me toca, porque também lá estive. Para sermos rigorosos o problema não é deste ou daquele governo, foi de todos, antes e depois, e mais me desassossega quando penso no antes, que nos mobilizou para a defesa da última fronteira e depois nos abandonou aos milhares, os que lá ficaram e os que voltando, nunca mais foram os mesmos.
Da mesma forma que não se esperava que o PAIGC fôsse pagar o que quer que fôsse, eles que até executaram sumáriamente soldados africanos que combateram do nosso lado, não se pode esperar que governantes nossos que não passaram por lá, uns porque fugiram e desertaram, e outros porque distantes demais, nos fossem tratar melhor.
[...] e mais me desassossega quando penso no antes, que nos mobilizou para a defesa da última fronteira e depois nos abandonou aos milhares, os que lá ficaram e os que voltando, nunca mais foram os mesmos.
Não confundir antes e depois. Antes ninguém ficou para trás porque a debandada foi, sim, depois.
Cumpts.
De cb a 10 de Dezembro de 2010
Não fui explicito. Referia-me exclusivamente aos soldados, os que lá ficaram em campa rasa porque o Estado do antes não os trouxe (convém lembrar que as famílias tinham que pagar a trasladação dos corpos), e aos feridos regressados, estropiados fisica e mentalmente, muitas vezes, diria demasiadas vezes, votados ao abandono e por vezes ao ostracismo.
Vi-os no Hospital Militar da Estrela, como restos escondidos para que não se soubesse.
Com o Estado do depois ainda alimentei uma esperança que justiça fôsse feita...mas salvo algumas timidas e isoladas atitudes o que se percebe é que "eles" esperam que estejamos todos mortos, pela lei da vida.
Vai ser um fardo de que se livrarão, a menos que os nossos filhos e netos tomem em mão o encargo de nos resgatar a memória. Alguns têm-no feito e com isso mostram que, apesar de tudo, ainda há esperança, porque ainda se fazem PORTUGUESES.
Cumprimentos
De Bic Laranja a 10 de Dezembro de 2010
Também percebi mal. Fica claro agora. E infelizmente tem razão.
Cumpts.
De Bic Laranja a 10 de Dezembro de 2010
No 2º parágrafo estou de acordo. E não parece que configura conluio e má fé dos governantes portugueses?
Cumpts.
De Zé a 10 de Dezembro de 2010
http://www.wook.pt/ficha/guerra-paz-e-fuzilamentos-dos-guerreiros/a/id/200603
De Carlos Portugal a 10 de Dezembro de 2010
Caro Bic:
Sinto revolta, tristeza, emoção. Houve época em que os Heróis e a Honra eram incensados. Hoje não é tempo de Heróis - embora os haja, como muito bem diz. Mas estes são esmagados, calados, suprimidos pela canalha que se arvorou a poder. É a época deles, a era da ignomínia.
Bem triste.
(Apetecia-me gritar bem alto «Mama Sume!»)
Cumprimentos.
Pois! Há quem ainda viva toda a espécie de sequelas deixadas por essa sórdida guerra e do obstinado perpetuar da mesma.
Se há nomes que me causam o maior dos engulhos e repulsa, um deles é Salazar.
Olhe que acabou de dizê-lo. Veja lá, não quero vê-lo a agora a si em cuidados.
CCumpts.
De Carlos Portugal a 10 de Dezembro de 2010
Pois é M.A.G., os nossos militares combateram para defesa de compatriotas e território nacional (se ainda souber o que isso significa), morrendo muitos e ficando estropiados ainda mais. Mas por uma causa nobre e evidente: após a retirada das tropas portuguesas do Territórios Ultramarinos, morreram muitas vezes mais portugueses negros e brancos nas chacinas que se seguiram, fruto da criminosa «decolonização exemplar», do que nos treze anos de guerra colonial! E os que foram alguns dos territórios mais ricos do mundo, estão agora na miséria - «democrática», pois então!
E, para rematar, ninguém fala da vergonha actual que é enviarem soldados portugueses para combaterem na Bósnia, no Afeganistão e em outros locais que nada têm a ver connosco, a serem mortos e estropiados, para lucro de potentados estrangeiros! Os «democratas» de agora já há muito que perderam o direito de falar contra a política ultramarina do Estado Novo. Ao menos, o Salazar que lhe causa tantos engulhos, não era um corrupto e um cadastrado, como muitos dos abrileiros que tomaram o aparelho de Estado de assalto.
Pois é, meu caro, com «democracias» como as que temos, quem precisa de ditaduras?
Cumprimentos.
O epíteto "democrata" com o reforço das aspas não o envergo nem muito menos me rotula e, assim sendo, o que lhe subjaz muito menos.
Atenciosamente
*m.a.g.- género feminino
De Carlos Portugal a 10 de Dezembro de 2010
Caro Bic:
Como deve ter percebido, o meu comentário acima era dirigido ao democrata m.a.g., e não a Si. Desculpe.
Cumprimentos.
Agradeço o seu cuidado e, por casualidade, fiz de seguida a minha higiene oral.
Retribuo os cumprimentos
Pois, mas voltando cá arrisca-se a mais engulhos.
Mas é sempre bem-vinda.
Cumpts. :)
De
T a 16 de Dezembro de 2010
Existem heróis sim. Um deles é o caro amigo Bic neste caminho de desvendar lembranças. Quanto a guerras e sangue derramado, tenho dificuldade em classificar heroísmo. Por mim, adjectivo assim quem contraria tendências e se afirma como é.
De Bic Laranja a 16 de Dezembro de 2010
Os tempos mudam e revêem os conceitos. Agradeço-lhe penhorado a estima mas o conceito não me assenta nada bem. Vai antes, ao que julgo, muito melhor em si, isso sim.
Cumpts.
De Fantasma do Mayombe a 23 de Fevereiro de 2015
Tudo Oscar Kilo.
Mas, onde anda o espírito de corpo ???????
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