De BST a 24 de Setembro de 2011
A lusofonia é um fenómeno (alucionatório, acrescento eu) português, como bem diz o Prof. Eduardo Lourenço.
Uma demência natural dos que perdem a noção da realidade, sim.
Cumpts.
De Zephyrus a 25 de Setembro de 2011
Não deveria ser o português europeu o exemplo a imitar pelas ex-colónias e pelo Brasil?
Não há «português europeu». Há português e variantes ultramarinas.
Portugal só pode ser exemplo matricial do português; equivaler como variante o idioma de Portugal é absurdo pois é a matriz. Quem duvide (em Portugal ou alhures) tem complexos culturais mal resolvidos. «Lusofonias» ou «condomínio línguísto» são devaneios demenciais. Todos são donos do idioma que falam, mas se se afastam da matriz, que sentido faz chamarem-lhe português? Só se for por esbulho e má fé.
Cumpts.
De Zephyrus a 25 de Setembro de 2011
Tem razão. Agradeço o eslarecimento. Nunca mais cometerei o erro.
De Zephyrus a 25 de Setembro de 2011
Eu próprio «não engulo bem» aquela reforma ortográfica que ocorreu após o fim da Monarquia.
Sou um conservador, com orgulho. Considero que além de todo este mundo físico, onde a Ciência consegue actualmente o impensável há centenas de anos, considero, dizia eu, como Pitágoras ou Platão, que há uma dimensão espiritual que não pode jamais ser desprezada. Se tal ocorre, o Homem «morre».
Os alfabetos antigos, o grego clássico, o latino, o hebraico, as letras desses alfabetos, têm significados muito especiais. Jung, em pleno século XX, reconheceu o efeito do símbolo no Homem. As letras, visualizadas, são símbolos que operam de modo inconsciente em todos nós, mesmo num analfabeto do interior.
E as palavras também têm a sua dimensão espiritual.
Como se pode conspurcar algo sagrado, sim, sagrado, com acordos feitos por tal canalha?
Mata-se assim uma Civilização? Milhares de anos de História?
N'esta agora sou eu quem fica esclarecido.
Muito grato. Tê-lo hei em mente.
Cumpts.
De Carlos Portugal a 27 de Setembro de 2011
Caro Bic:
Acabei de receber, via e-mail, este excelente artigo acerca do aborto ortográfico. Espero que goste!
Cumprimentos.
Omens sem H
Espantam-se? Não se espantem. Lá chegaremos. No Brasil, pelo menos, já se escreve "umidade". Para facilitar? Não parece. A Bahia, felizmente, mantém orgulhosa o seu H (sem o qual seria uma baía qualquer), Itamar Assumpção ainda não perdeu o P e até Adriana Calcanhotto duplicou o T do nome porque fica bonito e porque sim. Isto de tirar e pôr letras não é bem como fazer lego, embora pareça. Há uma poética na grafia que pode estragar-se com demasiadas lavagens a seco. Por exemplo: no Brasil há dois diários que ostentam no título esta antiguidade: Jornal do Commercio. Com duplo M, como o genial Drummond. Datam ambos dos anos 1820 e não actualizaram o nome até hoje. Comércio vem do latim commercium e na primeira vaga simplificadora perdeu, como se sabe, um M.
Nivelando por baixo, temendo talvez que o povo ignaro não conseguisse nunca escrever como a minoria culta, a língua portuguesa foi perdendo parte das suas raízes latinas. Outras línguas, obviamente atrasadas, viraram a cara à modernização. É por isso que, hoje em dia, idiomas tão medievais quanto o inglês ou o francês consagram pharmacy e pharmacie (do grego pharmakeia e do latim pharmacïa) em lugar de farmácia; ou commerce em vez de comércio.
O português tem andado, assim, satisfeito, a "limpar" acentos e consoantes espúrias. Até à lavagem de 1990, a mais recente, que permite até ao mais analfabeto dos analfabetos escrever sem nenhum medo de errar. Até porque, felicidade suprema, pode errar que ninguém nota. "É positivo para as crianças", diz o iluminado Bechara, uma das inteligências que empunha, feliz, o facho do Acordo Ortográfico. É verdade, as crianças, como ninguém se lembrou delas? O que passarão as pobres crianças inglesas, francesas, holandesas, alemãs, italianas, espanholas, em países onde há tantas consoantes duplas, tremas e hífens? A escrever summer, bibliographie, tappezzería, damnificar, mitteleuropäischen? Já viram o que é ter de escrever Abschnitt für sonnenschirme nas praias em vez de "zona de chapéus de sol"? Por isso é que nesses países com línguas tão complicadas (já para não falar na China, no Japão ou nas Arábias, valha-nos Deus) as crianças sofrem tanto para escrever nas línguas maternas.
Portugal, lavador-mor de grafias antigas, dá agora primazia à fonética, pois, disse-o um dia outra das "inteligências" pró-Acordo, "a oralidade precede a escrita". Se é assim, tirem o H a homem ou a humanidade que não faz falta nenhuma. E escrevam Oliúde quando falarem de cinema. A etimologia foi uma invenção de loucos, tornemo-nos compulsivamente fonéticos. Mas há mais: sabem que acabou o café-da-manhã? Agora é café da manhã. Pois é, as palavras compostas por justaposição (com hífenes) são outro estorvo. Por isso os "acordistas" advogam cor de rosa (sem hífens) em vez de cor-de-rosa. Mas não pensaram, ò míseros, que há rosas de várias cores? Vermelhas? Amarelas? Brancas? Até cu-de-judas deixou, para eles, de ser lugar remoto para ser o cu do próprio Judas, com caixa alta, assim mesmo. Só omens sem H podem ter inventado isto, é garantido.
Por Nuno Pacheco
Jornalista
Muito obrigado.
É um questão de tempo, sim. E seguir-se-á homens sem «o» também para não ferir a «igualdade de género», estou certo.
Cumpts.
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