« Quanto ao a ortografia não é mais do que a aparência da língua, a sua pele, a metáfora de [Edite] Estrela (1993) e de Estrela, Leitão & Soares (2011) falha o objectivo pretendido (alegar que a ortografia é aparência da língua, tal como a pele é aparência do corpo), pois o elemento pele não é aparência, é essência. A pele, além de contracenar com o fígado na saga qual é o maior órgão do corpo humano?, é protectora do organismo contra agressões externas e reguladora da temperatura do corpo, impede a desidratação e desempenha um papel crucial no recurso a um dos dois sentidos afectados pelo A.O. 90: o tacto português.»
Francisco Miguel Valada, «Dermatologia e resistência silenciosa», in Público, 29/II/12.
Contra a passivividade bovina...
« Ao ler o editorial d’ A Bola de 31/12/2011, recordei-me de Marx in Soho, peça de Howard Zinn, em que Karl Marx regressa do Além, para nos explicar aquilo que pensa. Sem intermediários. A páginas tantas, Marx vagueia pelas ocorrências posteriores à captura de Napoleão III. As tropas de Bismarck invadem Paris e a recepção que obtêm é mais devastadora do que violência e ira da população. As estátuas estão envoltas em panos negros e há uma imensa, invisível e silenciosa resistência. Perante este cenário, as tropas partem, temendo essa resistência. Silenciosa. Provavelmente, o director d’ A Bola assistiu à peça e pensou que, através da silenciosa resistência nela reflectida, obteria os mesmos resultados. No editorial de 31/12/2011, lê-se o seguinte: A partir da sua próxima edição (2 de Janeiro), primeira do ano de 2012, A Bola adere ao acordo ortográfico. Para trás fica um tempo de silenciosa resistência a um acordo do qual profundamente discordamos. Foi efectivamente silenciosa. Nem chegou aos calcanhares duma consoante não pronunciada. Não fixou nada, não teve qualquer importância e ninguém deu por ela. Foi profunda. Só nos apercebemos que existia no dia da capitulação. Como se sabe, a silenciosa resistência de Vítor Serpa produziu frutos: o A.O. 90 instalou-se na redacção d’ A Bola e estendeu-se num pachorrento sofá, charutandotriunfalmente. Num país europeu em que todos têm o direito de exprimir e divulgar livremente aquilo que pensam pela palavra, o director dum jornal com tiragem de 120 mil exemplares preferiu respeitar votos de silêncio e quebrá-los apenas no momento da rendição. Eis um exemplo a não seguir.»
Id. Ibid.
De [s.n.] a 1 de Março de 2012
Simplesmente excelente este artigo de Francisco Miguel Valada. Com o saber e a probidade que as suas palavras conferem, outras personalidades deveriam seguir-lhe o inteligente e oportuno exemplo. Parabéns a ele.
Desde de que há cerca de 15 anos a mui opiniática e douta Edite Estrela teve o desplante de, numa televisão e em directo, dar o exemplo de como se deveria construir uma determinada frase em que entrava o verbo HAVER (em que nem sequer o problema era o Haver mas o verbo principal..., a menos que para ela o fosse) tendo em atenção o sujeito e o predicado, sai-se com esta verdadeira pérola de 'bem dizer e bem escrever': num título de um programa em que só existia o sujeito e o predicado, deveríamos dizer o sujeito no plural!!!... e o predicado no singular'!!! Já se viu ou ouviu um tão descomunal tropeção na gramática vindo da parte de uma criatura que se diz doutora e que até já escreveu livros sobre a língua (e a gramática?) portuguesa? Estes devem ser um verdadeiro primor...
É dos livros que na construção de uma proposição o sujeito tem que forçosamente concordar com o predicado, exista verbo HAVER (que não se conjuga se acompanhado pelo verbo principal da oração - este, sim, conjuga-se em todas as circunstâncias - se e quando significa EXISTIR) ou não. Isto aprendia-se nas boas gramáticas antigas com a assistência de belíssimos professores que não deixavam escapar uma.
Esta criatura - sempre com aquele pseudo sorriso irritante e forçado emprestando-lhe um falso ar maternal qual Madona de trazer por casa, mais aquele cabelo horrível (e então o tom de voz alterado e mastigado à pretensa menina-bem, não se suporta ) dá a triste imagem de um 'retrato' esborratado que mais parece ter saído do pincel de um pintor de quinta categoria - mudou de opinião em menos de um fósforo, isto em 10 anos ou por aí. Primeiro dava uma opinião abalizada sobre esta ou aquela regra gramatical ou o melhor vocábulo ou verbo a empregar e até chegou, imagine-se!, a criticar os fazedores dos primeiros computadores a chegar a Portugal cujos teclados não possuiam sinais gráficos, dizendo que era obrigatório que os colocassem... e agora, quem sabe, deve ser daquelas que propõe que abdiquemos dos ditos sinais se o Acordo assim o decretar. Eis senão quando entra em acção a pressão mediática para a adopção do aborto ortográfico e ela, como boa oportunista socialista ou vice-versa, não pode deixar escapar a vidinha regalada (e assegurada enquanto viva) de que tem usufruído ela e família, resolveu num abrir e fechar de olhos 'aderir' ao AO e para ser coerente com a sua nova postura do 'polìticamente correcto', toca de concordar com os disparates pegados em que aquele está imergido duma ponta à outra, pontapeando a torto e a direito a ortografia, a fonética e a sintaxe portuguesas. Como é bom de ver tal reviravolta tem-lhe trazido retorno e que retorno... O principal de tudo é agradar ao chefe e ao partido, o resto é de somenos.
O autor do artigo cita-a criticando e bem duas frases da sua lavra: "a ortografia é a aparência da língua" e "tal como a pele é a aparência do corpo"!!! Mas que racionalidade é esta?!? E que espécie de lógica discursiva contêm estas duas frases?!? Será que esta personagem que não despega das televisões, agora e desde há algum também de Bruxelas, está bem de saúde?
Maria
De Inspector Jaap a 1 de Março de 2012
Admirável hermenêutica, cara Maria… qualquer coisa que acrescentasse seria para estragar, pelo que subscrevo tudo na íntegra.
Só uma nota: essa gentinha baba-se a proferir barbaridades completamente idióticas e sem qualquer conteúdo, mas que lhes provocam um verdadeiro deleite; de facto trata-se apenas de (mais) uma das muitas idiossincrasias que caracterizam essa mediocridade locomovente, pelo que não se deve surpreender com dislates do tipo que mencionou:
“ a pele é a aparência do corpo” … a pobre criatura temente a Deus(???) estava a pensar certamente nas próprias fuça, pois que mais?
Cumprimentos e parabéns pelo comentário
De [s.n.] a 2 de Março de 2012
Agradeço-lhe as bonitas palavras que, acredite, desmereço.
Mas se um único leitor achar que a minha modesta contribuição pode trazer uma, ainda que ínfima, mais valia a este magnífico espaço blogosférico, então tudo quanto escreva já valerá a pena. Porque, se mais não fora, não só me deixa feliz como me faz bem à alma*.
Maria
* O autor deste espaço sabe o porquê de eu usar esta expressão e, no que à minha pessoa se refere, o seu real significado.
De Inspector Jaap a 3 de Março de 2012
Nem a contribuição é ínfima, nem eu sou, certamente, o único a ter essa opinião.
Cumpts
De
tron a 1 de Março de 2012
Caro vizinho do mundo dos blogues, esta mesma senhora Edite Estrela esteve a frente daquilo que se chama lobby ou grupo de pressão nos finais dos anos 80 príncipios de 90 do século passado, para que o português "abrasileirado" fosse retirado das revistas Disney editadas em Portugal, mesmo se sabendo 99% das mesmas vinham do Brasil, e certas publicações exclusivas de Portugal não eram mais do que reencardenações de números recentes de outras publicações Disney.
Esta ideia de mudar o português usado na BD desvirtuou completamente os textos e transformou textos compreensíveis e adaptados ao português europeu numa língua de trapos onde se mistura inglês com português, quando 90% das nações do mundo têm nomes "nacionais" para quase todas as personagens principais e mesmo as de suporte têm nomes adptados a cultura de cada país.
Pelo que sei nem "Sam" ou "Louis" entre outros nomes são portugueses, e foram a substituição dos infinitos "Jocas" "Jucas" e nomes semelhantes e a Sra. Edite estar do lado do aborto ortográfico dá para ver o quão estúpida foi a sua atitude nos anos 80 e 90 e perfiro mil vezes calão lisboeta e português antes do aborto do que a coisa que nos querem impor
Bem lembrada, essa do empenho da D.ª Estrela contra os brasileiros da Editora Abril. Como lhe vejo a viradeira grafista a favor do Brasil agora por ganhar uns patacos, concluo que já então foi a ganância e não o português que a moveu.
Não é ela um espectáculo?
Cumpts.
De
tron a 3 de Março de 2012
pode crer, esta senhora foia uma vendida e na mesma altura desta mudança de estilo de escrita na banda desenhada Disney, esta senhora tinha um programa na televisão que ensinava a "falar português" e por outro lado se vendeu a língua de trapos
De Inspector aap a 4 de Março de 2012
Claro que é… espectáculo de ópera bufa, se o assunto não fosse tão sério, mas a expressão é mais para levar em sentido literal.
Agora, não vou ter nenhuma subida de tensão arterial quando, depois de isto dar a volta, voltar a ver essa preciosidade de volta à ribalta com justificação inauditas…
Ah! E o seu contorcionismo não é número de circo a ser admirado, é mesmo falta de esqueleto intelectual.
Cumpts
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