De [s.n.] a 28 de Julho de 2012
A Av. da República era uma preciosidade no que à urbanização e construção em geral, diziam respeito. Prédios e moradias, havia-os/as múltiplas e lindíssimas. Era muito novinha mas lembro-me perfeitamente de lá passar com a minha mãe e ficar maravilhada com o seu esplendor. Cada uma era mais elegante e bela do que a anterior. As demolições começaram, se não estou em erro, já antes dos abrileiros cá porem as 'patas', mas em pequeníssima escala, porque tenho ideia de haver imensas casas e moradias do fim do séc. dezanove e princípios do vinte ao longo desta Avenida. Art Nouveau e Art Decô havia-as às dúzias, mais aquelas do que estas. Tanto o eram moradias como edifícios de poucos andares. O pior veio depois d'Abril. Realmente quem pratica tais crimes de lesa-património merecia a prisão.

Tudo quanto estas nefandas criaturas fazem ao chegar às 'democracias', que ademais os mesmos impõem à força, entre outros males e em troca dos milhões que as construtoras lhes metem nos bolsos (corruptos e corruptores, que são), é destruir tudo o que de valioso e belo possa existir nesses países. Duma cajadada matam dois coelhos: primeiro destróiem a anterior sólida e correcta urbanização substituíndo-a por construções pavorosas, estradas pèssimamente alcatroadas, passeios horrendamente calcetados cujos primorosos desenhos precedentes, em calcário branco e preto, são/foram mal e porcamente restaurados ou pura e simplesmente descartados; depois e ainda não satisfeitos com o descalabro, em simultâneo tentam apagar da vida das populações, neste caso de Lisboa, "lembranças de tudo quanto seja estèticamente magnificente" o que as reportaria d'imediato para o 'antigamente' - coisa tenebrosa!, como sabemos - forçando-as de um modo subtil a esquecer hábitos e tradições, tais como agradáveis passeios e visitas turísticas de naturais e estrangeiros, pelas avenidas, praças e lugares mais emblemáticos da cidade, para, por exemplo, tirar fotografias na (que foi) belíssima avenida da República e/ou a tomar uma chávena de chá nas prestigiadas pastelarias ou almoçar/jantar em óptimos e elegantes restaurantes - vide a inigualável Versailles - que felizmente se conserva quase igual - onde tantas vezes fui (e ainda vou, mas agora raramente porque me fica distante) lanchar e também almoçar com a minha Avó e minha Mãe - que ombreavam com os magníficos restantes estilos arquitectónicos, os quais deixaram uma marca indelével na cidade de Lisboa e que, graças aos seus competentes governantes, autarcas e habitantes, foram durante décadas e décadas religiosamente preservados. Até que, para mal dos nossos pecados, chegaram os malditos do presente.

Olhando à volta e verificando a calamidade que se me depara a cada esquina, recordo com uma saudade infinita a grandeza de Lisboa doutros tempos e a completa decadência em que, desde há três décadas, se foi tornando aquela que já fora considerada a cidade mais limpa e uma das mais bonitas da Europa. Perante todo o mal que os governantes permitiram e os autarcas (todos eles 'democratas' da mais pura água) executaram em Portugal inteiro e muito particularmente em Lisboa, aproveito para deixar um intenso queixume que perpassa num só verso de uma famosa e linda canção romântico-poética d'Aznavour e que traduz à perfeição o meu estado d'alma relativamente a esta cidade adorada: "... je te regarde... et mon coeur au bout des larmes".

Obrigada por nos trazer tão fantásticas fotografias. Que o são pela impecabilidade dos ângulos, pela sua beleza intrínseca, pela nitidez d'imagem e pela mestria como foram tiradas.
Maria
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