Quando há dias publiquei aqui uma outra fotografia deste prédio dos alvores da Av. Casal Ribeiro não referi um detalhe interessante que lá havia: a construção dum outro a seu lado em que podíeis apreciar na estrutura já edificada o modo de se construirem gaioleiros. Ali víeis, já levantado até ao 3.º andar, o esqueleto em madeira, o travejamento entre pisos à espera de lhe assentarem o soalho, as grossas paredes exteriores de alvenaria de pedra irregular e, as interiores de resistente alvenaria de tijolo maciço. Tudo novidades antigas de alvenéis e carpinteiros de toscos que já pouco ou nada importam, como também naquele tempo pouco já importava a gaiola pombalina, pois que, lá, naquela obra que se via, não achais vós as caracterísitcas triangulações em forma de cruz de S.to André. Deste depreciamento nas estruturas (e nos materiais) chegou-nos o pejorativo gaioleiro como fraco sucedâneo da gaiola pombalina. Esta imagem agora aqui, doutro ângulo e do mesmo fotógrafo, é anterior à tal de há dias, pois que cá não vemos senão os tapumes do gaioleiro que se ali havia de fazer. Fazer e desfazer. Era ele o n.º 56 da Av. Casal Ribeiro, ou Saldanha 4-8, que veio a ser demolido este ano. Tenho ideia que esta fotografia seja de 1906, já que as Terras do Alto (notai aquele desnível da terras de detrás do prédio em relação à rua) foram vendidas ao município em 1905 para abertura desta Casal Ribeiro e das adjacentes Fernão Lopes, Actor Taborda e Almirante Barroso. Quanto tempo terá levado de 1905 até rasgarm este troço de rua e levantarem este prédio? — Ano, ano e meio?... E quanto tempo entre esta fotografia, em que se haviam ainda de começar as obras do gaioleiro do n.º 56 ao lado deste, e o erguer dos três sobrados que vistes na de há dias? — Um mês? Dois, três...? — Bem sei que se lá não vêem assim tantos operários atarefados (aliás, não se vê nenhum, só um que deve ser capataz) mas, talvez fosse hora de almoço... — Pois bem; o tempo que levou a alçar aqueles três sobrados é quanto medeia entre esta imagem e aqueloutra. Sobra que aquele gaioleiro que veio a erguer-se ao lado deste durou uns bons 105 anos (1906-2012). Este que vos aqui deixo durou metade. Hei-de cá tornar com o que cá puseram quando demoliram este aqui. É que a câmara teve tanto orgulho, tanto orgulho do que se lá construiu que até mandou a correr o fotógrafo antes que se estragasse. Tal como com este, afinal. Tal é a cupidez do moderno em certas cacholas. |
Av. Casal Ribeiro, 50-54, Lisboa, post 1905. Paulo Guedes, in Arquivo Fotográfico da C.M.L.. |
(Revisto em 14/XII/12 às cinco para a uma.)
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