-- A36.
-- Boa tarde! A36, aqui tem a senha...
-- Boa tarde!
-- ... e a A37. E também a A38.
Toca o besouro e doutro canto da loja alguém chama.
-- Senha A37!
Adiante.
Este ano noto que a Empresa Municipal de [Mobilidade e] Estacionamento de Lisboa (é-mel) estendeu o uso de farda ao pessoal que atende na loja. Viva o luxo. Mais uma fardeta a somar ao sortido delas que se vêem aos fiscais nas ruas.
-- Venho comprar o autocolante para poder estacionar o meu automóvel na minha rua.
-- ?... Ah, bem! Pretende renovar o dístico de autorização de estacionamento a residente.
-- Se põe nesse modo... Aqui tem o autocolante caducado.
A Empresa Municipal de [Mobilidade e] Estacionamento de Lisboa (é-mel) cobra taxa aos automobilistas que estacionam nas ruas de Lisboa. A câmara municipal -- que não é dona das ruas da cidade -- ungiu-a com esse senhorio. A Empresa Municipal de [Mobilidade e] Estacionamento de Lisboa (é-mel) arrogou daí um alto espírito de missão em prol do bem comum e concede-me assim a divinal graça de estacionar eu o meu automóvel na rua onde moro sem pagar a taxa ordinária. Mas exige-me que o peça formalmente. Tenho portanto de reconhecer à Empresa Municipal de [Mobilidade e] Estacionamento de Lisboa (é-mel) suserania na minha rua, sob pena de multas certas e contingentes sevícias sobre o meu automóvel. -- Idêntico aos modos do comum torcionário arrumador da cidade, afinal, menos só o colorido -- Chefe. Nao há uma moedinha?! -- A graça do estacionamento é-me assim dada por um ano na forma de autocolante em troca duma soma de dinheiro a título de emolumentos: o equivalente a uns 2400$00 (dois contos e quatrocentos).
-- Ora faça favor de assinar em baixo.
-- Eu não posso assinar este documento.
-- ...?!
A gente que gere esta excrescência municipal de [mobilidade e] estacionamento de Lisboa (é-mel) não se deve ter em boa conta e toma à semelhança de si, por vil, o cidadão que lhe necessàriamente haja de prestar vassalagem. Atira-lhe por isso às ventas com o articulado do Código Penal acerca de falsificação de documentos e aldrabices do género.
-- Não vê vossemecê? Os senhores redigem-me no vosso computador este termo de responsabilidade para assinar em que chapam o artigo 256.º do Código Penal, supondo-me a priori um vulgar aldrabão, se o bem entendo...
-- !
-- ... ao mesmo tempo falseiam no documento a minha data de nascimento. Eu não nasci em 1/1/1910 e a minha carta de condução não caducou nesse dia, bem vê...
Lá fez aquela alma o termo de novo. No fim de pagar perguntei se havia algo mais.
-- Só falta a factura.
-- Factura ou fâ-tura?
Adivinhai.
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