Ando á cata da Travessa da Cruz da Pedra a S. Domingos de Benfica. Raul Proença refere-se-lhe no Guia de Portugal da Biblioteca Nacional (vol. 1, p. 435) a par da Travessa das Águas Boas quando menciona as queijadas de S. Domingos. O index da carta 7M do Levantamento da Planta de Lisboa (1904-11) refere uma Azinhaga da Cruz da Pedra, mas não na acho ao depois assignalada na planta.
Veja o benevolo leitor:

Nesta busca em que ando dei agora com uma photographia do trôço da Rua de S. Domingos de Benfica que parte da Estrada de Benfica até á Azinhaga do Piçarra (hoje Rua das Furnas) que me corroborou a idéa que me já dera de ler a carta 7M: este trôço tinha todo um arzinho de velha azinhaga. Não me admirava se o toponimo popular e antigo ali houvesse sido da Cruz da Pedra; uma azinhaga que deu em travessa, que deu no fim em Rua de S. Domingos por edital da Camara. — O caso é que não acho outra hypothese. — Será que foi?

Rua de S. Domingos de Benfica, Cruz da Pedra, 1953.
Fernando Menendez Pozal, in archivo photographico da C.M.L.
De Real a 10 de Fevereiro de 2016
Vislumbro os carris do eléctrico. Seria por acaso a carreira que ia até às Portas de Benfica?
De Real a 10 de Fevereiro de 2016
Obrigado caro Bic . Aproveito para pedir desculpa por o não ter saudado no comentário anterior.
De Real a 11 de Fevereiro de 2016
Bom dia caro Bic e demais leitores.
Por falar em Cruz da Pedra e São Domingos, recordo-me das antigas estações de comboios. As estações actuais parecem-me todas iguais, betão e acrílico.
Menos betão, mais alumínio. Não só as estações, são as cidades por inteiro.
Civilização eurocaixilho ISO-9000-ilizada. Um standard que é um must.
O apeadeiro da Cruz da Pedra estava a mais. Com o seu sumiço foi o que restava do ancestral topónimo. Não tarda esquecerá.
No mesmo sentido, mas mais resistente à lavagem da memória colectiva, a estação de metropolitano de Sete-Rios. Foi preciso mudar-lhe o nome para não confundir os touristes da Ec-xpo que desgarrassem ao Jardim Zoológico. Tadinhos! Devem ser mais parvos do que os nossos que mudam a toponímia por estas razões.
Cumpts.
De [s.n.] a 12 de Fevereiro de 2016
Que engraçado, não há muito tempo costumava passar nesta rua, mas não com este aspecto, já mais modernizada. Os edifícios à direita da imagem eram/são já outros, mais actualizados. Há porém um pormenor extraordinário, que, pelo menos a mim, me espanta pela ausência do camartelo entretanto (não) operada. O excelente e sólido prédio (moradia?) à esquerda da imagem, todo revestido a azulejos azuis (os mesmos da imagem e ainda não roubados!) ainda lá perduram em aparente bom estado de conservação... e sem faltas, o que é raro nestes tempos de vandalismo urbano e de ladrões de casaca (e de redes de receptadores deste e doutro género de peças e objectos antigos roubados) por todo o lado. Terão sido os descendentes dos primitivos donos a oporem-se a tal desiderato? Isto, porque pràticamente todas as moradias e palacetes da Estrada de Benfica foram miseràvelmente deitados a baixo, fossem eles (ou não) estèticamente belos e estruturalmente sólidos.
Lembra-se de lhe ter falado há algum tempo de estar à procura do palacete dos Condes de Ottolini (para encontrar o outro que fora edificado ao lado deste) e nunca o ter encontrado ou sequer reminiscências do local onde existiu? Pois é, esse palacete deveria ter estado por certo na própria Estrada de Benfica e provàvelmente não muito distante destoutro da imagem. Existe, não muito longe dali, paralelamente à Rua Conde Almoster, o Largo Conde de Ottolini. Esse encontrei. O palacete estaria por perto. Chegou a descobrir alguma coisa sobre este palacete desaparecido (e há quanto tempo?) ou eventuais imagens dele? Lembrar-se-á de lhe ter dito que gostaria de conhecer o aspecto geral - fachadas, jardins, moradias à volta, etc., bem como a sua exacta localização e dos palacetes de ambos os lados, antes destes terem desaparecido.
Muito agradecida por qualquer informação e possíveis imagens, se as houver.
Endereço estas perguntas à pessoa indicada, já que estou perante um Senhor conhecedor profundo da cidade de Lisboa e arredores. Mesmo a sério.
Maria
A quinta do Conde Ottolini confontava com a quinta do Beau Sejour, com a quinta da Conceição e com a antiga Azinhaga dos Soeiros no troço hoje conhecido como R. Cidade de Rabat; a quinta ocupava chãos do largo do Conde do Bonfim e R. Major Neutel de Abreu. Estimo que a casa seja a que dá frente ainda agora, justamente para a Az. dos Soeiros, logo a seguir à quinta da Conceição.
O largo que havemos hoje com seu nome é deslocado.
A casa na imagem de que refere os azulejos é o que sobra do antigo convento de Santo António da Convalescença, muito alterado pelos donos que no séc. XIX o adquiriam depois da extinção dos conventos.
Cumpts.
De [s.n.] a 13 de Fevereiro de 2016
Se bem compreendi o que me diz, a Casa ou Palacete dos Condes de Ottolini ainda se encontra no local original, em frente(?) do Palacete do Beau Séjour (que conheço, já lá visitei uma Exposição de pintura há muito tempo) e suponho que do lado oposto à Estrada de Benfica e ou paralela ou no seguimento do Jardim do Bonfim.
Mesmo aumentando a imagem no pc e não sendo o suficiente, incluíndo com o auxílio duma lente, é quase impossível ler o nome das Ruas e das Quintas na bonita imagem que reproduziu. As palavras Rua e Quinta e Azinhaga(?) ainda se conseguem distinguir nalguns troços. Também se lê quase perfeitamente e na totalidade "Rua de S. Domingos de Benfica".
Concluíndo. Que boa surpresa me dá. Quer então dizer que a Casa do Conde ainda se encontra no mesmo sítio. Será isto possível?! Existem uns terrenos vastos, tipo Mata, paralelos a um dos lados do Hospital Lusíada, Hospital que se situa a seguir a dois ou três pequenos edifícios logo após o Largo do Bonfim. Reparei naqueles quando aqui há tempos tive que me deslocar a este Hospital. Será que estes terrenos terão feito parte da Quinta do Conde ou pertencido à outra Quinta que se situava ao lado desta, segundo informação que obtive da Senhora de que lhe falei anteriormente?
Vou arranjar disposição para passar por aquelas ruas e ver a dita Casa em pormenor.
Maria
Corrijo. A quinta Ottolini não confronta com a da Conceição como me pareceu. Elas são uma só e a mesma quinta. O que sobra (um casarão, dois chalés e jardim) permanece dos herdeiros do conde do Bonfim (ou Ottilini, ou Valdez Travassos?). A casa primitiva é na Az. dos Soeiros (R. Cidade de Rabat, 5). Se bem percebi a casa principal do que sobra da quinta é, hoje, na Estr. de Benfica, 356 logo a seguir à dita Az. dos Soeiros, um pouco antes do largo dos Condes de Bonfim.
Isto foi o que colhi apressadamente na rede e no levantamento topográfico de 1904-11. Pormenores poderão achar-se na bibliografia da pág. da ex-D.G.E.M.N. da remissão em cima.
Note que a carta 7M do verbete não abarca a quinta Ottolini.
Cumpts.
Mais uma achega. Na monografia «São Domingos de Benfica. História, Arte e Património», editado pela "dominicana" Junta de Freguesia, a pp. 70-71, acha-se um bom resumo histórico sobre a quinta Ottolini.
Sobre a Convalescença da Cruz da Pedra também se pode ler um belo resumo, muito bem escrito .
Um livrinho precioso.
De [s.n.] a 14 de Fevereiro de 2016
"Sobre a Convalescença da Cruz da Pedra também se pode ler um belo resumo, muito bem escrito .
Um livrinho precioso."
E onde é que se poderia adquirir este livrinho precioso?
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Uma maravilha de informação que aqui me deixou. Fui pesquisar as ligações e muito aprendi. Os responsáveis camarários por estas páginas informativas foram um bocadinho incompetentes, eu acho. A descrição da Quinta e dos interiores das casas (afinal três casas numa única) que lhe correspondem, está bastante mais ou menos. Porém as duas ou três fotos das casas, são fraquíssimas, isto porque fotografaram só partes/ângulos da fachada, consequentemente pouco abrangentes e portanto muito incompletas. Uma pena. A mesma incompetência verificou-se na tomada das fotos da fachada do enorme palacete (curiosamente também três moradias formando uma única, seria uma questão de moda no séculos dezoito e dezanove?), pertença dos Correios, na Rua de S. José (Calçada do Lavra), recorda-se?
Pelo mapa vi perfeitamente onde se situará a Casa principal (com os respectivos terrenos, espero). Conheço muito bem toda aquela zona que fica não muito distante do Hospital da Cruz Vermelha, onde já tive consultas.
Mais uma vez thanks a million:)
Maria
Provavelmente na freguesia de São Domingos a monografia na edição em papel.
As páginas dos «Monumentos Nacionaes» são fracas em imagens. Já noutros casos o notei. A descripção archtectonica das casas, porém, é soffrivel. Cuido que a somma de casas se deva mais a razões familiares que a modas. Só uma conjectura. No mapa do levantamento de 1904-11 a casa representada é menor.
Obrigado eu,
Sim. Pude ler na monographia de São Domingos de Benfica a que pus remissão que a casa se mantém na familia.
Aliás o texto dos Retalhos é «ipsis verbis» o desse livro.
Cumpts.
De [s.n.] a 14 de Fevereiro de 2016
Agradecimentos especiais ao comentador José Lima cuja ligação fui ver, deparando com uma magnífica vista aérea da Quinta e terrenos circundantes, bem como uma muito bonita e agora mais completa fotografia da fachada da Casa.
Maria
Cara Maria
É sempre um prazer ajudar nestas coisas, tanto o hospitaleiro dono da casa como os seus ilustres visitantes.
De dd a 2 de Março de 2016
Bom dia
depois de breve procura na internet o mais que pude encontrar foi a seguinte imagem
http://www.cml.pt/cml.nsf/artigos/67EC6E1884BEE4EE8025795700586E27
nao sera grande coisa, mas...
obrigado pelo belo blog que nos oferece
cumprimento
O quadro de Carlos Reis é bellíssimo. Ainda bem que o refere. Também o achei quando andava nestas demandas da Cruz da Pedra á Estr. de Benfica, mas acabei por omitti-lo por me desconhecer se verdadeiramente é païsagem de S. Domingos de Benfica; aquelles montes recortando o horizonte deixam-me dúvidas. Entre tanto distrahi-me de tornar a procurar que Cruz da Pedra pintou realmente Carlos Reis; é toponimo vulgar, ha-de haver numerosas azinhagas da Cruz da Pedra em terras portuguesas.
O quadro é de 1902; será caso de saber os intinerarios de mestre Carlos Reis por essa altura; isto se não está já documentado alhures que Cruz da Pedra é a do quadro.
Cumpts.
De Maria de Aires Silveira a 19 de Fevereiro de 2023
Muitos anos depois desta conversa... para além do Pakacete Ottolini, próximo da rua de Rabat, existia outro no Largo Conde Ottolini, mesmo no centro. Foi arrasasado e agora e agira é um jardim. Era edifício acastelado, guardado por enormes cães, segundo as memórias de infância. Nunca encontrei fotografia. Há uma imagem no Arquivo Fotográfico de Lisboa , mas vê-se apenas o muro da propriedade. Maria
Já vi essa fotografia e de imediato não achei mais nada. Conto procurar algo mais sôbre êsse «castelo» e se achar lho direi.
Cumpts.
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