O professor Artur Anselmo Soares deu uma entrevista ao Nuno Pacheco («Para nós o normal é o respeito pelas ortografias nacionais», Público, 12/XII/16) em que anuncia para Janeiro, por conta da Academia das Sciencias, uns «Subsídios para Aperfeiçoamento do Acordo Ortográfico».
Antes de mais, subsídios para o «Acordo Ortográfico» são tão precisos como o próprio «Acordo». O que nasce torto, tarde ou nunca se endireita, diz o adágio. De modo que aperfeiçoar uma aberração daquelas tem o mesmo nexo de se pegar num troço de matéria fecal sólida pelo lado mais limpo. Erradicar a bosta é a única solução.
O prof. Artur Anselmo parece-me bem intencionado mas meio perdido (ou talvez não...) Em tempos ouvi-lhe o desespero ante os deputedos duma comichão para lamentar que se entreteve uns meses a fazer ponto-cruz sobre o esterco cagalhográfico metido a ferros no Diário do governo por um ministro da República lacaio de Sócrates; contou gravemente o prof. Anselmo, então, que o ministro da área cultural no [XVII.º] governo ameaçou inclusive o presidente da Academia das Sciências [prof. Adriano Moreira] de extinguir a Academia — sim, sim, de extinguir a Academia! — pelo facto de ela não estar ao lado do governo nessa matéria.
Foi uma notícia que nenhum jornal quis dar...
Naquele auto-intitulado «grupo de trabalho» da Assembleia também não fizeram caso. Não estavam lá para isso.
Custa que a Academia haja chegado a isto. Qualquer ignorante atrevido ou estrangeiro que balbucie lusofonês em crioulo tem autoridade na língua portuguesa.
A Academia das Sciencias de Lisboa não.
O que se nota da Academia nota-se no seu presidente.
O seu tom desesperado então era a impotência ante a desgraça a falar. O seu tom melífluo agora é como uma rolha numa torrente de lama.
Na entrevista ao «Público» tanto diz o certo como o desdiz. Sempre a bem do outro. É desesperante.
Diz que «os angolanos têm todo o direito de escrever kwanza com k e com w». — E até de escrever cuanza em cubano, digo eu. — Os portugueses e a sua Academia das Sciencias parecem porém não ter direitos, porque, afirma, «para as situações dúbias só com uma reunião interacadémica — porque não há outra maneira de fazer as coisas.»
Interacadémica é mais conversa com os imortais da A.B.L.?!...— Para lhes dizer que os angolanos têm todo o direito de escrever cuanza com k e com w?!...
Diz ainda que «há crianças que desde o primeiro ano seguem as normas do acordo». Omite um pormaior: há muitas mais «crianças» que desde a primeira classe seguem as normas do acordo de 1945.
A Academia acha que não pode nada e teme querer poder o que seja. Arrenega-se. Pois para que serve? Sciente disto se mostra o prof. Artur Anselmo, cheio de pruridos, a lidar com luvas de pelica a bosta «ortográfica» que empesta Portugal e ilhas.
Pois bem, anuncia: «o que vai ser apresentado é uma proposta no sentido de seguirmos a ordem alfabética de 1945, mas assinalando em bold (antigamente dizia-se negrito, ou normando) aquilo que foi alterado. Portanto, teremos concepção com o p em bold. [Pois! Em bold...] A pessoa quer saber como escreve hoje e vai lá.»
Vai lá, vai...
Cheira-me que estes subsídios são a vil Academia das Sciencias a estribar-se no mercado com uma no cravo outra na ferradura quanto ao imbecil «Acordo». Não anuncia, pois, ela por meio deles um novo dicionario para 2018?!...
Subsídios destes dizem-se vulgarmente agora marketing. Antigamente dizia-se apregoar o peixe. Podre.
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