Sabemos da civilização grega. Os gregos antigos eram muito civilizados, mas em seu redor havia uns povos de rudes costumes, que nem grego falavam; entoavam uma linguagem estranha de bar bar bar. Daí os gregos lhes chamarem bárbaros. «Bárbaro» para dizer gente rude, sem modos ou incivilizada, vem dos gregos. Do grego passou ao latim; Roma conquistou a Grécia, mas é sabido que a civilização grega conquistou os romanos. E os povos incivilizados, das franjas do império, eram, naturalmente, os bárbaros. Como bons selvagens, deram em cobiçar as riquezas da civilização romana e, para a História, a queda do império romano foi o que sabemos: os bárbaros invadiram-no e espatifaram tudo.
Mas isto da civilização e da barbárie tem maneiras de se compor: a História modernamente contada, cada vez mais polida, já não acha bárbaros nenhuns na queda de Roma; ensina correctìssimamente que eram povos germânicos. Soa muito mais civilizado, não vos parece?
Não deixaram estes germânicos de ter espatifado tudo, mas assimilaram o — verniz, digamos — suficiente para olharem os outros como bárbaros — é evidente aqui, a todos, que bárbaros são sempre os outros; como evidente é que só uma civilização demente o procurará negar… — Os germânicos deram em cristãos, como Roma, e é da História ainda não reinventada que, entre a moirama norte-africana que acossou a Europa cristã no séc. VIII havia carradas de berberes: «berbere» é mera corruptela de «bárbaro» como é fácil de ver.
A nossa linguagem portuguesa, tão rica e cheia de História, incorporou as duas: «bárbaro» e «berbere». Como incorporou uma terceira para dizer o outro, o estranho e incivilizado, trazida pelos berberes: cafre.
«Cafre» vem do árabe «kafr» e é simplesmente a maneira de se os mouros referirem aos infiéis, diferentes de si, òbviamente incivilizados ou selvagens.
Os portugueses na sua ronda de África assimilaram esta maneira de os berberes chamarem selvagens aos pretos da Guiné e até a ensinaram a povos altamente civilizados que tomam chá: os ingleses. Claro que os ingleses, que têm mais chá que ninguém, tanto lhe parecem cafres os portugueses como os pretos da Guiné, só os distinguindo um tanto, por conseguinte, dizendo dos portugueses que são os cafres da Europa; uma condescendência fleumática, admito, a quem os ensinou a tomar chá.
Mesa de chá, Portugal, [s.d.].
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