Bonito, muito bonito. Dicção impecável, uma erudição admirável e uma eloquência que não pára de nos encantar.
Espantoso - ou talvez não, já que o Professor viveu alguns anos como Embaixador no Brasil e terá sido infuenciado pela respectiva linguagem, o que aliás acontece a todos os que por lá permanecem mais do que um ano e não são só os emigrantes com pouca ou nenhuma instrução, já que o mesmo sucedeu a uma prima minha (com formação superior) que após ano e meio a residir no Brasil quando regressou só falava com sotaque brasileiro, só o perdendo passados alguns meses... - foi o facto deste brilhante comunicador ao ter-se referido à sua "equipa de filmagens" por 'equipe' e repetiu o erro.
Este lapso de linguagem não aconteceu neste episódio mas num outro que vi há alguns dias através dos excelentes vídeos que por aqui vou revendo. Portanto, tratou-se de uma brasileirice utilizada por pura distracção. Note-se que o conhecimento da língua portuguesa pelo Professor H. Saraiva era total e o trato lexical absoluto.
No Brasil houve a adaptação do vocábulo francês ao seu léxico. Em Portugal não.
Mas atenção, há futebulistas, treinadores, engenheiros, arquitectos, jornalistas, políticos, primeiro ministro, comentadores, etc., pràticamente todos eles repetem este erro de linguagem... E NÃO DEVIAM. Maria
O substantivo equipa/equipe é galicismo muito recente. José Pedro Machado conjectura-lhe a entrada no português, sem certeza, no séc. XIX. A 1.ª ed. do Aulete, de 1881, é certo que o omite. O Cândido de Figueiredo, de 1913, já o inclui, mas aportuguesa-o estranhamente por equipo. Ou talvez não, já que o vocábulo francês équipe é masculino.
Eu, sem mais pesquisa, atrevo-me a crê-lo no português do séc. XX, com uso exponencial nos últimos 50 anos muito graças ao futebolês. Conjecturo daqui que, havendo nascido o prof. Hermano Saraiva em 1919, haja aprendido muito naturalmente a incipente forma «equipe», mais próxima do francês e, de certo, a mais comum na primeira metade do séc. XX. Cuido até que o aportuguesamento completo da forma só se haja vulgarizado de meados do séc. XX para cá, se não mais tarde, seguindo a regra geral do treslado dos galicismos femininos em «a» e os masculinos em «o» (v.g. cabine > cabina, controle > controlo ).
Do que os brasileiros fazem ou deixam de fazer no treslado de barbarismos para a sua linguagem nada digo.
Não deixa de ser um galicismo, melhor ou pior aportuguesado.
O prof. Hermano Saraiva dizia in-vâ-zão e bem, pois não acho razão para o «a» antetónico ser aberto. O prof. Hermano Saraiva também dizia, e muito bem, pâ-i-zá-gem (o trema faz falta ao português). Hoje ninguém no diz assim e todos dizem pái-zá-gem não separando as duas primeiras sílabas. E também dizia o prof. Saraiva despórto e Serra de Estrela, mas estes eram idiolectos… — Se bem que os da televisão também digam para aí amiúde, nomeadamente a Costa de Caparica; neste caso mais idiotia afectada que idiolecto, na minha humilde opinião.
Completamente d'acordo com tudo quanto escreveu. Nem podia ser doutro modo vindo de quem vem:)
Esqueci-me de acrescentar que o Professor Marcelo também já pronunciou mais do que vez 'equipe' em vez de "equipa", talvez por ter vivido algum tempo (pouco, creio) no Brasil e também sobretudo pelas visitas frequentes que tem feito àquele País por os seus filhos e netos lá viverem. Segundo me dizia a minha prima (que referi no comentário anterior) a absorção do sotaque brasileiro pelos portugueses é fortíssima mesmo que se não queira. Estranhamente o contrário não se verifica..., os brasileiros podem viver dezenas de anos em Portugal que nunca perdem o seu sotaque! Há qem diga que é uma questão de personalidade... Talvez.
Curiosamente aquando da eleição do Presidente um dos seus filhos foi entrevistado junto da multidão em frente ao Palácio de Belém e nas suas respostas não se detectou uma pitada de sotaque brasileiro. E tal teria sido perfeitamente natural dado os muitos anos que por lá tem vivido. Honra lhe seja. Maria
O sotaque brasileiro, pela vocalização mais sonora, é sempre mais audível. Todavia os ouvidos brasileiros notarão aportuguesamento aos seus compatriotas por cá que nos não soará a nós. É preciso estar imerso numa ou noutra linguagem.
Quanto ao «entertainer» de Belém, o seu valor para o idioma já ficou eloquentemente expresso quando se calou depois de criticar o acordo ortográfico e, antes, quando demonstrou o seu modo de exprimir-se em anglo-português… Ou não fosse ele de Cascais — «chic a valer!»
Que eu saiba ele nunca foi de Cascais! Há tempos ele disse que tinha resolvido ir viver para a casa que tinha sido dos pais e esta fica situada na Lapa... A menos que ele tenha vivido em Cascais antes desta.
Adoro essa sua expressão "chic a valer". A sério. :)Maria