Quarta-feira, 15 de Outubro de 2014

Portugal e o enxugo

 Drenagem é gallicismo, é novecentista. Ramalho usou-o certa vez...
 Referindo-se aos campos (e do mesmo modo, porque não, a cidades...) os nossos antigos -- incluindo alguns engenheiros do fontismo [melhor, da Regeneração] -- diziam enxugo por drenagem. No Ribatejo, terra alagadiça, recordar-se-hão por ventura de o ainda dizer em referindo-se ao reverso das cheias na leziria. Em redacções de jornaes ou na Camara Municipal do Intendente comprova-se hodiernamente que nada d'isso, nem pensar! Peor: nem com drenagem vamos lá. A cavalgadura que (diz-se) preside ao municipio, nem o modo conjunctivo dos verbos parece capaz de usar...

Segundo o socialista, «não haverá nenhum systema de drenagem que permittirá [i.é que permitta] evitar situações deste genero» (Antonio Costa: «Não existe solução para as cheias em Lisboa», in R.R., 14/X/2014 -- graphia adaptada.)

 Emfim, a ramalhal figura valeu-se da drenagem em 1888 (carta a Emilia de Castro) para referir o caso clinico de esvaziar um furúnculo ou algo assim... Sobra-nos porém d'aquelle Costa que, não havendo entupimento, se nos aggravará o caso com o problema dos vasos communicantes...
 Uma gaita, onde o enxugo irá parar!...

Innundações na Av. 24 de Julho, Lisboa (J. Benoliel, 1945)
Innundação, Av. 24 de Julho, 1945.
Judah Benoliel, in archivo photographico da C.M.L.

(Revisto ás sete e um quarto da tarde.)

Escrito com Bic Laranja às 11:50
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8 comentários:
De [s.n.] a 17 de Outubro de 2014
Essa do "haverá... que permitirá" está óptima. De facto não podia estar melhor...

Da inundação de 1957, não me recordo, era muito pequena. Mas a de 1967 (creio não me enganar no ano), isso ouvi falar e muito. Segundo me contavam posteriormente, em Odivelas, por exemplo, foi um verdadeiro horror. Casas senhoriais e outras mais modestas foram atingidas de tal modo que as águas terão chegado até meio das paredes dos salões e o mesmo terá acontecido aos pisos térreos de uma imensidade de edifícios e lojas. Tenho conhecimento inclusivé que num desses palacetes várias peças de mobiliário e quadros valiosos ficaram completamente estragados.
Maria
De Bic Laranja a 19 de Outubro de 2014
A desgraça de 67 foi natralmente culpa de Salazar, porque permitiu porem prédios de andares em leitos de cheia. Se tivesse proibido, não se livrava de lhe chamarem fascista. Assim foi fascista à mesma.
Mas em 67 não choveu só meia hora, como nestas últimas vezes na Rua das Pretas. Choveu mais e pela calada da noite; da longa noite para ser mais terrível...
Cumpts.
De [s.n.] a 20 de Outubro de 2014
Completamente d'acordo com a sua observação. Quanto ao que afirma sobre as inundações recentes, se pecou foi por defeito. Claro que eles, os desavergonhados responsáveis do presente, lá pensar, pensaram, mas vá lá, desta vez coibiram-se de proclamar aos quatro ventos que aquelas se verificaram por culpa exclusiva de Salazar. Todas as catástrofes passadas e futuras foram e serão por culpa Salazar. Felizmente Salazar tinha as costas largas.
Maria
De [s.n.] a 20 de Outubro de 2014
O vocábulo "inclusive" grafa-se sem acentuação tónica na última sílaba (fi-lo por distracção), embora fonèticamente se pronuncie como se a tivesse e nunca com a vogal "e" fechada como as meninas e os meninos das televisões, incluíndo as/os jornalistas do exterior e, mais incrìvelmente, os senhores doutores, engenheiros, arquitectos e etc., quando comentadores convidados, o façam sistemàticamente de modo errado.
Maria
De Bic Laranja a 20 de Outubro de 2014
Inclusivè pede acento grave, mas desde 45 que demos em poupar acentos.
Cumpts.
De [s.n.] a 21 de Outubro de 2014
Porquê acento grave?! Não há aqui contracções nem aglutinações de espécie alguma..., ou há?
Mas olhe que os dois dicionários que possuo da Porto Editora (5º. e 6º. volumes) em ambos o advérbio aparece sem o sinal gráfico, com a advertência porém de que deve pronunciar-se com o "e" aberto.

Todavia uma dúvida subsiste, caso a última vogal aberta exigisse de facto acento tónico (penso eu de que...:) então teria que levar forçosamente acento agudo. Ou não?
Maria
De Bic Laranja a 21 de Outubro de 2014
A regra geral é acento agudo para a tónica e acento grave para o timbre. Como no caso o acento na última vogal é de timbre, não de tonicidade... Mas em 1945 limitou-se o acento grave às subtónicas dos advérbios de modo e dos diminutivos e aumentativos e às contracções de certas proposições que refere. Por fim, em 73, somente no útimo caso.
Cumpts.
De Inspector Jaap a 30 de Outubro de 2014
Do alto da minha ignorância, eu pensava que a palavra era latina, donde, sempre a pronunciei com todas as vogais abertas; mas, ao que vejo, foi mesmo importada e assim sendo, se as palavras agudas são acentuadas quando terminam em «a», «e» e «o», como é neste caso? E, já agora, «curriculum»?
Obrigado.
cumpts

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