Quarta-feira, 29 de Outubro de 2025

Gonçalo Velho (Ser Marinheiro)

« Esta gravação data de 1935 [*], foi efectuada nos Estúdios Valentim de Carvalho, na Rua Nova de Almada, em Lisboa, e pertence à Face A do disco de 78 rotações editado pela Valentim de Carvalho com o selo da Columbia, a matriz de disco DL 99, a matriz de gravação ML 33, e a matriz de fonograma CP 693, disco este que foi dos primeiros a rodarem nos gramofones da Emissora Nacional, durante as suas primeiras emissões regulares, apresentadas por Áurea Rodrigues e Fernando Pessa.
« Neste disco, escutamos a grande Hermínia Silva, acompanhada à guitarra e à viola, na performance [no desempenho] de dois fados, que são precisamente Sou Miúda, e este grande êxito nacionalista da revista Festa Brava, em cena no Teatro Apolo em 1934, de seu nome O Gonçalo Velho:

 

 
Hermínia Silva, O Gonçalo Velho (Ser Marinheiro)
(Fado original da revista Festa Brava, de 1934)


Este navio, o Gonçalo
É pequenino, deixá-lo
Mas é valente e resiste
E p’ròs que ousam duvidar
Chega bem p’ra lhes mostrar
Que Portugal ‘inda existe

Um navio era preciso
P’ra a Armada tomar caminho
E ter uma esquadra enorme
E como se chama «aviso»
É p’ra avisar o povinho
De que a Marinha não dorme

Ser marinheiro
É ser bravo, é ser valente
É amar este cantinho
Que se aperta numa mão
Ser marinheiro
É trazer constantemente
Portugal todo inteirinho
Cá dentro do coração

Por já estar muito velhinha
A velha esquadra não prova
É dito já velho e relho
Para dar força à Marinha
Mas p’ra vir a esquadra nova
Lá foram buscar um velho

É mais uma fortaleza
Com que a Marinha de guerra
Vai doravante contar
E defender com nobreza
Este pedaço de terra
Que nos custou a ganhar

Ser marinheiro
É ser bravo, é ser valente
É amar este cantinho
Que se aperta numa mão
Ser marinheiro
É trazer constantemente
Portugal todo inteirinho
Cá dentro do coração

Portugal todo inteirinho
Cá dentro do coração


« Com música de Raul Ferrão e letra nacionalista de Amadeu do Vale, de seu título original «Ser Marinheiro», este fado teve o objectivo de assinalar a entrada [na] barra, [em] 1 de Abril de 1933, pela 1.ª vez, o Aviso de 2.ª Classe «Gonçalo Velho», o 1.º navio do Programa Magalhães Corrêa ao qual se seguiriam os «Gonçalves Zarco», «Afonso de Albuquerque» e «Bartolomeu Dias», os 5 contratorpedeiros, os 3 submarinos da 2.ª Esquadrilha, os Avisos «Pedro Nunes» e «João de Lisboa», as 5 lanchas de fiscalização de pesca e o navio-tanque «Sam Brás».
« Estreada na revista Festa Brava, levada a cena no Apolo, a então azougada rapariguinha de 20 anos que era então Hermínia emocionou toda a plateia com o seu travesti de marinheiro, envergado com imenso orgulho, cantando este fado com uma garra, uma emoção e um fervor patriótico impressionantes, expressando o seu amor pela Marinha duma maneira singela, que comoveu a Marinha de tal maneira, que este fado passou a ser considerado como o 1.º grande êxito de Hermínia depois da Lisboa Antiga e um dos hinos mais importantes da Marinha.
« Passado exaustivamente na Emissora Nacional, este registo de 1935 seria um dos maiores êxitos discográficos de Hermínia, que nunca mais deixaria de cantar este fado nos seus espectáculos ao vivo, actuações em serões para soldados da Emissora Nacional dedicados à Marinha, e actuações em espectáculos de beneficiência, onde foi recordista, tendo actuado em mais de 3 000 espectáculos que tiveram como objectivo ajudar construir e ajudar hospitais, centros de saúde, lares de idosos, escolas, associações de beneficiência e outros mais, os espectáculos onde Hermínia se sentia mais à vontade, porque não era paga, sentia menos o peso da obrigação e o coração cheio por estar a ajudar as pessoas com a sua participação.
« Depois do 25 de Abril, Hermínia voltaria a gravar este fado, com António Chainho e José Maria Nóbrega, num registo que suplantaria esta gravação original de 1935, reeditada em C.D. na compilação Hermínia Silva – Memórias do Fado, da Tradisom, em condições pouco favoráveis.
« O registo aqui presente foi gentilmente cedido pelo Arquivo Sonoro Digital do Museu do Fado, restaurado e remasterizado [i.é, melhorado] através da Inteligência Artificial [ou seja, com um programa de computador]. »

Miguel Vaquinhas,  24/X/25.

 


[*] o Sr. Vaquinhas não indica a fonte. No Discogs dão-lhe o ano de 1936.

 

Escrito com Bic Laranja às 00:01
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