Terça-feira, 18 de Novembro de 2014

História do séc. XVI...

 Quando o infante D. Luís foi por terra a Castela para passar com o Imperador Carlos Quinto, seu cunhado, à conquista de Tunes, levou consigo alguns fidalgos seus criados, que haviam de ir com ele na armada. E chegando à corte de Castela rogou a Álvaro Mendes de Vasconcelos, que então lá estava por embaixador, que lhos agasalhasse [i.é, que os hospedasse]; e o embaixador assim o fez.
 Andando já o infante para se embarcar e sabendo dos fidalgos os muitos regalos e bom tratamento que o embaixador lhes fizera, mandou-lhe a casa mil cruzados [= quatrocentos mil reais]; e ele [o embaixador] não os quis tomar e, perguntando-lhe o infante porque os não aceitara, respondeu-lhe:
 — Senhor, porque mos mandou Vossa Alteza ao despedir dos fidalgos que me mandou hospedar, como se eu fora estalajadeiro; que, se noutro tempo [noutra circunstância] me fizera mercê de dez cruzados, tomara-os.

José Hermano Saraiva (anot. e com.), Ditos Portugueses Dignos de Memória; História íntima do século XVI, 3ª ed., Mem Martins, Europa-América, 1997, p. 297 [805].

Cópias das Tapeçarias de Pastrana no Paço dos Duques de Bragança, Guimarães (in Nove séculos de cultura em Portugal).

Vá lá de acharmos hoje a nossa democrática fidalguia recusar paga por desonrosos trabalhos, vá...


(Imagem: sala das tapeçarias Pastrana no Paço dos Duques de Bragança, Guimarães, [outrora] in Nove Séculos de Cultura Portuguesa.)

Escrito com Bic Laranja às 19:20
Verbete | comentar
4 comentários:
De [s.n.] a 18 de Novembro de 2014
Que maravilha de Salão. Lindo de morrer.

Parabéns pela sua curiosíssima e oportuníssima observação quanto aos autênticos trastes que nos têm vindo a desgovernar - para não lhes chamar ladrões de colarinho azul, que é o que verdadeiramente são - desde há quatro décadas e que inacreditàvelmente desde então até hoje continuam a ter a desfaçatez de se auto-intitular democratas. Bela transcrição de um pedacinho de texto, esse, extraído de um dos excelentes livros do Prof. Hermano Saraiva, que eu tanto gostava de ouvir nos magníficos programas televisivos de sua autoria. Que saudades.
Maria
De Bic Laranja a 20 de Novembro de 2014
Obrigado.

Diàriamete o prof. Saraiva continua, no canal da memória. Para quem haja TV por cabo, bem entendido.

Das cópias das tapeçarias de Pastrana -- encomendadas por um governo do Estado Novo à mesma Espanha que no-las subtraiu (qual requintada bofetada de luva branca) -- interrogo-me se nesta porcaria abrileira se alguma vez alguém lembraria de tal. -- Que digo! Nem hão-de saber do que falo...

Cumpts.
De Inspector Jaap a 21 de Novembro de 2014
Mas é que não sabem mesmo, caro Bic ; esta cáfila, mesmo em bicos de pés, não consegue chegar aos saltos dos sapatos de gente honrada.
Cumpts
De [s.n.] a 22 de Novembro de 2014
Fui consultar as ligações que deixou e ainda me falta ler outras obtidas a partir destas.

Estava convencida que as famosas tapeçarias de Pastrana, cujas cópias, lindas de resto e supõe-se que reproduzidas com a fidelidade exigida, eram essas que aparecem na foto, isto é, as originais surripiadas por Espanha a Portugal e, presumi eu, entretanto devolvidas. Pelo que li afinal tal nunca chegou a acontecer!

Apesar de eu dedicar um enorme carinho à família De Alba por motivos de grande amizade, respeito e admiração, devo dizer porém e muita pena minha, que não tenho em grande conta aquele que foi o Grande Duque de Alba, Glorioso antepassado (e um dos seus maiores Heróis, como é considerado em Espanha e com toda a justiça) da recentemente falecida Duquesa, pois o surripianço dos preciosíssimos Painéis, para além de outros tesouros roubados, deu-se, se não estou em erro, aquando da Invasão Espanhola pelo primeiro dos Filipes, tendo à frente das suas tropas o intrépido Duque de Alba que levou esta guerra de vencida. Saques que no caso foram perpetrados pelos vencedores, como sempre acontece em todas as guerras. Ainda que os mesmos também aconteçam por parte de uma das facções beligerantes quando, num espaço temporal, se presume sair vencedora, vindo todavia mais tarde a ser a derrotada. Para os vencidos, do mal o menos, nem tudo ficou perdido.

Não esqueçamos os tesouros fabulosos que nos foram vergonhosamente roubados pelas tropas francesas aquando das três (e logo três!) Invasões Francesas e jamais devolvidos e no entanto quem saiu vitorioso de todas elas foram os portugueses.
Maria

Comentar

Novembro 2023

Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab
1
2
3
4
5
6
7
8
9
12
13
14
18
22
23
24
25
27
29
30

Visitante



Selo de garantia

pesquisar

Ligações

Adamastor (O)
Apartado 53
Bic Cristal
Blog[o] de Cheiros
Carmo e a Trindade (O)
Chove
Cidade Surpreendente (A)
Corta-Fitas(pub)
Dragoscópio
Eléctricos
Espectador Portuguez (O)
Estado Sentido
Eternas Saudades do Futuro
Fadocravo
Firefox contra o Acordo Ortográfico
Fugas do meu tinteiro
H Gasolim Ultramarino
Ilustração Portuguesa
Kruzes Kanhoto
Lisboa
Lisboa Actual
Lisboa de Antigamente (pub)
Lisboa Desaparecida
Menina Marota
Meu Bazar de Ideias
Paixão por Lisboa
Pena e Espada(pub)
Perspectivas(pub)
Planeta dos Macacos (O)
Pombalinho
Porta da Loja
Porto e não só (Do)
Portugal em Postais Antigos(pub)
Retalhos de Bem-Fica
Restos de Colecção
Rio das Maçãs(pub)
Ruas de Lisboa com Alguma História
Ruinarte(pub)
Santa Nostalgia
Terra das Vacas (Na)
Tradicionalista (O)
Ultramar

arquivo

Novembro 2023

Outubro 2023

Setembro 2023

Agosto 2023

Julho 2023

Junho 2023

Maio 2023

Abril 2023

Março 2023

Fevereiro 2023

Janeiro 2023

Dezembro 2022

Novembro 2022

Outubro 2022

Setembro 2022

Agosto 2022

Julho 2022

Junho 2022

Maio 2022

Abril 2022

Março 2022

Fevereiro 2022

Janeiro 2022

Dezembro 2021

Novembro 2021

Outubro 2021

Setembro 2021

Agosto 2021

Julho 2021

Junho 2021

Maio 2021

Abril 2021

Março 2021

Fevereiro 2021

Janeiro 2021

Dezembro 2020

Novembro 2020

Outubro 2020

Setembro 2020

Agosto 2020

Julho 2020

Junho 2020

Maio 2020

Abril 2020

Março 2020

Fevereiro 2020

Janeiro 2020

Dezembro 2019

Novembro 2019

Outubro 2019

Setembro 2019

Agosto 2019

Julho 2019

Junho 2019

Maio 2019

Abril 2019

Março 2019

Fevereiro 2019

Janeiro 2019

Dezembro 2018

Novembro 2018

Outubro 2018

Setembro 2018

Agosto 2018

Julho 2018

Junho 2018

Maio 2018

Abril 2018

Março 2018

Fevereiro 2018

Janeiro 2018

Dezembro 2017

Novembro 2017

Outubro 2017

Setembro 2017

Agosto 2017

Julho 2017

Junho 2017

Maio 2017

Abril 2017

Março 2017

Fevereiro 2017

Janeiro 2017

Dezembro 2016

Novembro 2016

Outubro 2016

Setembro 2016

Agosto 2016

Julho 2016

Junho 2016

Maio 2016

Abril 2016

Março 2016

Fevereiro 2016

Janeiro 2016

Dezembro 2015

Novembro 2015

Outubro 2015

Setembro 2015

Agosto 2015

Julho 2015

Junho 2015

Maio 2015

Abril 2015

Março 2015

Fevereiro 2015

Janeiro 2015

Dezembro 2014

Novembro 2014

Outubro 2014

Setembro 2014

Agosto 2014

Julho 2014

Junho 2014

Maio 2014

Abril 2014

Março 2014

Fevereiro 2014

Janeiro 2014

Dezembro 2013

Novembro 2013

Outubro 2013

Setembro 2013

Agosto 2013

Julho 2013

Junho 2013

Maio 2013

Abril 2013

Março 2013

Fevereiro 2013

Janeiro 2013

Dezembro 2012

Novembro 2012

Outubro 2012

Setembro 2012

Agosto 2012

Julho 2012

Junho 2012

Maio 2012

Abril 2012

Março 2012

Fevereiro 2012

Janeiro 2012

Dezembro 2011

Novembro 2011

Outubro 2011

Setembro 2011

Agosto 2011

Julho 2011

Junho 2011

Maio 2011

Abril 2011

Março 2011

Fevereiro 2011

Janeiro 2011

Dezembro 2010

Novembro 2010

Outubro 2010

Setembro 2010

Agosto 2010

Julho 2010

Junho 2010

Maio 2010

Abril 2010

Março 2010

Fevereiro 2010

Janeiro 2010

Dezembro 2009

Novembro 2009

Outubro 2009

Setembro 2009

Agosto 2009

Julho 2009

Junho 2009

Maio 2009

Abril 2009

Março 2009

Fevereiro 2009

Janeiro 2009

Dezembro 2008

Novembro 2008

Outubro 2008

Setembro 2008

Agosto 2008

Julho 2008

Junho 2008

Maio 2008

Abril 2008

Março 2008

Fevereiro 2008

Janeiro 2008

Dezembro 2007

Novembro 2007

Outubro 2007

Setembro 2007

Agosto 2007

Julho 2007

Junho 2007

Maio 2007

Abril 2007

Março 2007

Fevereiro 2007

Janeiro 2007

Dezembro 2006

Novembro 2006

Outubro 2006

Setembro 2006

Agosto 2006

Julho 2006

Junho 2006

Maio 2006

Abril 2006

Março 2006

Fevereiro 2006

Janeiro 2006

Dezembro 2005

Novembro 2005

Outubro 2005

Setembro 2005

Agosto 2005

Julho 2005

Junho 2005

Maio 2005

Abril 2005

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

____