Num tempo em que a linguagem da jornalice doutrinária promove a adopção de cães nos exactos termos do perfilho de crianças; — em que o detergente cerebral jornalístico anuncia para alívio geral dos povos que cães lançados a fugir dum canil por causa dum incêndio foram recolhidos temporàriamente em famílias de acolhimento (cf. R. Marinho, M. Cabrita, M. Carrasqueira, «Apelo gerou onda de solidariedade para encontrar animais do canil de Loures atingido pelas chamas, S.I.C., 11/VIII/15);
— em que um canídeo desgraçadamente achado num contentor, mas também condenado por padecer de leishmaniose canina se torna ràpidamente em jovem cão com continha bancária aberta a donativos salvadores quando a leismaniose é incurável nos cães e contagiosa para humanos...
Pois bem, parece-me que num tempo como este, de bichos assimilados a gente, o mais natural é dormir gente há anos ao relento como bichos nos jardins Constantino e de Arroios sem ecos telejornaleiros.
Ou que o homem mais condecorado em combate do exército português esteja em risco de ver penhorada a sua casa e seja omissa nos noticiários de referência a onda solidária e a conta de donativos em seu favor... (cfr. as notícias de Sérgio Vitorino, «Herói nacional arrisca-[se a] ficar sem casa», Correio da Manhã, 31/VII/2015 e de Humberto de Oliveira, «Marcelino da Mata — O dever de ajudar um Herói de Portugal», O Diabo, 31/VII/15). — Bem pode o nosso Ten.-Cor. Marcelino da Mata ficar ao relento como aqueloutros; o cão que acabará fatalmente abatido por doença incurável é que tadinho!... Ponham-lhe dinheiro na conta.
E de falar em exércitos e combates: na notícia duma macaqueação patriótica turística da batalha de Aljubarrota lá para Alcobaça ouvi o exército de João I tomou posição no local escolhido por Dom Nuno Álvares Pereira («Batalha de Aljubarrota recriada 630 anos depois», T.V.I. 24, 16/VIII/15); muito doutrinàriamente o Mestre de Avis é João I — sem Dom — e o Condestável (vá lá, vá lá!) é Dom Nuno Álvares Pereira.
Do que venho vendo, só digo que ser rei de Portugal deve hoje em dia ser tido como polìticamente muito incorrecto porque não merece Dom, nem ganhando batalhas nacionais tão calhadas ao tourisme e ao proscénio televisivo.
Já de ser-se cão...
Ao depois é só pôr o microfone ante um dos farsantes do recreio batalheiro e ouvi-lo dizer com a gravidade das grandes verdades: — foi aqui [em Aljubarrota] que nasceram os Descobrimentos. E foi aqui também que acabou a cavalaria.
Cavalidade, porém, é o que se vê.
Exposição de muares, P. Eduardo VII, [s.d.].
Alexandre Cunha, in archivo photographico da C.M.L.
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