O Natal já foi no ano passado e daqui nada vamos em 20 de Janeiro... Natal, prendas (ele é mais prendinhas), presentes...
Ora bem, de «prendas» e «presentes», ou de «presentes» por «prendas», por duas ou três vezes critiquei por aqui a moda moderna agora em voga de todos na TV dizerem «presentes». Alguém me todavia alertou da ligeireza de tal juízo e, com razão. As alfinetadas com que procurava furar o balão da modernidade televisiva chic a valer foram irreflectidas e guiadas, no caso, somente duma impressão particular de pouco ouvir dizer «presentes» dantes, em pequeno, até à moda das telegabrielas cá chegar.
E em medida, preconceito, também…
Empreendendo na questão, então, presente é dádiva; prenda é dom. Consultando ao depois a Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira aprendi que Camões, João de Barros e Frei Luís de Sousa abonam «presente» [1] justamente como dádiva, enquanto Fernão Mendes Pinto, na mesma época, abona «prenda» [2] como dom. Parece haver um uso clássico com aqueles sentidos distintos. Abonam o uso mais moderno de «prenda» como «presente» Rebelo da Silva e Júlio Brandão [3].
(Fascículo in Mercado Livre.)
[1] «Dá-lhe de ricas peças um presente / Que só pera este efeito já trazia», Camões, Lusíadas, I, 61; «Partindo o mouro com esta resposta, tornou logo com um presente de carneiros, galinhas, limões, laranjas e outras frutas da terra», João de Barros, Décadas,II, Liv. 7, cap. 7; «… visitando-o com mimos e presentes», Frei Luís de Sousa, A Vida do Arcebispo, I, cap. 6, p. 197.
[2] «Estes portugueses todos três eram homens honrados… e de mui boas partes, assi no esforço, como nas mais prendas de suas pessoas, Fernão Mendes Pinto, Peregrinação, cap. 80, p. 112.
[3] «Diante de Deus estamos unidos. Quero dar-lhe uma prenda que nos recorde a alegria triste deste dia», Rebelo da Silva, A Casa dos Fantasmas, cap. 14, p. 61; «Escolho quem me dê uma prenda mais rara, de mais proveito quando o Sol der 100 voltas…», Júlio Brandão, Perfis Suaves, p. 10.
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