Depois de 25 de Abril de 1974 era imperativo apagar a memória do período de maior prosperidade da História de Portugal e recriá-la, em nome da divina democracia e da santa liberdade, em tom carrregado e linguagem sinistra.
« Mas o Arquivo Salazar, transferido das caves de S. Bento (onde julgo que foi saqueado após o 25 de Abril) para a Biblioteca Nacional (onde creio estar devidamente instalado), continua defeso para os investigadores. Todas as consultas e extensas pesquisas que ali fiz, quando ainda em S. Bento, cessaram, pelo menos para mim, com o 25 de Abril — ainda que segundo parece esteja agora aberto estranhamente à pesquisa política, e apenas à pesquisa política, com objectivos que antecipadamente se confessam comprometidos e orientados num único sentido, e destinados a provar o que deliberadamente se quer provar, sem sujeição à contradita e à rectificação através de investigadores e historiadores.»
Franco Nogueira, Salazar, vol. VI, Civilização, Porto, 1985, p. XV.
A pesquisa política era a da Comissão do Livro Negro sobre o Regime Fascista, decerto. O objectivo antecipadamente confessado que o embaixador Franco Nogueira refere veladamente é ostensivo e orgulhoso no nome da coisa. O estilo de linguagem é oficial e é como desde 74 se veicula a História investigada por autoridades com chancela e certificados de Abril. O Arquivo Salazar passou entretanto à guarda da Torre do Tombo, mas mesmo agora, acessível a investigadores de geração mais recente, o que acaba saindo dos prelos não é famoso. A História foi mesmo virada do avesso e é como vai.
« E o segundo ponto é este. Quando comecei a a descrever períodos mais recentes, nos volumes IV e V, e a aludir à acção de homens ainda felizmente vivos, deparei com com reacções opostas. Uns teriam querido que eu simplesmente omitisse qualquer referência: sentem horror em que se documente que trabalharam ou que exerceram funções de grande relevo com Salazar. Outros teriam desejado que lhes fizesse alusão, e extensa, mas somente para sugerir que já naquela altura se opunham a Salazar, e que até foram vítimas deste, mesmo quando a documentação demonstra quanto eram seus devotados colaboradores [...]»
Id., ibid.
Há dias intrigava-se o José na Porta da Loja com o sumiço geral logo no dia 25 de Abril de 1974 da sociedade que compunha o Portugal do Estado Novo. Cuidei eu ter lá comentado ser o caso em tudo semelhante aos adesivos da I.ª República que desabrocharam em tamanha cópia no dia 6 de Outubro de 1910 que até os pergaminhos da véspera se tornaram republicanos. Os adesivos já não lembram, mas o caso com todos e cada um foi o mesmo: cuidado com os ferretes porque ai da minha rica vidinha!
Fotografia: Barragem de Cambambe, Angola, c. 1969. A. n/ ident., S.E.I.T., n.º 335627, cx. 448, env. 8.
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