23 comentários:
De [s.n.] a 2 de Novembro de 2014
Há qualquer coisa de estranho em determinadas 'novas' regras gamaticais que sub-reptìciamente vão sendo introduzidas no léxico português, 'regras' estas que venho ouvindo com cada vez com mais acuidade e isto desde há largo tempo, sobretudo nas televisões, que me deixam um tanto ou quanto perplexa, umas, outras totalmente estarrecida.

Começando por uma que nem sequer me incomoda grandemente, ainda assim vale a pena colocá-la aqui para obter a opinião de alguém perito na matéria e que sabe da poda:

Há uma senhora relativamente jovem e aliás simpática, que creio ser natural dos Açores ou que por lá vive e que, através de alguns convites para progamas televisivos variados, apareceu várias vezes a dar conselhos sobre a etiqueta à mesa e um ou outro sobre a língua portuguesa. Diz esta conselheira d'etiqueta que uma senhora deve agradecer o que quer que seja com um "obrigada" (terminação em vogal feminina) e um homem pelo contrário deve fazê-lo com um "obrigado" (terminação em vogal masculina)...
Com todo o respeito pelos saberes da senhora, não me parece correcta esta sua asserção. Não me lembro de alguma vez qualquer uma das professoras de português que tive e foram várias e excelentes, ter frisado este pormenor, que na minha modesta opinião é algo descabido.

Outra perplexidade, para dizer o mínimo. Ainda bem que falou na dona Edite Estrela. Esta criatura presunçosa ao máximo (tanto na maneira ridícula de falar como nas expressões) com a mania que é super inteligente, culta e sábia, aqui há uns bons anos, creio que na SIC e a propósito de uma dúvida (eu tinha entretanto criticado através de carta o título truncado do programa) de Mª. João Avilez (sim, com um só L, já que este nome provém de uma vilória espanhola cuja grafia contém um só L..., só por snobismo exacerbado lhe foi aposto um duplo L) sobre se o título estaria correcto, teve o desplante de enfatizar que devia dizer-se "vai haver mais conversas"!!! Mas, senhores, como é que uma ex-professora(?) diz uma coisa destas?! Então e qualquer oração em que haja um sujeito definido e um predicado concreto, não têm ambos que forçosamente concordar??? E segundo parece esta senhora Edite terá sido professora... Já agora, de quê?!

Senão vejamos: nesta oração o sujeito é "mais conversas" e se aqui o verbo Haver tem o valor de Existir então na composição da oração/título do programa tem obrigatòriamente de existir concordância entre ambos os elementos, caso contrário estaríamos a falar à brasileira. E disto já temos de sobejo.

Para nos certificaros de quão errada está a afirmação da senhora Edite, basta trocarmos os verbos, que aliás significam o mesmo, para podermos constatar o erro crasso em que incorre a primeira composição. Seria bonito escrevermos a frase deste modo: "Vai existir mais conversas"!!, ou ainda e trocando os termos da oração: Mais conversas vai existir"!! Muito lindo, não haja dúvidas...

O resto (como por exemplo nos discursos dos moderníssimos políticos, locutores, jornalistas, etc., embora haja uma excepção ou outra nos mais novos, honra lhes seja feita - a moda, que já se está a enraízar na oralidade e na escrita de um modo insustentável, é não se estabelecer concordância entre os termos das proposições. Neste particular só se salvam poucos escritores, um ou outro político e comentadores mais antigos, mas estes infelizmente são cada vez em menor número) fica para uma próxima oportunidade. Porque há mais e muito mais.
Maria

De Bic Laranja a 2 de Novembro de 2014
Obrigado, na verdade, tem flexão em género e em número. Mas não no aprendi na escola.
Edith Estrella é uma videirinha.
No mais, o simples é pensarmos se «vai [ele] haver mais conversas» não tem sujeito indeterminado. E assim «mais conversas» são complemento, não sujeito.
Há um texto «Ele há coisas» no pelourinho das Ciberdúvidas...
Cumpts. :)
De [s.n.] a 3 de Novembro de 2014
Peço desculpa mas não estou nadinha d'acordo com o que a dona Ana Martins escreve no Ciberdúvidas relativamente a uma série de erros lexicais e verbais e que a senhora pensa ou deduz ou imagina existirem na conjugação do verbo Haver (que diz ser auxiliar quando na maioria dos exemplos que cita, trata-se do verbo principal) seja ele principal ou auxiliar.

Esta senhora, calculo pela amostra, pertence à geração que se licenciou(?) na Independente, na Lusíada ou em quaquer outra Universidade da mesma safra. Aprenderam (e ensinam) o português com origem nos ditames saídos do M. da Educação, por sua vez obra dos professores que elaboram os programas escolares 'abaixo de cão' (peço desculpa pelo exemplo mas não me ocorre outro mais apropriado), que mais não são do que aqueles preconizados pelo dito Ministério desde há décadas e obrigatòriamente introduzidos no ensino... or else! Ensino à linda maneira americana, pois naturalmente, para valorizar os incultos e desvalorizar os cultos. A Professora Maria do Carmo Vieira que se tem batido incansàvelmente desde há vários anos contra os inacreditáveis TLEBS e outras excrescências do mesmo calibre, tem carradas de razão em tudo quanto tem afirmado de todas as vezes que tem ido às televisões debater sobre este tema.

Devo também dizer que não concordo com a sua divisão daquela oração. O "mais conversas" não é complemento directo mas sim sujeito. Repare, se a frase fosse escrita deste modo: "Vão existir (ou vão haver, é indiferente) mais conversas e mais tarde noutro edifício debates com perguntas e respostas". Assim teríamos que: sujeito "mais conversas"; predicado "vão existir"; complemento directo "debates"; complemento indirecto "com perguntas e respostas"; complemento circunstancial de tempo "mais tarde"; complemento circunstancial de lugar onde "noutro edifício". Só em proposições cujo sujeito é abstracto ou indefinido é que se torna obrigatório colocar o verbo/predicado na terceira pessoa do singular.

Mas é claro que a minha aprendizagem foi toda feita no tempo do 'faxismo' quando os professores não sabiam nada de nada do que ensinavam, davam erros de meia noite na escrita, falavam mal que se fartavam e passavam os alunos desde a primária à Universidade administrativamente e estes quando terminavam os cursos falavam e escreviam muito pior do que se tivessem tido de escolaridade a terceira classe de hoje, ou o terceiro ano como agora se diz.

Do programa da dona Edite não recordo o título, mas não me referia ao programa dela e sim à designação "Bem Falar e Bem Escrever", assim é que está correcta, inscrita num livro de leitura da primária. Este é um lema que nunca mais esqueci.
Maria
De Bic Laranja a 3 de Novembro de 2014
É solecismo mais e mais vulgar em cada dia, estimada Maria. Cuido que por hipercorrecção. Tal como com «há» por «havia» vaão rareando ouvidos comtemporâneos capazes de se arrepiar com a aberração sintáctica.

Nesta gramática agora do «haver» impessoal + plural, o regime e a política não metem prego nem estopa. Se dúvidas houvesse era ver aí, para as desfazer, o defensor da classe operária Jerónimo de Sousa ombreando com o licenciado Pedro Coelho (... não é o facto de poderem haver municípios).

O verbo «haver» e o verbo «existir» têm uso diferente; o primeiro, com sentido de «existir», usa-se de modo impessoal, logo na 3.ª pess. do sing. (v.g. há pessoas, há coisas, há conversas e não hão pessoas, &c., não é verdade?...) -- No mais, veja o que nos dizia Vasco Botelho de Amaral já em 1947: «Note-se igualmente que vão também para o singular os verbos que antecedem haver, tais como deixar, dever, começar, poder: deixa de haver festas, e não deixam de haver festas; deve haver boas-vontades, e não devem haver; começa a haver descontentes, mas não começam a haver descontentes; pode haver excepções, e não podem haver excepções”» (Glossário Crítico de Dificuldades do Idioma Português, Domingos Barreira, Porto, 1947, p. 574, apud «Verbo haver», in Assim Mesmo, 7/X/07).

Cumpts.

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