Diz-se com «p», hoje. Ainda em 1946 Joaquim Paço d'Arcos publicou «Tons Verdes em Fundo Escuro» onde lemos a páginas tantas «na obra dêsse corruto genial, conhecido, em todos os salões de Londres, pelo "homem dos cravos verdes".» E a José Hermano Saraiva ouvi diversas vezes dizer os versos d'Os Lusíadas aí expostos sem pronunciar o «p» da corrupção.
As consoantes etimológicas, quando escritas, ou se pronunciam através da abertura da vogal precedente (valor diacrítico), ou se escrevem sem mais por coerência gráfica com palavras da mesma família (tacto/intacto; tecto/tectónico; Egipto/egípcio, &c.).
E há casos em que a pronúncia oscila (espectador), que exige a manutenção daquelas consoantes.
A reforma de 45 foi a mais lógica e coerente para integrar as particularidades portuguesas e brasileiras e, quando o não parece, é ler o prof. Rebelo Gonçalves, que tudo explica e justifica. O mal é que ninguém o lê, a começar pelos fautores da asneira de 1990.
Cumpts.
De Filipe C. a 2 de Novembro de 2014
Estranho não se ler. Mas suponho que nos inícios se lesse também. Deve ter surgido aquando das modas de deixar de dizer "pês e cês". Egipto diz-se o P ainda em muitas zonas do país, apesar de no litoral predominar a versão /eʒi:'tu/ (e em parte de Coimbra também). Mas há antes da moda do c/p-dropping liam-se até consoantes que não existem no português há mais de cem anos. Vi documentos acerca de fonética com mais de 100 anos em que constatavam a desaparição dalgumas consoantes.
O Corpus documenta-o com e sem «p» do séc. XIV ao séc. XX. A forma sem «p» atesta não se dizer; o Aulete em 1881 comprova-o; a supressão gráfica em 1911 corrobora-o. A vulgarização do seu uso depois de 45 fez-se pronunciando o «p».
As provas de supressão de consoantes na oralidade que refere, onde se encontram?
Cumpts.
De Filipe C. a 4 de Novembro de 2014
No séc. XVI não tinha já? Não percebo, deve ter sido das pouquíssimas palavras que passou do latim para o galaico-português perdendo logo a letra C nessa posição. De facto é interessante. Eu li documentos acerca de fonética há uns anos, não faço ideia onde os encontrar agora mas, de facto, corrupto não estava entre quaisquer exemplos que eu lera anos atrás.
José Pedro Machado corrobora ausência do «p» no séc. XIV: «corruta» e «corruçom»... Que são as formas galegas de hoje...
A introdução das formas latinas por via erudita pode ter originado formas duplas, como «rotura» e «ruptura», mas o Aulete de 1881 não o corrobora.
Cumpts.
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