Peguei no vol. de el-rei D. Fernando da série dos reis de Portugal do Círculo e li três capítulos. Não peguei na crónica de Fernão Lopes da Livraria Civilização por menos trabalho. O português medieval encanta-me, mas justamente por ele dispersar-me-ia. O volumezeco de Rita Costa Gomes (prof.ª dr.ª) é de 2005, mais ligeiro; pareceu-me que havia de ir por ele mais a eito. Ou pensava eu...
Há décadas que as cousas modernas por cá tendem aos baldões. Sem espanto notei que a onomástica e os topónimos no livro daquela prof.ª da Universidade Nova lhe saíam meios desgarrados. Fernão Lopes é tanto como é, como vem em ser «o cronista Lopes». Aleatòriamente. Estilo hesitante da autora, portanto.
As personagens históricas ora vêm grafadas em português, ora não, embora a forma escolhida seja ao depois coerentemente continuada pela autora. Assim, D. João Manuel, grande de Castela e pai da rainha D.ª Constança Manuel — a que foi mulher do nosso rei D. Pedro —, é D. Juan Manuel. Mas D.ª Constança nunca é Constanza. Nem em solteira lá em Castela...
A filha do rei D. Pedro, o Cruel, de Leão e Castela não é Constanza nem Constança; é Costança, mas deve ser gralha.
Afonso XI de Castela não é Alfonso, mas a sua favorita é Leonor de Guzmán, não de Gusmão. Henrique de Trastâmara (Henrique II de Castela) também não é Enrique, valha-nos...
João de Gante aparece sempre à portuguesa, o que lhe fica bem, mas é duque de Lancastre em vez de Lencastre.
Inês — ou D.ª Inês — de Castro é «a Castro», não sei se pela tragédia se por desprezo... Sem porquê, sua irmã é Juana e não Joana de Castro.
Critérios.
Nos topónimos reparei que as terras castelhanas tendiam a vir em castelhano (Toro — onde Afonso XI teve prisioneira D.ª Constança Manuel antes de casar com o nosso D. Pedro I —, Ciudad Rodrigo...)
Cuidei descobrir aqui um certo padrão: o pendor descai no português, salvo se for terra de Castela. Admitem-se excepções.
Das «cidades prósperas» do «corredor europeu da Europa mais densamente povoada» [?!] como Bruges, Estrasburgo, Colónia, Basileia, Génova e Florença nada aponto ao uso destes topónimos consagrados. Estranha é a referência a «localidades estremenhas como Tomar, Abrantes, Leiria e Alenquer». Nem estremenhas no Ribatejo hão-de ser, incluída ou salva Leiria que não é lá...
Edições decentes de livros de História, em português e não mui antigas, são já doutro tempo, e eram doutro modo, enfim!... Cuido se lhe punha maior rigor, havia regra de seguir o nosso cânone e a onomástica portuguesa consagrada. Talvez os vocabulários, prontuários &c. se hajam entretanto tornado supérfluos ante o internacionalíssimo novo saber da Academia portuguesa. Vai daí tornarem-se raridade manuseada só por certos bichos do mato.
E ia em intermitências cogitando nisto através do 2.º ou do 3.º capítulo quando achei a rainha D.ª Beatriz de Castela, mãe de D. Fernando, «em estreita associação com a famosa D.ª Isabel de Aragão sua sogra». E adiante outra vez «D.ª Isabel de Aragão» (*).
Bem verá o benévolo leitor, a custo, a sogra; trata-se da rainha Santa Isabel, a do milagre das rosas, rainha da paz, mulher de el-rei D. Dinis.
Ora cá está outro padrão, deste não tenho dúvida: mil vezes falasse a autora na rainha Santa, mil vezes lhe omitiria a santidade, ainda que no-la ensine famosa e... sogra. É o padrão laico, republicano e socialista, o que vigora na Academia.
A pérfida rainha Leonor Teles e quási sempre dona, todavia.

Rita Costa Gomes, D. Fernando, 1.ª ed., Círculo de Leitores e Centro de Estudos dos Povos e Culturas de Expressão Portuguesa [ah, pois é Portuguesa, é!], 2005.
(*) A tirada completa é D. Beatriz tinha vivido, ela mesma, em estreita associação com a famosa D. Isabel de Aragão sua sogra, da qual parece ter continuado muitas iniciativas e até um certo estilo de intervenção política em situações conflituosas e é, nos sublinhados que lhe ponho, não um certo mas todo um estilo do discurso corrente contemporâneo. O do jornalismo das TV e dos jornais. Ora vede se estreita associação em iniciativas de intervenção política não soa belìssimamente nos telejornais, hem!?...
De [s.n.] a 29 de Agosto de 2015
Impressionante! Abalançar-se a escrever um livro abordando personagens históricas e depois cometer gaffes semânticas desta natureza?!... Terá esta senhora aprendido realmente História-História? E já agora, terá ela tido aulas de português logo após o 25 de Abril ou, se não, pelo menos durante os últimos 30 anos? Pela amostra é o que se deduz...
Aproveito para deixar aqui algumas pérolas fonéticas, fruto de uma dicção péssima da já mencionada Conceição Queiroz, algo que estou para fazer desde há vários dias.
Senão veja isto:
- gâzoleo (pronunciou com o "a" e o "o" seguinte bem fechados...)
- continuar ? ?companhar (o artigo def. feminino "a" e o "a" inicial de acompanhar... sumiram-se por artes mágicas)
- para ?gradecer (o "a" inicial de agradecer foi engolido...)
- marcar ? actualidade (o artigo definido feminino singular ficou pelo caminho...
- toda ? informação (o artigo "a" não teve direito a estar presente na locução)
Será com este modo de papaguear as notícias que se respeitam os telespectadores? Não há por lá directores de informação que saibam como se pronuncia correctamente o português, sobretudo por jornalistas que deveriam ter esse cuidado já que falam para milhões de pessoas? Ou dar-se-á o caso desses directores cometerem os mesmos erros fonéticos? Deve ser isso...
Maria
É falar à preta. Só de o apontar qualquer um é racista. E ai se dizemos «preta».
Cumpts.
De [s.n.] a 30 de Agosto de 2015
Bem, ela preta-preta não é, dado o tom clarinho da pele. É sim d'origem africana ou, se se preferir, d'origem negra. O que não significa ser-se incorrecto ou insultuoso ao afirmá-lo, antes pelo contrário, está-se simplesmente a constatar um facto evidente.
Sem querer ofender, não é meu intuito, sugiro a esta rapariga uma de duas coisas: ou corrige a pronuncia e a fonética do português e em simultâneo cuida a dicção, não omitindo as sílabas; ou tem uma boa hipótese de pôr à prova as suas capacidades jornalísticas sem que se lhe sejam apontados erros fonéticos ou outros. Tente ir trabalhar para uma das televisões ou de Angola ou de Moçambique, pois é de crer que a jornalistas competentes não lhes seja recusado o ingresso nos respectivos quadros. Atributos profissionais aparentemente não lhe faltam, o que já é meio caminho andado. Além de que tratar-se-ia por certo de entrada imediata, pois não é de supor haver em tão recentes televisões jornalistas em excesso.
Ah, já me esquecia. Caso fique por cá e continue a aparecer nos écrans/pantalhas, uma vez os erros supra-citados corrigidos, por favor estique o cabelo ou corte-o muito curtinho. É que, repare, não está a interpretar um papel numa novela (emulando aquela rapariga que aparece com uma carapinha rústica numa novela da TVI, se este fosse o caso ainda vá que não vá) mas sim a ler notícias para milhões de pessoas, o que, note bem (ela e todas as/os colegas), requer sobriedade, bom aspecto geral ou seja boa apresentação, a máxima discrição no modo de falar e de expôr as notícias, ter um cuidado especial no trajar e acima de tudo uma locução impecável. Quanto a expressões faciais esquisitas, esgares despropositados e gesticulações extemporâneas, rigorosamente nenhumas.
Dir-se-á que sou exigente. Pois sou, mas primeiro sou comigo para depois poder ser com os outros. E orgulho-me de possuir essas qualidades, porque o são de facto. Pois foi justamente devido a elas que fui seleccionada, dentre muitas outras candidatas, para quatro dos empregos fixos a que concorri sendo já adulta, sem contar com os vários outros que desempenhei enquanto estudante e em todos eles a característica salientada pelos meus patrões (como os chefes de hoje se designavam antes do 25/4) para ter sido eu a escolhida foi ser rigorosa, exigente e perfeccionista no desempenho das tarefas que me eram atribuídas. Devo frisar - isto, para que se tenha a noção exacta da importância que antigamente os empregadores davam às qualidades tidas por indispensáveis para contratar funcionários (sendo a boa apresentação uma das mais importantes) as mesmas que hoje vergonhosamente são totalmente descuradas, mas também não admira tendo em conta o bando corrupto que comanda as sociedades política e civil - que em dois dos meus empregos temporários, ainda enquanto estudante, o tom bonito da minha voz e a minha dicção perfeita (sem falsa modéstia, pois eram estes os elogios recebidos) já que estas eram as qualidades requeridas para aquele trabalho específico, foram os atributos essenciais para ter sido eu a contratada.
Maria
De [s.n.] a 30 de Agosto de 2015
Leia-se "pronúncia" com acento tónico, naturalmente.
Maria
Não iria tão longe como mandá-la para África. Naturalmente até será de cá.
A dicção valia para a rádio e televisão de antigamente. Agora alardeia-se a origem (e até os maus costumes) com... orgulho... E a apresentação, claro, vai com as modas.
A moça fala à maneira do seu bairro. Dificilmente se perde. Uns falam como alfacinhas de gema, outros como tripeiros disfarçados. Já faltou mais para aparecer aí brasileiro num telejornal. Ou um hipster.
Cumpts.
De [s.n.] a 31 de Agosto de 2015
A minha ideia não era enviá-la para África, longe disso. O que não quer dizer que se fosse para lá perdesse algo com a decisão, antes, seria seguramente bem acolhida pois nota-se que tem capacidade para exercer a profissão e de certeza qualidades inerentes à mesma. Não é verdade que lhe foi atribuído há uns tempos um prémio qualquer por uma reportagem ou documentário de sua autoria, por iniciativa de um político ou de um administrador ou director da televisão em que trabalha?
O que ela necessita é de alguém da sua entourage que saiba da poda ou, caso não exista tal pessoa, de alguém do departamento de estilismo(?) ou guarda-roupa(?) da empresa - que parece já existir em todas as televisões, tal como existem cabeleireiras - precisamente para aconselhar as/os apresentadoras/es, locutoras/es, etc., no modo de se vestirem e pentearem, já que uma apresentação extremamente cuidada, além de um vocabulário irrepreensível e o máximo rigor linguístico, é o mínimo que se exige às pessoas que fazem desta profissão o seu modo de vida. Quanto mais não seja, por respeito para com os telespectadores.
Afinal de contas são estes quem indirectamente lhes paga os ordenados.
Maria
Ando a treslê-la, peço desculpa.
Compreendo o que diz. Tem razão na falta de rigor ou de cânone na apresentação.
Mas é como as modas vão. Pedir mera formalidade convencional é hoje tido por extravagante. Vivemos num tempo às avessas. O desnorte faz escola. De modo que...
Valha-nos o desabafo. Mais que não seja por desfatio da constante palermice.
Cumpts.
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